O escritório de advocacia de Eric Fidelis, filho do ex-diretor de Benefícios do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), André Fidelis, movimentou mais de R$ 14 milhões em menos de três anos. Aberto em junho de 2022, quando Eric tinha 30 anos, o escritório acumulou cifras milionárias em curto espaço de tempo, conforme relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e investigações da Polícia Federal (PF). Parte desses valores teria origem em entidades suspeitas de fraudar aposentados e pensionistas.
De acordo com informações enviadas à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, entre novembro de 2023 e julho de 2025, o escritório registrou R$ 6,6 milhões em receitas e R$ 5,3 milhões em despesas. A Polícia Federal aponta que aproximadamente R$ 5,1 milhões foram pagos por associações investigadas por aplicar descontos indevidos diretamente na folha de pagamento de beneficiários do instituto.
A PF afirma ainda que a estrutura jurídica criada por Eric foi utilizada para intermediar repasses de subornos destinados ao pai, André Fidelis. O empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, seria um dos principais responsáveis por transferências. Em depoimento à CPMI, ele confirmou ter contratado empresas ligadas a familiares de dirigentes do INSS, mas alegou que os contratos tinham objeto legítimo. “Eric se apresentou com um material sobre educação financeira e jurídica para aposentados, inclusive com um aplicativo. Eu sabia que ele era filho de André Fidelis”, disse, na ocasião.
Além das transações do escritório, a CPMI obteve informações sobre as finanças pessoais de Eric. Entre fevereiro de 2023 e março de 2024, suas contas bancárias movimentaram mais de R$ 10 milhões. Em uma das contas, aberta em Brasília, entraram R$ 3,8 milhões e saíram R$ 4 milhões em apenas seis meses. A renda formal declarada, no entanto, era de pouco mais de R$ 13 mil. Para o Coaf, a incompatibilidade entre a renda declarada e a movimentação financeira caracteriza risco de irregularidades.
Os relatórios de inteligência apontam ainda que a maior parte das operações foi feita por transferências de pessoas físicas e jurídicas vinculadas ao escritório, indicando possível uso de contas pessoais para transações empresariais.
“O principal ponto é a incompatibilidade entre valor de renda informada, atividade e movimentação de crédito recebido no período analisado”, destaca o documento. Para o Coaf, o caso apresenta sinais de movimentação incompatível com patrimônio, atividade econômica e capacidade financeira.
O escritório de Eric Fidelis é especializado em direito previdenciário e também atuou em ações contra o INSS. O órgão de inteligência considerou essa relação mais um indício de conflito de interesse.
Procurado, Eric não respondeu aos contatos da reportagem, e a defesa de André Fidelis não foi localizada. As investigações seguem em andamento na Polícia Federal e na CPMI, que deve retomar oitivas de personagens centrais do esquema nos próximos dias.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Andressa Anholete/Agência Senado