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A estratégia da “mulher de bem” para 2026

Mesmo inelegível até 2030, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a afirmar publicamente,...

Mesmo inelegível até 2030, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a afirmar publicamente, ontem, em coletiva, que será o principal nome da direita nas eleições presidenciais de 2026. No entanto, dentro do próprio Partido Liberal crescem articulações em torno do nome da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como possível substituta, caso Bolsonaro permaneça fora da disputa.

O protagonismo de Michelle, porém, divide opiniões no partido e entre especialistas. Por estar bem posicionada nas pesquisas eleitorais e por atrair o voto feminino, há lideranças, dentro do partido, que testam o seu potencial. Por outro lado, seu nome ainda enfrenta resistência por outras alas do PL, tanto por razões políticas quanto pessoais.

Na pesquisa Genial/Quaest divulgada recentemente, Michelle aparece com 39% das intenções de voto em um cenário contra Lula (43%) e Jair Bolsonaro (41%), dentro da margem de erro.

Procurados pelo Correio, interlocutores do PL evitam falar abertamente sobre sua possível candidatura. Nos bastidores, porém, a avaliação é de que a presença de figuras, como Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, e Romeu Zema, governador de Minas Gerais, cria um cenário competitivo e pulverizado dentro da direita.

Questionado sobre uma possível candidatura de Michelle, Bolsonaro foi direto: “Pergunta para a Michelle. Ela é a primeira que vai falar, a primeira a falar vai ser ela”, disse na coletiva de ontem, após sair do hospital DF Star, em Brasília.

Apesar de Michelle ganhar cada vez mais projeção como figura política no campo conservador, aliados ainda demonstram um certo pudor de falar sobre sua eventual candidatura por causa das resistências internas na própria família Bolsonaro. A relação com os filhos do ex-presidente tem sido marcada por disputas veladas de protagonismo.

Recentemente, Michelle compartilhou nas redes sociais uma matéria que especulava sobre a candidatura de Eduardo Bolsonaro à Presidência, caso fosse uma ‘missão designada pelo pai’, e comentou: “E terá todo apoio da minha família”. A declaração, interpretada por aliados como um gesto de diplomacia, contrasta com rumores dos bastidores de que Bolsonaro não se sente à vontade com a possibilidade de sua esposa ocupar um cargo político superior ao seu, evidenciando uma tensão familiar que pode influenciar os rumos do bolsonarismo em 2026.

Poder em família

Para analistas políticos ouvidos pelo Correio, a movimentação da ex-primeira-dama é estratégica. “A atuação de Michelle Bolsonaro hoje representa uma movimentação estratégica do campo bolsonarista. Ela mantém o poder dentro do núcleo do bolsonarismo e usa a estratégia de ‘mulher de bem’ para se tornar uma liderança política própria”, avalia Felipe Rodrigues, mestre em ciência política pelo Cefor/ Câmara dos Deputados.

Segundo ele, Michelle é vista como um elo capaz de unificar o voto evangélico e feminino em torno da direita, podendo ocupar diferentes posições na corrida presidencial: “Ela pode ser candidata ao Senado, compor uma chapa presidencial ou ser a cabeça de chapa, a depender do que Bolsonaro e seu partido vão costurar.”

Já Leonardo Paes Neves, cientista político da Fundação Getulio Vargas (FGV), é mais cético: “Eu ainda tenho dificuldade de achar que isso vai acontecer, que as outras concorrentes vão, de fato, abrir espaço para ela. A própria capacidade de o presidente Bolsonaro aceitar a ideia de que a mulher dele vai sucedê-lo quando ele mesmo está trabalhando fortemente ou finge acreditar que vai ser candidato”.

Cortina de fumaça

Para Paes Neves, Michelle cumpre, neste momento, a função de ofuscar o verdadeiro nome que disputará pelo campo conservador. “Ela serve como uma figura para tirar um pouco o foco de quem realmente vai ser o candidato. Ela acaba nublando o horizonte político e impede que um possível nome sofra ataques antecipados.”

A ex-primeira-dama também é vista como figura polarizadora, especialmente entre a bancada feminina do Congresso. Marcelo Senise, marqueteiro político com mais de 36 anos de atuação em campanhas eleitorais no Brasil, destaca essa ambiguidade: “Para uma parcela significativa, especialmente as parlamentares evangélicas e conservadoras, o protagonismo de Michelle é celebrado. No entanto, para outras parlamentares, o protagonismo de Michelle pode, paradoxalmente, reforçar estereótipos limitadores.”

Senise aponta que Michelle ainda não demonstrou autonomia política: “Ela por enquanto é só uma promessa, ela ainda não ocupou de fato nenhuma posição política concreta, não teve independência de fato de se organizar, botar suas ideias para frente.”

Apesar da resistência dentro do PL e da ausência de experiência política direta, a imagem de Michelle continua sendo trabalhada. “Ela representa a defesa da família tradicional, dos princípios religiosos e de uma moralidade que se vê ameaçada por agendas progressistas. Contudo, o potencial de Michelle possui limites inerentes à sua própria simbologia”, analisa Senise.

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense       

Foto: Reprodução

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