O inverno começou oficialmente sexta (20). Com a queda nas temperaturas, o comércio de roupas está aquecido. Casacos de lã, meias grossas, luvas forradas e conjuntos infantis ganham lugar nas vitrines. Nas lojas de rua, shoppings e em locais como Feira dos Goianos, Taguatinga Norte e banquinhas do Setor Comercial Sul, comerciantes prepararam-se com antecedência para dar conta do aumento na demanda.
Segundo o Sindicato do Comércio Varejista do DF, as vendas de agasalhos cresceram 11% este ano, aumento de 4% em relação ao mesmo período de 2024. Cobertores, meias de lã, luvas, gorros e bonés são os produtos mais procurados.
Para o presidente do Sindivarejista-DF, Sebastião Abritta, o aumento nas vendas tem dois motivos: frio intenso e consumidor disposto a gastar. “As temperaturas caíram muito, e mais cedo este ano. Como vivemos um momento de pleno emprego no DF, e a população quitou despesas sazonais, como IPVA e material escolar, isso libera renda para outras compras”, afirmou ele, destacando a importância do parcelamento. “A venda no cartão de crédito é fundamental. Sem isso, o comércio não teria essa pujança.”
De acordo com Abritta, os lojistas se prepararam com antecedência, prevendo o aumento da demanda. “As fábricas investiram em novas coleções e o comércio está bem abastecido, com diversidade de modelos e preços acessíveis”, explicou. Para as próximas semanas, a expectativa é de estabilidade ou de crescimento, impulsionado não apenas pelo frio, mas também pelas festas juninas. “Com a tradição que temos nas escolas, clubes e igrejas, e a temperatura mais baixa, o consumidor busca roupas adequadas para participar. Isso também aquece a economia”, disse.
Planejamento
Para atender aos clientes, o planejamento começa cedo. Vanda Nogueira, dona de uma loja de roupas infantis e juvenis, conta que as compras para o inverno são feitas com meses de antecedência. “Pelo menos três meses antes, senão perdemos a temporada”, ensina. Casacos e calças lideram as vendas nos dias mais frios, mas toucas, meias e luvas também entram na lista. “É o que mais sai. As mães correm atrás logo que o frio começa”, contou. Segundo ela, o aumento nas vendas neste período pode superar as das festas de fim de ano. “Às vezes, em junho a gente vende melhor do que em dezembro. Estamos torcendo para ser assim em 2025.”
Gleuton Lima, 39, vendedor especializado em jeans, também se preparou com antecedência. “Começamos a comprar em fevereiro, pensando em deixar o estoque pronto. Quando o frio chega, tem que estar tudo em ordem”, comentou. Segundo ele, as jaquetas jeans, as de couro sintético e os moletons são os itens mais procurados. “Neste período, as vendas aumentam cerca de 60% em relação ao restante do ano”, calculou.
Para algumas lojas, a estratégia é adaptar o estoque e diversificar a oferta. “A gente fabrica jeans, mas trabalha com tudo, desde social, conjuntos, camisas, e, nesta época, também com tricô”, lembrou Maria Bernadete, 44, que atua no comércio há 22 anos. Ao lado da filha Emilly Medeiros, 20, ela organiza a vitrine com casacos de lã e calças de tecido grosso.
“O tricô é mais elegante, quentinho e confortável. Começamos a nos preparar dois meses antes do inverno”, ressaltou Bernadete, acrescentando que a procura cresce entre maio e julho, mas a intensidade das vendas varia conforme o ano e a força do frio. “Tem ano que é muito, tem ano que nem tanto. Depende do clima. Mas o que mais sai é calça e casaco”, revelou.
Em uma loja de tricôs, Antônio da Silva, 62, explica que vende as peças durante todo o ano, mas que no frio a procura aumenta. “Torcemos para o frio vir com força”, brincou ele. Silva comemora o crescimento de 50% nas vendas em comparação a abril e maio. “A expectativa está boa para junho e julho”, relatou. Para ele, o sucesso do tricô está na combinação entre conforto, preço justo e durabilidade. “Não é só bonito. É feito para durar e esquenta de verdade”, garantiu.
Regina Amélia, 55, comerciante há 25 anos, adapta os produtos conforme a estação. Durante a maior parte do ano, trabalha com moda feminina, mas, com a chegada do frio, muda o foco. “A partir de maio, começa a procura por touca, luva, cachecol. Aí, a gente troca tudo”, relatou. “As vendas aumentam uns 50%”, completou.
Ana Paula Lopes, 42, gerente de uma loja de roupas infantis no Conjunto Nacional, espera um crescimento de cerca de 30% nas vendas até agosto. “Os pais têm procurado principalmente pijamas mais quentinhos para os filhos, além de toucas e meias. Estamos muito animados”, reforçou. Braian Licoln, 23, também percebeu um aumento significativo nas vendas com a chegada do frio. “Logo nos primeiros dias, sentimos a diferença: o fluxo de pessoas no shopping em busca de agasalhos cresceu bastante. Acredito que, até o fim da temporada, as vendas aumentem entre 45% e 50%”, contou.
Reforço
A assistente administrativa Thaís Soares, 35, reforçou o guarda-roupa de inverno. “Vim comprar uma meia-calça, mas agora estou procurando blusas de frio e moletom”, contou. Para ela, este ano as temperaturas estão mais baixas do que em 2024. “Estou aproveitando para me proteger”, explicou.
Maria Rosa, 59, auxiliar de serviços gerais, usou o horário do almoço para ir às compras. “Sinto muito frio nas mãos. Vim garantir minha luva para não passar aperto, principalmente de manhã, quando estou indo para o trabalho”, relatou.
Muito além das roupas
Segundo o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Newton Marques, a queda nos termômetros tem reflexo direto no comércio. “Toda vez que muda a estação climática, há uma alta. Muitas pessoas não têm agasalho em casa e, de repente, começa a esfriar bastante. Elas vão às lojas, se desapegam do dinheiro e se apegam aos produtos”, explicou.
Para Marques, o aumento na procura por roupas de inverno é um fenômeno esperado, mas que pode também ser reflexo de um movimento mais amplo na economia. “Quando a economia cresce, vários setores crescem junto. Um deles é o comércio varejista. Ele vende bastante, pede da indústria e movimenta os insumos”, afirmou.
Ele destaca que a elevação da massa salarial permite ao consumidor utilizar parte da renda em itens que antes poderiam ser considerados supérfluos. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, o rendimento domiciliar mensal per capita no Distrito Federal foi de R$ 3.444 em 2024.
O frio, inclusive, impulsiona não apenas a venda de agasalhos, mas também de produtos e serviços associados à estação. “Casas de chá, cafeterias, restaurantes e até grandes atacadistas de vinho têm alta nas vendas”, exemplificou o economista. De acordo com ele, o consumidor aproveita o momento e, ao comprar uma peça de roupa, muitas vezes acaba levando outros produtos, ampliando o impacto positivo para o comércio.
Marques chama atenção para a importância da pesquisa de preços. “Eles podem estar bem diferenciados, e isso faz com que as pessoas procurem economizar. É nesse momento que o papel do consumidor consciente se destaca”, ressaltou. Para o economista, o comerciante que sabe aproveitar a sazonalidade do inverno e o atual contexto de aquecimento econômico pode alavancar não só as vendas de inverno, mas ampliar a fidelização dos clientes além da estação.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Ed Alves CB/DA Press