Brasília voltou a ser palco de um encontro da vitivinicultura nacional. A Expovitis Brasil 2025, realizada entre 19 e 21 de junho no Parque Tecnológico Ivaldo Cenci, no PAD-DF, reuniu produtores, especialistas e apreciadores para celebrar os rótulos 100% brasileiros. Com cerca de nove mil visitantes circulando pelos estandes em três dias, o evento consolidou o Cerrado como uma das regiões mais promissoras da produção de vinhos de qualidade no país.
Na avaliação de Ronaldo Triacca, organizador da Expovitis, o sucesso desta edição superou todas as expectativas. O número de expositores do Brasil inteiro saltou de 72 no ano passado para 110 este ano.
Com bandas de blues e jazz embalando o fim de tarde, casais passeando entre os estandes e taças em mãos, o clima descontraído tomou conta da feira. “Nosso evento valoriza os vinhos brasileiros, e os expositores saíram muito satisfeitos. Definitivamente veio para ficar”, afirma Triacca.
Para quem visitou a Expovitis pela primeira vez, a experiência foi de pura descoberta. A professora Adriana Laquis, de Brasília, se disse surpreendida com a qualidade dos produtos: “Experimentei alguns e achei muito interessante. Dá para sentir bem o gosto da uva. É algo que chama a atenção de quem busca opções mais naturais”.
A brasiliense Beatriz Naves, 23, foi curtir o evento com o namorado e a família e viu na feira uma oportunidade de entender mais sobre vinhos. “Dá pra conhecer mais, experimentar rótulos diferentes e ganhar mais bagagem”, contou ela.
A consumidora e expositora do evento, Márcia Pissolatti, 64, fez questão de ressaltar a evolução da feira. “O evento deste ano superou o anterior. Público qualificado, exigente, que sabe o que procura”. Ela destaca ainda o crescimento da produção no Cerrado, impulsionada pela técnica da dupla poda, e reforça: “O público brasileiro está consumindo cada vez mais vinhos nacionais, não perdemos em nada para os importados.”
O sucesso também foi sentido nos estandes de vendas. Na Vinícola Garibaldi, Cleonir Mahl comemorou a resposta do público. “Fiquei surpreso com o número de mulheres interessadas, especialmente em duas variedades de uva.” O Moscatel, com seu perfil floral, e o Chardonnay Brut foram os campeões de venda.
Mas a Expovitis não foi só degustação. Negócios concretos também movimentaram o evento. O gaúcho Antônio Luvison, empresário de Caxias do Sul, que fabrica equipamentos para vinícolas, saiu com todos os produtos vendidos e novas parcerias. “Valeu muito a pena participar”, conta ele.
Vinhos do Cerrado
O que há uma década parecia improvável — a produção de vinhos de qualidade em Brasília — hoje é realidade. O professor e pesquisador do Instituto Federal de Brasília Rafael Lavrador explica. “Com a técnica da dupla poda, que é uma tecnologia que engana a planta, em vez de deixar ela produzir no verão, você acaba podando novamente e faz ela ter outro ciclo. Então você acaba colhendo no período de seca.”
E para além da seca, o Cerrado brasiliense oferece condições únicas: altitude acima de mil metros, dias quentes, noites frias e grande amplitude térmica. Segundo Lavrador, esses fatores resultam em vinhos de altíssima qualidade. “Na variedade Syrah, por exemplo, já identificamos níveis de polifenóis até 10 vezes superiores aos encontrados em países tradicionais, como França, Nova Zelândia, Austrália e África do Sul”, destaca.
Para Gabriel Triacca, proprietário e responsável pela área agronômica da Villa Triacca, a qualidade dos vinhos brasileiros já atingiu um patamar internacional. “O vinho brasileiro tem boa qualidade e está pronto para bater de frente com os vinhos europeus, os da América do Sul.” Além disso, Gabriel destaca a identidade própria dos vinhos do Cerrado, que se caracterizam por serem mais frutados, com taninos marcantes e uma acidez equilibrada, o que, segundo ele, confere personalidade às garrafas produzidas no Cerrado.
Com a segunda edição encerrada, a Expovitis Brasil já tem a terceira edição confirmada para 2026. Segundo a organização, o próximo evento ocorrerá nos dias 26, 27 e 28 de junho de 2026.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press