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Marcha das Mulheres Negras por Bem-Viver será na terça-feira (25/11)

Após 10 anos da primeira edição, a Marcha das Mulheres Negras por Reparação...

Após 10 anos da primeira edição, a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem-Viver ressurge em mais um movimento, no dia 25 de novembro. O evento busca mudança social e política no atual cenário do público negro feminino, dando voz aos problemas que cercam essa parcela da população e apresentando soluções efetivas no combate ao racismo e ao sexismo. A marcha está sendo articulada nos 26 estados e no Distrito Federal por meio de Comitês Impulsores Estaduais, Municipais e Regionais, mobilizados por mulheres negras, sejam elas integrantes de organizações, grupos comunitários, sejam ativistas independentes. Maria Malcher, do Comitê Nacional da Marcha das Mulheres Negras, explica que a iniciativa busca estimular a participação de mulheres negras na vida política do país, na auto-organização e no bem-viver. “O movimento vem com esse horizonte tópico para a gente construir novos pactos civilizatórios. O intuito é melhorar a qualidade de vida e a participação no âmbito do trabalho”, conta. Além disso, a marcha também realiza um trabalho de denúncia: “Nós, mulheres negras, somos mais de 28% da população brasileira. Então, é uma categoria significativa. Mas somos subalternizadas, invisibilizadas. Estamos impostas a trabalhos de baixos salários em relação às categorias”. Dar voz às mulheres negras é essencial no contexto do projeto, que busca pensar em ações concretas de mudança a realidade racista, por meio de reparação. Para Ialê Garcia, 56, estilista e gestora de projetos culturais, o tema da Marcha das Mulheres Negras atravessa todas as dimensões da existência da mulher negra na sociedade brasileira. “Representa uma transversalidade em todos os sentidos da posição da mulher negra, todos os direitos que ainda lutamos para poder adquirir e usufruir: saúde, habitação, segurança, a segurança dos nossos filhos”, afirmou. Ela ainda denuncia o silenciamento diante da violência contra corpos negros e a imposição histórica de padrões eurocêntricos de beleza e poder. “Desde que nossos bisavós foram trazidos em situação de escravidão, sabemos que querem definir o modelo de beleza branca como o que predomina. Eu falo isso também porque sou da área da moda”, completou. Para Ialê, o bem-viver não está ligado à igualdade ilusória, mas à equidade. “Igualdade não existe. O bem-viver é uma busca por equidade”, reforçou. Dez anos desde a última edição, Ialê define a Marcha das Mulheres Negras 2025 como um marco — mas não de celebração. “A gente não marcha para comemorar, a gente marcha para falar, para retratar tudo isso, e principalmente em luto pelos corpos que são mortos todos os dias”, declarou. Ainda que a mobilização venha acompanhada de música, roupas africanas, presença e ancestralidade, o gesto também é de protesto e reflexão. “A dança, a música, os corpos pintados são alegria por estarmos juntas, mas também são resistência”, disse. Ao refletir sobre seu próprio bem-viver, ela reforça a dimensão coletiva da luta. “Eu não consigo falar individualmente. O idoso negro não tem seus direitos assistidos, as crianças negras sofrem violência nas escolas. Mesmo assim, a gente não desiste. É muito protesto, mas a gente não desiste”, concluiu.

Bem-viver

Entre tecidos africanos e memória ancestral, o bem-viver da mulher negra também se constrói com as próprias mãos. Afroempreendedora há cinco anos, Natália de Oliveira, 34, encontrou no nascimento do filho o impulso para criar uma marca autoral de turbantes feitos artesanalmente. Para ela, trabalhar em casa, unir maternidade e geração de renda e ter qualidade de presença com o filho é um privilégio que se conecta diretamente ao conceito de bem-viver. “Poder trabalhar, fazer com as próprias mãos e, ao mesmo tempo, ter esse tempo afetivo com qualidade, com presença, é um privilégio. Empreender é um desafio, a maternidade também. Mas, se você conseguir entrelaçar, as duas coisas andam bem”, afirmou. Segundo Natália, o turbante vai além do adorno: carrega resistência, identidade e ancestralidade. “Muita gente procura, não só pessoas pretas, mas também quem quer presentear ou está nesse processo de se reconhecer”, completou. Às vésperas da Marcha das Mulheres Negras, o “bem-viver” já começava a se materializar nas reflexões de quem acredita que cuidar de si é também um gesto político e coletivo. Para Ana Lúcia Cardoso, 42, estar entre mulheres negras e transformar o encontro em espaço de troca é essencial para fortalecer o autocuidado e a qualidade de vida. “É extremamente importante a gente conseguir reunir tantas mulheres, tantas mulheres negras, para discutir esse autocuidado, esse bem-viver, essa qualidade de vida da população negra, em especial da mulher negra”, afirmou. Mesmo reconhecendo avanços, ela avalia que ainda há muito a conquistar: “A gente vem galgando esse lugar, mas ainda temos muito que crescer, muito que expandir nesse sentido dos direitos e bem-estar da população negra”, destacou. Na expectativa pelas mobilizações e pelo que a marcha pode provocar, Ana Lúcia aposta na força política do coletivo e na continuidade das pautas ao longo do ano. Para ela, a convivência entre mulheres negras funciona como um processo de cura. “Estar entre as minhas, essa troca, é um processo terapêutico”, disse. Para ela, a programação concentrada no mês de novembro, período marcado por ações em alusão à Consciência Negra, é um alerta: “Infelizmente, nós, da população negra, somos procuradas somente no mês de novembro. A nossa evidência só se dá nesse período. E a ideia da marcha é justamente que a gente seja visualizada não só em um mês do ano”, concluiu. *Estagiária sob a supervisão de Márcia Machado Por Revista Plano B Fonte Correio Braziliense Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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