As famosas canetas emagrecedoras podem estar chegando a um novo patamar clínico. Estudo que será apresentado, neste sábado, no congresso científico da Associação Americana de Diabetes (ADA, sigla em inglês), em Chicago (EUA), traz dados equiparando os resultados do uso a longo prazo da semaglutida, um dos princípios ativos mais comuns desses dispositivos, aos das cirurgias bariátricas. Nesse caso, a dosagem do medicamento foi triplicada, chegando a 7,2mg, e os efeitos colaterais avaliados nos voluntários não se diferenciaram dos da dosagem já prescrita.
A pesquisa conduzida pela Novo Nordisk, fabricante do Wegovy, contou com 1.407 adultos, classificados como obesos (IMC igual ou superior a 30) e sem diabetes. Todos tinham histórico de ao menos um episódio malsucedido de emagrecimento por meio de dieta e foram orientados a melhorar os hábitos (alimentares e prática de atividades físicas) ao longo do estudo. Após 72 semanas de intervenção, a dose aumentada (7,2mg) proporcionou perda média de peso de 21%, sendo que um terço dos voluntários perdeu ao menos 25% do peso basal. As taxas para o grupo que recebeu 2,4mg de semaglutida e o placebo (apenas mudanças de hábitos) foram de 17% e 2%, respectivamente.
“Ao ultrapassar os 20%, podemos falar em resultados como os das cirurgias bariátricas, além de ressaltar os benefícios para a saúde dos pacientes como um todo. As diretrizes de prática clínica falam em tratamento da obesidade a longo prazo, concentrado na melhoria dos resultados de saúde, não apenas na perda de peso”, afirma Julia Cabral, médica endocrinologista e gerente médica da Novo Nordisk. A especialista enfatiza que diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares estão significativamente relacionadas. Dois terços das mortes relacionadas ao excesso de peso, por exemplo, são decorrentes de causas cardiovasculares.
Efeitos adversos
A segurança e a tolerabilidade da dose aumentada da semaglutida avaliadas na pesquisa também reforçam o entendimento de que a substância pode ser usada a longo prazo. Os eventos adversos mais comuns foram gastrointestinais, sendo a grande maioria de intensidade leve a moderada, diminuindo ao longo das semanas. Abandonaram o estudo em razão dessas complicações 3,3% dos que receberam a dose aumentada e 2%, da dose de 2,4mg.
Jamilly Drago, médica endocrinologista da clínica Metasense, em Brasília, lembra que o manejo dos efeitos adversos das canetas emagrecedoras já está consolidado. “Temos a expertise de lidar com seus efeitos colaterais e também com suas indicações e contraindicações. Mas como a obesidade é uma doença crônica, evolutiva, incapacitante, que leva a várias outras doenças, é uma medicação que deve, sim, ser usada para toda a vida”.
Wanessa Stival, da clínica Hewa, lembra que, mesmo com os resultados cada vez mais positivos, o uso dessas medicações não pode ser encarado como uma solução isolada nem imediata contra a obesidade. A médica endocrinologista acompanha pacientes que usam a semaglutida por tempo determinado, de forma contínua e uso intermitente, conforme especificidades clínicas e outras questões analisadas em conjunto, incluindo as financeiras. “Esse entendimento mais realista e individualizado do tratamento é fundamental para evitar frustrações e alinhar expectativas”, explica.
Não há previsão de quando a dose aumentada da semaglutida poderá ser usada no Brasil. A Novo Nordisk prevê solicitar a atualização da nova aplicação na União Europeia no segundo semestre deste ano, com submissões regulatórias posteriores nos demais mercados onde o Wegovy já está aprovado.
*A jornalista viajou a convite da Novo Nordisk
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
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