Enquanto a guerra na Ucrânia completava 1.237 dias, nesta segunda-feira (14/7), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aproveitava um encontro com Mark Rutte, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), para anunciar um novo ultimato ao homólogo russo Vladimir Putin. “Estamos muito, muito descontentes com a Rússia. Vamos aplicar tarifas muito severas se não chegarmos a um acordo em 50 dias, tarifas de aproximadamente 100%. Vocês poderiam chamá-las de ‘tarifas secundárias'”, declarou Trump. “Eu uso o comércio para muitas coisas, mas é ótimo para resolver guerras.”
O prazo estipulado pelo titular da Casa Branca é para que a Rússia encerre a invasão e os bombardeios à ex-república soviética. Segundo a emissora CNN, um assessor de Trump explicou que Washington deverá impor 100% de tarifas sobre Moscou e sanções secundárias a outras nações que comprarem petróleo da Rússia.
Trump e Rutte acordaram um plano para que a Otan adquira armamentos dos EUA, incluindo as baterias antimísseis Patriot, e os transfira para a Ucrânia. “Bilhões de dólares em equipamentos militares serão comprados dos Estados Unidos, que serão destinados à Otan (…) e rapidamente distribuídos no campo de batalha”, disse o americano. Ao mesmo tempo, o Senado dos EUA avançou com um projeto de lei que contempla tarifas de até 500% a países que realizarem negócios com os russos — a medida pode afetar o Brasil.
“Nós, os Estados Unidos, não faremos nenhum pagamento… nós os fabricaremos, e eles pagarão”, esclareceu o presidente Trump, ao fazer menção aos armamentos. Rutte assegurou que a aliança militar ocidental fará com que a Ucrânia receba “quantidades realmente substanciais de equipamentos militares, tanto para defesa aérea quanto mísseis e munições”. Em 8 de julho, Trump chegou a chamar Putin de inútil e disse que ele jogava “um monte de bobagem” sobre os Estados Unidos. O tom foi suavizado ontem. “Não quero dizer que ele (Putin) seja um assassino, mas é um cara durão”, afirmou Trump, ao lembrar que acreditou ter pactuado, por quatro vezes, uma solução com Putin para a guerra.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, conversou por telefone com Trump. “Foi um diálogo muito bom. Foi uma conversa muito boa. Obrigado pela disposição em apoiar a Ucrânia e continuar trabalhando, juntos, para pôr fim aos assassinatos e estabelecer uma paz justa e duradoura”, escreveu na rede social X. “Discutimos com o presidente os meios e soluções necessários para proporcionar melhor proteção à população contra ataques russos e fortalecer nossas posições. Estamos prontos para trabalhar da forma mais produtiva possível.”
“Muito tempo”
A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, admitiu que o ultimato de Trump é “muito positivo”, mas fez uma advertência. “Cinquenta dias é muito tempo se considerarmos que civis inocentes estão sendo mortos diariamente”, ponderou. A resposta do Kremlin ao prazo dado por Washington veio em forma de bombardeios: 250 drones foram usados no ataque, no fim da noite de ontem.
Para Olexiy Haran, professor de política comparada na Universidade de Kiev-Mohyla, Trump tem sido muito ingênuo desde o início do atual mandato. “Ele sempre acreditou que seria fácil alcançar um acordo de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia e que Putin estaria interessado nisso. Mais cedo ou mais tarde, o presidente americano perceberá que foi enganado pelo chefe do Kremlin. Quando Trump surgiu com a ideia de uma trégua, a Ucrânia concordou com o plano e Putin rejeitou o cessar-fogo”, lembrou ao Correio. “Na última conversa entre os dois, Trump disse que foi um ótimo diálogo e, na mesma noite, Putin bombardeou Kiev de forma muito intensa. Desde então, tem realizado ataques aéreos diários contra a Ucrânia.”
Haran considera muito importante o anúncio dos Estados Unidos sobre o aumento de entrega de suprimentos para a Ucrânia. “Trump hesitava em fazê-lo e afirmava ser difícil enviar até mesmo uma bateria antiaérea Patriot. Nesta segunda-feira, ele anunciou o repasse de 17 sistemas Patriot para Kiev. Para a defesa dos civis ucranianos, isso é bastante significativo. Trump também prometeu vender equipamentos militares e armamentos para países da Europa, que deverão repassá-los à Ucrânia.” O estudioso acrescentou que os EUA decidiram congelar ativos russos em países europeus. “Isso seria dinheiro para Kiev, recursos para comprar armas dos EUA”, explicou.
O professor ucraniano afirmou que Trump espera um “acordo justo” com Putin. “Um acordo justo representaria a liberação de todos os territórios da Ucrânia. Trump está pronto a fornecer armas ofensivas a Kiev e intensificar as sanções? Não sabemos o que Trump tem em mente”, disse Haran. Ele mostrou ceticismo em relação a punições contra Putin, enquanto estiver à frente da Rússia, e avalia como crucial que, com o silenciar das armas, a Justiça de Kiev ordene a devolução das crianças ucranianas sequestradas pelas tropas invasoras e levadas para a Rússia, e a libertação dos presos de guerra.
EU ACHO…
“Trump exortou o Congresso a aprovar rapidamente as sanções contra a Rússia. Ele falou que será uma tarifa de 100%, mas trata-se de ‘sanções secundárias’, usadas contra países que compram petróleo e gás russos. É uma arma importante, que limitará o uso de receitas vindas do petróleo para financiar a guerra. Mas, acredito que o ultimato de 50 dias é muito tempo. Todos os dias, civis ucranianos estão sendo assassinados.”
Olexiy Haran, professor de política comparada na Universidade de Kiev-Mohyla
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP