O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu manter com o PT uma pasta estratégica para o governo. Num anúncio que causou uma certa surpresa, ele escolheu a deputada federal e presidente do partido, Gleisi Hoffmann, para comandar a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), no lugar de Alexandre Padilha, confirmado no Ministério da Saúde. A posse dela está marcada para 10 de março.
A entrada de Gleisi no governo já era dada como certa, mas ela era cotada para substituir Márcio Macêdo na Secretaria-Geral da Presidência. O nome da parlamentar ganhou força para a SRI após a demissão de Nísia Trindade do Ministério da Saúde, na terça-feira, e o anúncio de que Padilha assumirá a pasta.
A vaga aberta nas Relações Institucionais provocou embate entre duas correntes. Uma delas defendia um nome do Centrão, para fortalecer o diálogo do Planalto com o Congresso Nacional — em meio à queda de popularidade de Lula. Os cotados eram o deputado Isnaldo Bulhões (AL), líder do MDB; e o ministro de Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho (Republicanos). Outra vertente pregava que o cargo deveria continuar sob direção do PT. Os candidatos citados eram o deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, e o senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado.
“A companheira e deputada federal Gleisi Hoffmann vai integrar o governo federal. Vem para somar na Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, na interlocução do Executivo com o Legislativo e demais entes federados”, escreveu Lula, em suas redes sociais.
Gleisi, por sua vez, agradeceu a Lula e prometeu seguir dialogando com os demais partidos e instituições.
“Com imensa responsabilidade recebo do presidente Lula a condução da SRI. Sempre entendi que o exercício da política é o caminho para avançarmos no desenvolvimento do país e melhorar a vida do nosso povo”, ressaltou. “É com esse sentido que seguirei dialogando democraticamente com os partidos, governantes e lideranças políticas.”
De espírito combativo, Gleisi defende reiteradamente as políticas de Lula, mas também não poupa de críticas a setores do governo. Mais de uma vez, a deputada rebateu medidas defendidas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em 2023, reclamou do arcabouço fiscal, que limitou o crescimento dos gastos públicos.
Também disparou contra partidos de centro, como o União Brasil, que não entregou o apoio prometido no Congresso, apesar de ter sido contemplado com três pastas na Esplanada.
No ano passado, após as eleições municipais, Gleisi criticou Padilha, que havia reprovado o desempenho do PT na disputa, dizendo que o partido está na “Z4”, ou na zona de rebaixamento. “Ofender o partido, fazendo graça, e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças”, rebateu, à época.
Aliados, porém, acreditam que a parlamentar vai adotar tom mais moderado à frente da SRI.
Nesta sexta-feira, Padilha celebrou a escolha de sua sucessora. “Tenho certeza de que a presidenta, que já exerceu com brilhantismo cada uma das diversas funções em sua vida pública, terá muito sucesso na articulação política do governo Lula”, ressaltou.
Outros integrantes do governo também se manifestaram. Para o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, Gleisi é “uma companheira da melhor qualidade. Mulher aberta ao diálogo e de compromisso com o Brasil. Decisão acertada do presidente Lula”.
Câmara e Senado
Lula comunicou, por telefone, aos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), a sua escolha.
Por meio das redes sociais, Motta disse que sempre teve “boa relação com ela no Parlamento”. “Desejo pleno êxito na nova função, e continuaremos o diálogo permanente a favor do Brasil”, acrescentou.
Alcolumbre, por sua vez, também desejou sucesso à nova ministra. “Em nome do Congresso Nacional, reafirmo nosso compromisso em trabalhar sempre em defesa do Brasil”, escreveu.
O mandato de Gleisi no PT terminaria em julho, mas deve ser abreviado. Assim, a ida dela para o Palácio do Planalto indica, também, que a sucessão no comando da legenda está resolvida. O nome mais forte para ocupar o posto é Edinho Silva (PT-SP), ex-prefeito de Araraquara e ex-coordenador de Comunicação da campanha presidencial de 2022.
Por Mayara Souto e Victor Correia do Correio Braziliense
Foto: Ricardo Stuckert / Presidência da República / Reprodução Correio Braziliense