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Tradição em Olhos d’Água, Feira do Troca chega a 100 edições

A centésima edição da Feira do Troca, um patrimônio cultural do distrito de...

A centésima edição da Feira do Troca, um patrimônio cultural do distrito de Olhos d’Água, ocorre neste fim de semana, na Praça Santo Antônio, em Alexânia (GO), a cerca de 100km de Brasília. A feira, marcada por um espírito único de comunidade e troca solidária, atrai visitantes de diversos cantos do país e celebra a tradição da “gambira” — prática de trocar vestuário e objetos por artesanato e produtos locais, consolidando-se como um encontro vibrante entre criatividade e cultura popular.

Durante os três dias de evento, o público pode desfrutar de uma exposição rica e diversificada de artesanato, antiguidades, alimentos e produtos da agricultura familiar, além de uma programação cultural intensa, com apresentações musicais, teatro, danças tradicionais e contação de histórias.

Homenageada

Nesta edição especial, a grande homenageada será Laís Aderne, professora e arte-educadora, idealizadora da feira em 1974. Mineira de Diamantina e docente da Universidade de Brasília (UnB) à época, ela viu em Olhos d’Água um espaço repleto de saberes tradicionais e expressões culturais que mereciam não apenas ser preservados, mas celebrados.

Foi seu olhar sensível e seu trabalho comprometido com a arte-educação que permitiram identificar os mestres e mestras artesãos da comunidade, resgatar técnicas ancestrais e criar um espaço para que a produção artesanal local ganhasse valor e visibilidade. Laís faleceu em 2007, mas seu legado permanece vivo em cada detalhe da feira e na memória afetiva de quem a conheceu.

A irmã da homenageada, Sílvia Aderne, relembra com emoção o impacto que Laís teve na vida da comunidade. “Olhos d’Água foi a paixão da minha irmã, a grande paixão da vida dela. Aqui, ela escolheu realizar tudo o que acreditava sobre o poder transformador da arte e do coletivo. Ela se envolveu profundamente com as pessoas, valorizou os saberes locais e ajudou os artesãos a entenderem o valor do seu próprio trabalho”, relata.

Sílvia conta que a feira nasceu de uma necessidade urgente da população. “Naquela época, havia pouca oferta de trabalho. As pessoas queriam ganhar dinheiro, mas não tinham como. Por outro lado, o que não faltava aqui era talento e arte. Laís foi essa ponte: ela reconheceu a riqueza artística de Olhos d’Água e ajudou a comunidade a reconhecê-la também”, explica.

Inspirada pela prática do escambo, tão comum nas zonas rurais, Laís estruturou a primeira edição da feira como um espaço de trocas reais, não apenas de objetos, mas de histórias, afetos e identidade. “Ela sabia que o escambo já existia por aqui, onde se trocava galinha por porco, milho por feijão. Ela mergulhou nesse universo e orquestrou o primeiro encontro, onde visitantes podiam trocar roupas, sapatos e utensílios domésticos por criações autênticas da comunidade, do artesanato aos produtos rurais”, relembra Sílvia. “Nascia ali um movimento que fortalecia a economia local e, mais do que isso, reafirmava o orgulho de ser daqui.”

A prática do escambo ou “gambira”, como é carinhosamente chamada pelos moradores, é parte viva da rotina da comunidade. Trocas baseadas na necessidade e no respeito mútuo, sem a intermediação do dinheiro, revelam um modo de vida mais humano, solidário e sustentável. Laís, com sua visão sensível, soube unir essa tradição à força do artesanato local, criando uma experiência única que atravessa gerações.

Com forte apelo cultural, a feira também é palco para apresentações de catira, moda de viola, mamulengo, contação de causos e shows de artistas locais. Essa diversidade transforma Olhos d’Água, carinhosamente chamado de “Zoim”, em um ponto de encontro intercultural, modelo de turismo sustentável e gestão comunitária baseada em experiências autênticas.

Legado

Além da programação artística e das trocas, a Associação Comunitária de Olhos d’Água (ACORDE) promove ações de valorização da cultura local. Entre elas, está o Memorial Olhos d’Água, espaço museológico inaugurado em 2017 por meio de um Termo de Cooperação Técnica entre a Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal, a Prefeitura de Alexânia (GO) e parceiros como o Museu do Cerrado.

O Memorial guarda preciosidades da história local, desde os primeiros moradores até os dias atuais, com acervos de fotografias, vídeos, objetos e documentos que preservam os saberes e fazeres do distrito. O espaço abriga, ainda, uma sala dedicada especialmente a Laís Aderne, reconhecendo sua contribuição pioneira para a integração entre arte, cultura e meio ambiente.

Programação

07/06- Sábado 

17h – Nave Louca 

19h -Intervalo (Missa)

20h30 – Braak Bone 

22h30- Serenissima 

00h-Tripop

08/06- Domingo 

7h- Mel da Lampina 

9h Fenanda Show 

10h30- Brizza 

12h- Sambolhas 

14h- Jam Groover 

16h- Encerramento

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense      

Foto: Paulo Henrique Faustino

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