A 48 horas do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre os produtos brasileiros, integrantes do governo e senadores tentam, sem sucesso, abrir um canal de negociação com a Casa Branca.
Ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou o posicionamento do Brasil ante a imposição unilateral da sobretaxa de 50% sobre produtos nacionais. “Tem de haver uma preparação antes, para que seja uma coisa respeitosa, para que os dois povos se sintam valorizados à mesa de negociação e não haja um sentimento de viralatismo, de subordinação”, disse Haddad, ao falar com jornalistas na portaria do Ministério da Fazenda.
Apesar da tensão, o ministro deixou claro que o Brasil continuará buscando entendimento com os EUA. “O Brasil nunca abandonou a mesa de negociação”, disse. “Acredito que esta semana haja algum sinal de interesse em conversar. Está ficando mais claro o nosso ponto de vista, inclusive para autoridades dos EUA.”
Sobre a data anunciada pelos Estados Unidos para a entrada em vigor das tarifas, Haddad minimizou seu impacto imediato. “Não sei se vai dar até dia primeiro. Mas o que importa não é essa data fatídica. Não é uma data fatídica. É uma data que pode ser alterada por eles, pode entrar em vigor e nós nos sentarmos e rapidamente concluímos uma negociação”, afirmou.
A possibilidade de uma conversa direta entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump foi descartada, por ora, por não seguir o protocolo necessário. “Não é uma questão de sair correndo atrás. É preciso uma liturgia, um protocolo. O presidente Lula representa o povo brasileiro. E respeito à soberania passa por isso.”
Em resposta à crise comercial, o governo federal já estruturou um plano de contingência para reduzir os impactos da medida americana sobre a produção e o emprego no Brasil. De acordo com Haddad, o plano foi apresentado ao presidente Lula, que, segundo o ministro, demonstrou tranquilidade e confiança. “Estamos muito confiantes de que preparamos um trabalho robusto para enfrentar esse momento, que é externo e não foi criado por nós. O Brasil vai cuidar das suas empresas, dos seus trabalhadores e, ao mesmo tempo, manter a busca por racionalidade e respeito mútuo.”
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Midc), Geraldo Alckmin, continuou realizando reuniões com setores afetados pelo tarifaço. Ontem, foi a vez de representantes de empresas da área de tecnologia e, segundo Alckmin, a reunião “foi bastante proveitosa”. Ele tem buscado interlocução com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, mas também não teve avanços nas conversas. Uma pessoa que acompanha o dia a dia na Esplanada avaliou que o diálogo ganhou tração ao longo dos últimos dias e que o governo ainda “não jogou a toalha”. A assessoria de Alckmin afirmou, oficialmente, que a prioridade do governo continua sendo a negociação geral em torno da tarifa de 50% anunciada por Donald Trump, e não a exclusão de setores específicos, como alimentos e aviões da Embraer.
Missão de senadores
O grupo de oito senadores governistas e de oposição que viajou aos Estados Unidos para tentar negociar o tarifaço com autoridades do governo Trump encerra, hoje, a missão em Washington sem ter se reunido uma única vez com um representante da gestão do republicano. Os parlamentares não conseguiram uma perspectiva de adiamento do início das novas taxas de 50% sobre produtos brasileiros, que começa nesta sexta-feira. O grupo vai finalizar a passagem pelos EUA da mesma forma que começou: na Embaixada do Brasil na capital norte-americana.
Ontem, foi a vez de os senadores conversarem com congressistas norte-americanos governistas e da oposição. A lista dos parlamentares não foi divulgada. Hoje, após encontro com representantes da Americas Society/Council of the Americas, organização sem fins lucrativos que reúne lideranças da sociedade civil e do setor empresarial, os parlamentares devem fazer um balanço da missão. O foco principal dos senadores era abrir as portas da Casa Branca para a negociação. (Com informações da Agência Estado)
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Diogo Zacarias