quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
publicidadepublicidade

Insatisfação na caserna com o ajuste fiscal

Lula recebe no Alvorada o ministro da Defesa e os três comandantes militares para ouvir queixas sobre pacote de corte de gastos. A idade mínima de 55 anos para deixar a ativa é um dos pontos mais criticados

Os desafios de ser mãe e mulher na periferia do Distrito Federal

Além das mulheres terem maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho, ainda ganham menos. No Distrito Federal, 36,1% dos chefes de família são mulheres. Entre aquelas que têm filhos, 21,6% vivem em arranjo monoparental

Ser mulher e mãe é um desafio duplo e constante, não só pelas missões diárias relativas à maternidade e às questões de gênero, mas as estatísticas também evidenciam uma nítida desvantagem feminina dentro do mercado de trabalho. A última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD), realizada pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPE-DF) em 2021, mostra que, a capital do país, 580.440 mulheres de 10 anos ou mais são mães. Destas, 125.150 vivem em arranjo monoparental feminino, isto é, 21,6% das mães do DF vivem com os filhos e sem o cônjuge ou companheiro. Especialista ouvida pelo Correio explica que as famílias chefiadas por mulheres acabam sendo mais vulneráveis pois, além das mulheres ganharem menos que os homens, elas ainda são responsáveis pelas tarefas domésticas e cuidados com os filhos.

A última Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em 2022, traz outro recorte relevante que mostra uma realidade desafiadora para as mulheres. Segundo a pesquisa, elas representam 36,1% dos trabalhadores que são chefes de família. Ainda segundo a PED, a renda média das mulheres trabalhadoras em Brasília é de R$ 2.964,00, o que corresponde a 77,3% da renda dos homens.

Das mães de Brasília, 18.239 vivem no Sol Nascente. A cabeleireira aposentada Lucilene Ferreira, 56 anos, moradora daquela região, é um exemplo de mãe que criou quatro filhos sozinha sem ajuda de cônjuges ou familiares. Os filhos de Lucilene estão adultos, mas um deles tem um bebê recém-nascido e ela acolheu em casa, pois o jovem e a nora moravam em um barraco com uma estrutura precária para criar um bebê. O filho trabalha em uma lanchonete e a nora está desempregada. Lucilene recebe Bolsa Família. “Para mim, ela é um exemplo e uma inspiração de mãe”, conta Thalita Paulino dos Santos, 18 anos, nora de Lucilene. Thalita estudava pedagogia e teve que parar a faculdade quando engravidou. Além disso, um desentendimento com os pais fez com que ela fosse morar com a sogra, Lucilene. “Eu ainda sonho em ser pedagoga e trabalhar com educação infantil. Quero me especializar em educação para crianças especiais, surdas e mudas”, declara Thalita.

Tuane Souza, 33 anos, é um exemplo de mãe que é chefe do lar. Moradora do Areal, ela trabalha como técnica de enfermagem e tem a guarda compartilhada dos três filhos com o ex-marido. Para facilitar o dia a dia, Tuane ensinou tarefas domésticas aos filhos Bruna, 11 anos, Brenda, 8, e Carlos, 7. Eles têm uma escala de revezamento das funções dentro de casa. “A parte mais desafiadora é encontrar alguém para ficar com eles enquanto eu trabalho. Às vezes preciso fazer hora extra, ou para ter um dinheiro a mais, ou para tirar folga e ter tempo livre para ficar com eles”, desabafa Tuane.

Cleidiane Mora da Costa, 41 anos, é um exemplo de mãe que é chefe de família e vive em arranjo familiar monoparental mesmo sem trabalhar. Cleidiane mora no Sol Nascente com os filhos Brenda, 23, Bruno, 13, Emily, 5, e Bárbara, 2. Cleidiane sustenta os filhos com o auxílio que recebe mensalmente do governo, o Benefício de Prestação Continuada (BPC). O BPC é fornecido para idosos e deficientes e Cleidiane recebe pois o filho Bruno tem paralisia cerebral. “Eu pedi o Bolsa Família, mas foi negado, uma vez que já recebo o BPC”, explicou ela. “Minha maior dificuldade é não poder trabalhar. Queria arrumar minha casa, ter dinheiro para pagar um pedreiro e colocar o piso na minha casa. O dinheiro não sobra, só dá para o essencial”, comentou Cleidiane. A filha Brenda trabalha como manicure e ajuda no pagamento das despesas, mas, segundo elas, o dinheiro é insuficiente para tudo que gostariam de realizar.

A cozinheira Luciane Carvalho da Silva, 33 anos, também mora no Sol Nascente e cria as filhas com a renda conquistada graças ao ofício de cozinhar para a creche do Centro Espírita O Consolador. Mãe de Ludmilla, 10 anos, e de Glenda Vitória, 14, Luciane veio de Tocantins para tentar a vida em Brasília e diz que não quer mais sair da capital do país. “O meu maior desafio foi a infância delas. Nunca tive muita ajuda e tive muito medo. Hoje, tenho mais segurança e autoconfiança”, afirmou a cozinheira. Luciane conta com a pensão do pai das filhas para ajudar financeiramente na criação delas. “Tenho também o apoio do pessoal aqui do centro, onde trabalho”, acrescentou Luciane.

Arlete Corrêa Dias, 37 anos, é mãe de cinco filhos e vive com o marido, José Antônio de Souza, 67. Ela conta que o desafio também é grande, pois o marido sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e teve que se aposentar do trabalho de pedreiro. A família vive da aposentadoria e do auxílio do Bolsa Família. “Eu trabalhava como faxineira, mas, quando meus filhos nasceram, eu tive que ficar em casa cuidando deles”, relata Arlete. “Minha maior preocupação é com a educação, o comportamento, ensinar a respeitar os outros e incentivá-los a pensar no futuro”, aponta. “Tento colocar meus filhos na maioria dos cursos que posso. Por aqui, tem vários projetos sociais que oferecem cursos gratuitos de balé e artes. Procuro ocupá-los para que eles não fiquem na rua”, finalizou a dona de casa.

A supervisora do Dieese no DF e uma das responsáveis pela PED, Mariel Lopes, observou que as famílias chefiadas por mulheres acabam sendo mais vulneráveis. “O que vemos é que as mulheres têm mais dificuldades de inserção no mercado de trabalho (taxa de desemprego maior, salários mais baixos), e mesmo assim são responsáveis por mais de 30% das famílias do DF, mesmo quando elas não estão inseridas na população economicamente ativa”, analisou Mariel. “Para as mulheres responsáveis pelos domicílios, a situação demanda ainda mais atenção, pois essas, muitas vezes, são responsáveis pelos cuidados primários com os filhos ou outras pessoas que residem na sua casa, além de ter que responder prioritariamente pela renda das famílias em que elas são as chefes”, concluiu.

Empreendedorismo

Com o objetivo de diminuir a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho, a Secretaria de Estado da Mulher do Distrito Federal, em parceria com a Secretaria de Estado do Trabalho, criou o espaço Empreende Mais Mulher, que tem como objetivo criar oportunidades, tirar as mulheres da situação de vulnerabilidade e promover a autonomia econômica.

Com a proposta de resgatar a autoestima e fortalecer o empoderamento feminino por meio da capacitação profissional e da autonomia econômica, o Empreende Mais Mulher foi criado em 2019, disponibilizando um espaço privilegiado de acesso aos projetos e programas de capacitação. O local oferece acolhimento e acompanhamento psicossocial, elaboração de um plano personalizado e o encaminhamento para cursos de capacitação presencial e on-line, além de mentoria para o empreendedorismo e para o alcance de maior espaço no mercado de trabalho.

A Secretária de Estado do Trabalho firmou parceria com a Secretária de Estado da Mulher e disponibilizou uma área para instalação do equipamento, na Agência do Trabalhador de Taguatinga. Em junho do 2021, a Casa da Mulher Brasileira de Ceilândia também passou a abrigar o projeto.

Por Mila Ferreira do Correio Braziliense

Foto: Mariana Lins / Reprodução Correio Braziliense

Posts relacionados