Gloria Pires e Maisa Silva se encontram pela primeira vez nas telas de cinema em uma comédia do diretor Hsu Chien, que tem uma lista extensa de filmes no currículo – como Quem Vai Ficar com Mário? e Me Tira da Mira. No cinema desde quinta, 9, Desapega! é baseado na vida do cineasta, que se declara consumista compulsivo.
Em entrevista coletiva do filme da qual o Estadão participou, Chien revela que coleciona bonecos, tem diversas fitas em VHS e até relembra que não se controlou na pandemia da covid-19 ao ver uma promoção de três tênis da Adidas – que, pelo jeito, eram produtos falsificados. A própria situação o inspirou a criar uma obra sobre o tema. Para isso, chamou Leandro Matos (de Divã a 2 e Minha Família Perfeita) para cuidar do roteiro, que inclui Gloria Pires, Bruna Boeing, Victor Michels e Tiago Lima Cunha. A equipe adaptou a história de Chien em uma relação entre mãe e filha.
Mesmo fazendo o público rir em diversas cenas, Desapega! desperta uma espécie de autorreflexão como um processo terapêutico. Para o papel principal, Chien convida Gloria Pires para viver Rita, a mãe de Duda (Maisa Silva). Na história, ela é uma acumuladora assumida e “personal organizer” (profissional especializada em organizar ambientes) após aprender a controlar sua compulsão por compra.
O filme também passa outro recado, que é sobre a importância de uma rede de apoio. Isso é visto no coletivo da protagonista com outros acumuladores, com quem faz reuniões para ajudar no controle do consumismo deles; com um novo amor, Otávio, vivido por Marcos Pasquim; e com Duda.
ENGAJADA
Gloria Pires é, de fato, a escolha perfeita para o papel. Não só pelas décadas de carreira, mas por ser declaradamente engajada em sustentabilidade. Prova disso é a sua empresa, Bemglô, de produtos sustentáveis.
Ao Estadão, a atriz conta como escolhe seus trabalhos. Ela acha fundamental que a obra transmita mensagens e propósitos nos quais acredite. E participar do roteiro e da produção de filmes a ajuda a sentir segurança com o trabalho que entrega ao público.
“A minha trajetória como atriz é bem estranha. Levei muito tempo, muito tempo mesmo, para me divertir fazendo. Era sempre muito doído, problemático, sofrido, porque não tinha confiança em mim. Era uma superação a cada trabalho, sabe? Comecei na televisão e via televisão… A gente trabalha sempre com quatro câmeras, então eu tinha uma sensação de que estava desamparada. Era muito sofrido o processo todo.”
Atuar como diretora, produtora e roteirista é um grande passo para Gloria. Ela diz que sofria uma espécie de síndrome de impostora – acreditava não ser competente para os cargos que ocupa.
“Hoje, poder estar do outro lado, escolhendo de que forma participar como atriz, como produtora e como diretora é um grande passo para mim, sabe? De uma certa forma, isso me trouxe conforto e segurança. Algo como ‘eu sei onde estou pisando’”, completou.
Outro acerto foi Maisa como Duda, a filha de Rita. O papel mostrou como a atriz de 20 anos, que trabalha desde os 3, continua crescendo nas telonas. A personagem se difere levemente de outros projetos da artista, como De Volta aos 15, Carrossel e Ela Disse, Ele Disse, por interpretar uma aspirante a fotógrafa e futura universitária.
Para além das próprias aspirações, Duda aprende a lidar com as próprias dificuldades ao longo do filme. Uma delas acontece quando Rita se descontrola e tem uma crise de compulsão após a filha revelar que estudará em Chicago, nos Estados Unidos. A estudante fica enfurecida e se questiona se deve mudar para o exterior – ela teme que a matriarca não consiga se cuidar durante a sua ausência.
Filha única, a personagem de Maisa parece sentir-se só e responsável pelo bem-estar da mãe – na história, o pai de Duda morreu. A atriz, no entanto, analisa a relação das duas de outra forma. Na visão dela, mãe e filha representam a realidade de muitas famílias brasileiras. “Às vezes um cuida, às vezes o outro. Então, a Duda também se sente responsável pela mãe. E a Rita cumpre o papel de mãe maravilhosamente bem. Mas tem essa questão de ela saber da fraqueza dela e ter de segurar todo mundo ali. Acho que elas dividem isso de uma forma muito bonita”, pontua Maísa.
Estadão Conteúdo
Por Redação do Jornal de Brasília
Foto: Reprodução Jornal de Brasília