O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), encontrou-se, nesta sexta-feira (11), com o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, na tentativa de abrir um canal de negociação para a suspensão da tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros, imposta pelo presidente Donald Trump. Desde o dia anterior em Brasília, quando encontrou-se com o ex-presidente Jair Bolsonaro e almoçaram juntos em uma churrascaria, ele vem sendo criticado por não ter criticado enfaticamente o tarifaço e passou a ser pressionado pelos industriais paulistas — que serão duramente afetados.
Em postagem no Instagram pessoal, Tarcísio anunciou o encontro com Escobar e afirmou que, apesar de a iniciativa do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter anunciado a formação de uma comissão de negociação — que reunirá o empresariado na busca por soluções contra a imposição de Trump —, fará um esforço em paralelo. “Acabo de me reunir com Gabriel Escobar, encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, em Brasília. Conversamos sobre as consequências da tarifa para a indústria e o agro brasileiro e também o reflexo disso para as empresas americanas. Vamos abrir diálogo com as empresas paulistas, lastreado em dados e argumentos consolidados, para buscar soluções efetivas. É preciso negociar. Narrativas não resolverão o problema. A responsabilidade é de quem governa”, observou.
Tarcísio sinalizou que buscará interlocução não apenas com o corpo diplomático dos EUA, mas com empresas norte-americanas instaladas em São Paulo, muitas das quais também podem ser prejudicadas por possíveis contra-medidas comerciais e escassez de insumos. “Negociar com racionalidade, sem embarcar em polarizações ideológicas, pode ser o caminho mais eficaz para preservar o ambiente de negócios e proteger empregos”, disse uma fonte da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do estado.
Por meio de nota, a Embaixada dos EUA em Brasília confirmou a reunião com Tarcísio e disse que diplomatas norte-americanos se reúnem regularmente com governadores brasileiros. “A Embaixada dos EUA promove os interesses das empresas americanas e a cooperação bilateral”, disse o documento.
Escobar foi convocado duas vezes pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quarta-feira. Primeiramente, para explicar o posicionamento da Embaixada, que chancelou a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro feita por Trump. Em seguida, para esclarecer a “veracidade” da carta do presidente norte-americano anunciando a imposição da tarifa de 50% aos produtos brasileiros. Escobar é a principal autoridade do governo dos EUA no País desde janeiro, quando a então embaixadora Elisabeth Bagley voltou aos EUA. Trump não indicou seu novo representante.
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também se pronunciou sobre a reunião de Tarcísio e Escobar. Disse que “quem está colocando ideologia acima dos interesses do país” é o governador de São Paulo, assim como “todos os cúmplices de Bolsonaro que aplaudem o tarifaço de Trump contra o Brasil, que pensam apenas no proveito político que esperam tirar da chantagem do presidente do EUA”.
Para especialistas, a iniciativa de Tarcísio tem mais efeito junto às redes sociais bolsonaristas do que para a suspensão das sanções. Lembram que o Brasil é uma República Federativa, o que impede que as unidades da Federação negociem autonomamente, com outras nações, questões que afetam todo o país. Isso representa que, se o governo norte-americano decidir suspender o tarifaço, será porque houve um entendimento direto entre a Casa Branca e o Palácio do Planalto.
No front legislativo, o líder do PT na Câmara dos Deputados, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), acusou Tarcísio e os filhos de Bolsonaro, o deputado licenciado Eduardo (PL-SP) e o senador Flávio (PL-RJ), de cometeram uma “chantagem aberta contra o país” e articularem a fuga do ex-presidente para os EUA. “Querem humilhar as instituições e livrar a cara do Bolsonaro. É isso ou jogam uma bomba no país. Agem como sequestradores de toda uma nação e, agora, aparecem pedindo o resgate!”, disse, acrescentando que o clã quer transformar o presidente norte-americano “numa espécie de novo poder moderador no Brasil”.
“O papel que atribuíam aos militares agora é substituído pelo de Trump. Espero que essa versão de que Bolsonaro viajaria acompanhando de Hugo Motta e Davi Alcolumbre não seja verdadeira. Iam pedir autorização do Trump para votar a anistia no Congresso?”, criticou o deputado, dando a entender que os presidentes da Câmara e do Senado estariam por trás de alguma negociação que favorecesse o ex-presidente ou aos condenados pelas invasões às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
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