Um sequestro ocorrido em plena luz do dia acendeu o alerta para o problema que vem crescendo entre moradores e comerciantes da Asa Norte: a sensação de insegurança. O caso, que chocou uma das regiões nobres de Brasília, aconteceu no último sábado, por volta do meio-dia, quando uma mulher de 30 anos foi vítima de um sequestro-relâmpago enquanto estacionava o carro entre os blocos A e B da quadra 404 Norte.
A reportagem do Correio ouviu moradores e trabalhadores da região, que relataram um aumento significativo nos casos de violência nas últimas semanas. Há mais de uma década trabalhando em um prédio da 404 Norte, Nelzi da Costa, 51 anos, conta que roubos e furtos se tornaram rotina. “Eles passam olhando as lixeiras, como se estivessem procurando algo, mas, na verdade, estão de olho nas pessoas, esperando uma oportunidade para assaltar. Em fevereiro, invadiram o nosso condomínio e levaram tudo do salão de festas. Fizeram duas viagens com um carrinho de mão, às 4h da manhã. No condomínio aqui da frente, roubaram nove bicicletas. A sensação é que, a qualquer momento, pode acontecer de novo”, desabafa.
Moradora da Asa Norte desde a infância, Renata Barbosa, 43, reforça o clima de medo. “A insegurança é uma constante. Muitos comércios e espaços de lazer estão fechando, o que deixa as quadras cada vez mais vazias e propícias à ação de criminosos. Aos fins de semana, então, é um deserto. Roubaram o carro de uma amiga minha há dois meses. É um absurdo atrás do outro”, relata.
Debate
Presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) da Asa Norte, Maria Celeste Gliosci explica que o grupo de moradores se reúne mensalmente para discutir soluções e estratégias para conter a criminalidade. “As maiores queixas são sobre os crimes de oportunidade. Os criminosos circulam pelas ruas à procura de vítimas, esperando apenas um descuido”, afirma.
Ela reforça que o Conseg é um espaço fundamental para o diálogo entre comunidade e autoridades de segurança. “A Asa Norte se tornou mais vulnerável nos últimos anos. Temos enfrentado um aumento na população em situação de rua, no tráfico de drogas. Isso tudo alimenta a sensação de insegurança. Mas é importante dizer que há, sim, ações das forças policiais sendo realizadas”, pontua.
Dona de um ateliê na Asa Norte há quase três décadas, a comerciante Ângela Zaratti compartilha a preocupação que domina quem trabalha nas áreas comerciais. “Tem cada vez mais pedintes nas quadras comerciais, e muitos deles abordam as pessoas de maneira insistente, até ameaçadora. Eu, como mulher, sinto medo sempre que preciso sair da loja mais tarde. Minha loja foi arrombada duas vezes. Precisei reforçar as grades para continuar aqui”, conta.
Para o especialista em segurança pública Leandro Santana, o enfrentamento do problema exige mais do que ações pontuais de policiamento. “A sensação de insegurança tem ligação direta com a vulnerabilidade social e econômica de quem vive nas ruas da Asa Norte. Muitos estão ali por falta de políticas públicas adequadas. Setores como o fim da Asa Norte, o Setor de Clubes e áreas das quadras 900 concentram pessoas em situação de rua. Não se trata apenas de um desafio policial. Outras secretarias precisam agir de forma coordenada para que a segurança pública não fique lidando apenas com as consequências da falta de investimento social”, avalia.
Momentos de terror
Segundo a família da vítima, o crime aconteceu rapidamente. Assim que estacionou o carro, a mulher foi abordada por dois homens. Sob ameaça, foi obrigada a retornar ao veículo. Um dos criminosos assumiu o volante, enquanto o outro sentou-se ao lado dela no banco traseiro.
Durante o percurso, os sequestradores chegaram a parar para comprar bebida alcoólica usando o cartão da vítima. Em seguida, um terceiro homem entrou no carro. O grupo circulou por diferentes pontos da cidade, incluindo o Itapoã, até abandonar a mulher em uma área conhecida como Boqueirão, no Paranoá.
Além do carro, um Onix, os criminosos levaram também o celular e o cartão bancário da vítima. Por sorte, antes de ter o telefone tomado, ela conseguiu enviar a localização para os pais, o que facilitou o socorro. “Foi uma tarde e noite de tragédia. Ela está viva e em casa, mas o trauma permanece. Está em pânico, não consegue dormir”, contou a mãe da vítima. “Que possamos ter mais segurança nas nossas quadras para que ninguém passe por isso novamente.”
O caso está sendo investigado pela 2ª Delegacia de Polícia da Asa Norte. Até o fechamento desta edição, nenhum suspeito havia sido identificado ou preso.
Medidas
O tenente Diogo Aguiar, comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela segurança da Asa Norte, detalhou as ações em andamento para conter a criminalidade. “Nossa atuação é baseada em inteligência e no mapeamento das áreas com maior índice de ocorrências. Estamos intensificando a presença policial e agindo de forma estratégica para neutralizar ameaças à ordem pública”, afirma.
Ele destacou também o recente reforço no efetivo. “Recebemos 48 novos policiais no fim de maio. Além disso, contamos com o apoio de unidades especializadas, como a Rotam, o BPChoque e o BPCães. Temos realizado operações específicas em pontos críticos, conhecidos por concentração de suspeitos e tráfico de drogas.”
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Bruna Gaston CB/DA Press