Após os ataques dos Estados Unidos com 125 aeronaves e 75 armas guiadas, incluindo 14 bombas fura-bunker, nunca antes usadas, contra o Irã, reforçando a ofensiva de Israel, o mundo está em alerta e pede o fim dos combates. As potências europeias se uniram aos norte-americanos, enquanto vizinhos dos iranianos criticaram, assim como a China e a Rússia. O Conselho de Segurança das Nações Unidas se reuniu extraordinariamente, neste domingo (22), para debater o assunto e hoje segue em discussão. Houve, ainda, reuniões de emergências em vários locais do planeta, enquanto iranianos e israelenses intensificaram os bombardeios. O governo de Teerã promete reagir com virulência à entrada norte-americana nos confrontos diante das autoridades israelenses que devolvem no mesmo tom. Europeus apoiaram os ataques às bases nucleares iranianas de Fordow, Natanz e Isfahan, já chineses e russos demonstraram insatisfação.
O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, prometeu uma “resposta decisiva” de Teerã aos atos de agressão do regime israelense e forçou os EUA a “intervirem” e atacarem as instalações nucleares pacíficas. Em pronunciamento à Press TV iraniana, ele reiterou que entre as vítimas estão comandantes militares de alto-escalão, cientistas, além de mulheres e crianças. Após os ataques dos EUA, o Irã lançou 40 mísseis contra Israel e ameaçou os Estados Unidos com represálias “que lamentarão”.
No Conselho de Segurança, formado por 15 países, dos quais cinco são permanentes (China, França, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos) e os demais rotativos (Argélia, Eslovênia, Serra Leoa, Coreia do Sul, Guiana, Dinamarca, Moçambique, Japão, Equador e Malta), os embaixadores — de Israel, do Irã, dos Estados Unidos, Rússia e da China — analisaram a situação e ratificaram suas posições.
Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), afirmou na ONU que é possível ver crateras nas instalações de Fordow, mas que ninguém pôde ainda avaliar os danos subterrâneos. Segundo ele, os ataques a instalações nucleares poderiam causar vazamento de radiação, mas a Aiea não detectou nenhum até agora.
Perigo
Representantes da França, do Reino Unido e da Alemanha se posicionaram a favor dos ataques norte-americanos, criticaram a produção de armas nucleares sem fins pacíficos e pediram para os iranianos aceitarem o fim dos confrontos e as propostas de negociações. O presidente da França, Emmanuel Macron, conversou ontem com Pezeshkian, na tentativa de reforçar a necessidade dos “diálogos diplomáticos” e pediu “a desescalada” do conflito.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou a intensificação dos ataques: “É uma escalada perigosa em uma região que já está à beira do abismo, e uma ameaça direta para a paz e a segurança mundial”. A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, apelou para que todos recuem e voltem “à mesa de negociações e evitarem qualquer escalada adicional”.
Para o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, o Irã deve recuar e partir para as negociações. “Nunca se pode permitir ao Irã desenvolver uma arma nuclear e os Estados Unidos tomaram medidas para mitigar esta ameaça”, afirmou. “A estabilidade na região é uma prioridade.” O chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, fez o mesmo apelo.
Vizinhos
Considerado um dos principais atores do Oriente Médio por sua força política e econômica, o governo da Arábia Saudita optou pelo tom neutro e conciliador. O Ministério das Relações Exteriores informou que: “Acompanha com grande preocupação os acontecimentos na República Islâmica do Irã, com o ataque às instalações nucleares iranianas por parte dos Estados Unidos”.
Omã, mediador entre os Estados Unidos nos diálogos sobre o programa nuclear iraniano, condenou “esta agressão ilegal” e pediu “uma desescalada imediata”. Para o governo do Iraque, os ataques dos EUA são inadmissíveis, assim como para os rebeldes hutis, no Iêmen. Até o Paquistão, outra potência nuclear e aliado dos norte-americanos, condenou. A chancelaria paquistanesa informou que: “Reiteramos que estes ataques violam todas as normas do direito internacional e que o Irã tem o direito legítimo de se defender em virtude da Carta das Nações Unidas”.
Norte-americano de nascimento e peruano de coração, o papa Leão XIV disse que o mundo apela por um caminho pacífico. “A humanidade grita e reivindica paz” diante das “notícias alarmantes do Oriente Médio”, disse ele.
Aliados
Aliada do Irã, a Rússia condenou veementemente os bombardeiros às instalações atômicas. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, foi categórico sobre os ataques dos EUA. “A decisão irresponsável de realizar ataques com mísseis e bombas no território de um Estado soberano, qualquer que seja o argumento apresentado, viola flagrantemente o direito internacional”, disse. Autoridades iranianas desembarcaram ontem em Moscou para tratar sobre a guerra.
De forma semelhante reagiu o governo da China. Por intermédio do Ministério das Relações Exteriores, o governo chinês apelou para o fim dos conflitos. “A China chama todas as partes em conflito, especialmente Israel, a um cessar-fogo o quanto antes”, informou a chancelaria, criticando o que chamou de desrespeito aos acordos e tratados internacionais.
Bombas, como são
As bombas antibunker, chamadas de MOP (Massive Ordnance Penetrator) GBU-57, utilizadas pelos EUA nos ataques têm 6,2m de comprimento e
capazes de penetrar profundamente. Apenas o bombardeiro B-2 dispõe de condições para transportá-la.
Ameaça de fechar o Estreito de Ormuz
O Conselho Supremo de Segurança do Irã deve ratificar a decisão do parlamento do país para fechar o Estreito de Ormuz, onde passam pelo menos 20% do petróleo mundial. A iniciativa pode bloquear US$ 1 bilhão em embarques de petróleo por dia e acarretar a alta dos preços do produto, segundo a emissora oficial Press TV. A medida é uma reação aos ataques norte-americanos às instalações atômicas e o apoio à ofensiva de Israel.
Estratégico para a rota do petróleo, o estreito fica entre Omã e o Irã, ligando o Golfo do Oriente Médio ao norte com o Golfo de Omã, ao sul do Mar Arábico. No menor ponto, Ormuz tem 33km de largura. O controle é compartimentado entre Irã, Emirados Árabes e Omã. Por dia, passam cerca de 21 milhões de barris de petróleo e derivados. O Reino Unido, A França e a Alemanha dependem bastante desse caminho.
O parlamentar Esmaeil Kowsari concordou em fechar a principal artéria do comércio global de energia em resposta ao bombardeio dos Estados Unidos. Porém, a iniciativa precisa do aval do conselho e, mesmo dentro do governo, há dúvidas sobre dar encaminhamento à proposta.
O estreito jamais foi fechado totalmente, mas houve interrupção parcial, como no período entre combates do Irã com o Iraque.
“Foram destruídas”, diz Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ter “devastado o programa nuclear iraniano” com os bombardeios de sábado. Segundo ele, esse é o caminho para “impedir” o enriquecimento de urânio no Irã porque isso levaria à arma atômica. “Elas foram completamente e totalmente destruídas”, comemorou ele. Porém, o chefe do Estado-Maior, general Dan Caine, considera “muito cedo” para essa avaliação.
O chefe do Pentágono, Pete Hegseth, afirma que “devastaram o programa nuclear iraniano” durante a operação “Martelo da Meia-Noite” na qual, segundo o general Caine, participaram sete bombardeiros furtivos B-2. De acordo com ele, não há feridos. O Ministério da Saúde do Irã negou “contaminação radioativa”.
Colocando-se como vitorioso na guerra, Trump sugeriu ontem “uma mudança de regime” no Irã. Usando sua rede social, ele ironizou com o discurso iraniano de ser “grande” e reiterou que os bombardeios a três instalações nucleares — Fordow, Natanz e Isfahan — atingiram o objetivo da destruição de armas atômicas. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que o conflito está perto do fim.
Na imprensa internacional, as imagens dos ataques dos EUA feitas por satélites mostram apenas os locais atingidos pelos bombardeios. Netanyahu indicou que o ataque à usina de enriquecimento de urânio subterrânea de Fordow, a 160 km ao sul de Teerã, não foi totalmente destruída: “Faremos o necessário para alcançar nossos objetivos”.
Já Trump preferiu se concentrar no comando político do Irã. “Não é politicamente correto usar o termo ‘mudança de regime’, mas, sim, o atual regime iraniano não pode fazer com que o Irã volte a ser grande. Por que não haveria uma mudança de regime?”, reagiu o norte-americano em sua plataforma Truth Social, brincando com seu famoso acrônimo MAGA, o movimento ultraconservador americano Make America Great Again (“Torne os Estados Unidos Grandes Outra Vez”).
Netanyahu se mostrou bastante otimista sobre o encerramento dos conflitos. “(Nessa guerra), já conseguimos muito e, graças ao presidente Trump, nos aproximamos de nossos objetivos”, disse. “Quando forem alcançados, a operação vai acabar.”
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: AFP