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sábado, maio 24, 2025

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Benze que passa: grupo de benzedeiras repassa boas energias aos que têm fé

Ramos de arruda, terços, oráculos e uma imagem do arcanjo Rafael estavam dispostos...

Ramos de arruda, terços, oráculos e uma imagem do arcanjo Rafael estavam dispostos em um altar improvisado. No ar, repousava o cheiro de lavanda e o frescor do fim do dia. Mesmo bem ocupado, não havia ruídos no espaço. O clima era de paz. Afinal, tranquilidade é o que mais procuram — além de cura, em muitas ocasiões — aqueles que frequentam os benzimentos da Escola de Almas Benzedeiras de Brasília, movimento que visa resgatar essa sabedoria ancestral e a conexão com a natureza.

Na última segunda-feira, mais de 70 benzimentos foram feitos em crianças, adolescentes, adultos, idosos e até animais de estimação no Parque Ecológico do Riacho Fundo I. Além das unidades de conservação, o grupo de voluntárias, que completa nove anos em setembro, também atua em postos de saúde.

E, para os que não têm familiaridade com a prática, elas reforçam: não há qualquer vínculo com religiões. “É uma energia de cura, proteção e livramento de males”, resume a benzedeira Elizete de Freitas, 71 anos.

“Nosso objetivo é que as pessoas saiam melhores do que chegaram, com o sentimento de renovação. Esperamos que elas conquistem equilíbrio, paz, oportunidades e saúde. Todos nós temos a necessidade da misericórdia de Deus”, completa Elizete, que é filha e neta de benzedeiros e se dedica ao ato desde a infância.

Com a maior divulgação dos serviços, as voluntárias já chegaram a atender centenas de pessoas em uma única tarde. A alta procura, segundo elas, reflete a necessidade de reconexão consigo mesmas.

Atenta ao cronograma dos benzimentos, Denise Barreto, 40, saiu do trabalho e foi direto para o Parque Ecológico. De lá, saiu com a sensação de leveza.

“Esse é o momento de me afastar do mundo agitado e pesado em que vivo — a política — e retomar o controle da minha energia. Aprendi com ela (a benzedeira Cecília Bartholo) que eu devo tentar conviver com o que for ruim, mas sem deixar que isso me consuma”, destaca a assessora parlamentar e sindical.

Os benzimentos, segundo Denise, são uma tradição na sua família. “Meus pais vieram do Maranhão e trouxeram esse costume. Realmente, acredito que isso renova as energias. Afinal, tudo no mundo é energia”, declara ela, mãe da estudante Isabele Barreto, 17, e a quem está transmitindo a importância de valer-se dessa tradiçã

A filha, que a acompanhava, conta: “Ela sempre me alertou sobre os cuidados que devemos ter com nosso lado espiritual e, recentemente, tenho sofrido com muitas crises de ansiedade. Por isso, decidi vir”.

“Cheguei, aqui, com o coração palpitando, mas, quando ouvi a voz da benzedeira, comecei a me acalmar. Senti como se uma cúpula tivesse me coberto e me fizesse sentir segura. Minha ansiedade desapareceu”, comenta a adolescente, que afirma querer se benzer mais vezes. “Quem não quer voltar para casa se sentindo mais leve? Acho que todo mundo deveria se benzer”, recomenda.

Energias do bem

Cada benzedor faz os atendimentos ao seu modo. Há quem use terços, incensos ou diferentes tipos de plantas. Normalmente, após ser chamada para o benzimento, a pessoa interessada no ritual confidencia suas inquietações e o porquê daquela procura. Inicia-se uma reza e pedidos de renovação.

Com galhos de plantas em mãos, os benzedores balançam as folhas por todo o corpo do atendido, que fica com os olhos fechados. Após alguns minutos, o ritual é finalizado. Quem desejar, pode levar consigo uma carta de oráculo, com palavras de conforto.

Para garantir um campo de proteção e não absorver as energias do outro, os benzedores fazem, em roda, uma espécie de conexão, na qual chamam seus guias, como os anjos, para fazerem uma barreira espiritual durante os rituais.

“As pessoas costumam nos procurar para tratar aflições emocionais, conflitos familiares, busca de empego, entre outras questões, além de problemas físicos, como cânceres ou traumas resultantes de acidentes. Muitos também trazem bebês e mascotes para pedirem proteção”, explica a benzedeira Rosângela Martinez, 40, que também faz doutorado em plantas medicinais do cerrado.

Rosângela entrou na Escola de Almas Benzedeiras em 2019, após um “chamado interior”. “Eu tinha uma proximidade com a natureza e com o poder das plantas, mas senti que precisava fazer mais. Então, procurei algo que me conectasse à minha ancestralidade. Passei pela capacitação e me vinculei à minha benzedeira interior”, relata.

Segundo a voluntária, muitas pessoas que chegam aos benzimentos comentam terem sido levadas para benzer quando crianças. “Elas (as pessoas) se afastaram da tradição e, agora, desejam retomar essa conexão, trazendo um público mais jovem e diverso”, diz.

Bastante fiel nos benzimentos, Jefferson da Silva, 39, levou a filha, Helena, 2, para receber uma bênção no Parque Ecológico do Riacho Fundo I. Segundo o vigilante, a filha estava com dificuldade para dormir e sempre acordava assustada.

Na primeira vez em que a levou às benzedeiras, o resultado foi certeiro e a menina melhorou. Tempos depois, foi preciso visitá-las novamente. “Creio que alguma pessoa tenha colocado um ‘quebranto’ (mau-olhado) nela, mesmo sem intenção”, diz o vigilante.

Silva relata que o costume de ser benzido desde cedo pela sua avó o salvou de algumas situações que poderiam ter sido catastróficas. “Eu era motociclista e, certa vez, sofri um grave acidente. Um carro me fechou e me arrastou na pista. Em seguida, um ônibus passou a poucos centímetros de mim na via. Não me atropelando por muito pouco. Acredito que foram as boas energias depositadas em mim que evitaram uma tragédia”, confidencia.

Ancestralidade

A benzedeira Elizete de Freitas, uma das mulheres com tempo de prática no grupo, ressalta que, no passado, a tradição era sempre presente em seu lar. “Todos os domingos, uma benzedeira ia a minha casa benzer minha família, começando do mais novo e terminando por mim.

Antigamente, as pessoas não tinham acesso a médicos e a remédios, então as doenças eram tratadas com benzimento e chás. Estamos resgatando essa tradição que, ainda, é bem-vinda por muita gente”, destaca.

Cecília Bartholo, 68, também benzedeira do grupo, lembra que não é preciso estar com problemas ou inquietações para procurar os benzimentos. “Várias pessoas também aparecem para compartilhar os momentos bons da vida. Está feliz? Venha se benzer!”, diz.

De acordo com a voluntária, os relatos de pessoas que melhoraram são frequentes. Alguns, inclusive, as procuram para agradecer e contar que o benzimento mudou suas vidas. “Mas, claro, é preciso se dispor a mudar, ter a iniciativa. Não basta se benzer e manter antigas atitudes”, pondera.

A aposentada Graça Silveira, 66, saiu do Cruzeiro para receber o benzimento no Riacho Fundo I. “Ficar em casa remoendo as inquietações não adianta. É preciso sair e procurar algo que nos traga alívio. Como sou muito intuitiva, os benzimentos são, para mim, um momento de reflexão e de paz. São uma bênção. Cheguei ‘carregada’, mas certamente saio mais leve”, afirma.

Programação de benzimentos de maio

– 2/5: Benzimento coletivo virtual. Recebimento dos nomes pelo formulário no Instagram @benzedeiras.brasilia, entre 12h e 17h do dia;

– 8/5: Parque Ecológico Sucupira, em Planaltina, próximo ao campus da UnB, das 15h às 17h;

– 14/5: Unidade Básica de Saúde 6 (St. C Sul – QSC AE), próximo à feira dos importados, das 15h às 17h;

– 16/5: Benzimento coletivo virtual. Recebimento dos nomes pelo formulário no Instagram, entre 12h e 17h do dia;

– 17/5: Parque Ecológico da Asa Sul (L2 614 Sul), próximo ao parque infantil, das 9h às 11h;

– 26/5: Parque Ecológico do Riacho Fundo I, das 15h às 17h;

– 29/5: Unidade Básica de Saúde 9, “Postinho do Bosque”, na Rua da Escola com a Rua 32, das 15h às 17h;

– 30/5: Unidade Básica de Saúde 1, QI 03 Área Especial, das 15h às 17h;

– 30/5: Benzimento coletivo virtual. Recebimento dos nomes pelo formulário no Instagram @benzedeiras.brasilia, entre 12h e 17h do dia.

Por Letícia Mouhamad do Correio Braziliense

Foto: Letícia Mouhamad/CB/DA Press / Reprodução Correio Braziliense

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