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quinta-feira, abril 24, 2025

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Skate une brasilienses de realidades e experiências distintas

Um dos esportes radicais mais populares do mundo e recentemente adicionado ao calendário...

Um dos esportes radicais mais populares do mundo e recentemente adicionado ao calendário olímpico, o skate nem sempre foi respeitado como uma prática de valor. Foram as ações de brasilienses pioneiros dessa modalidade que conseguiram pavimentar um caminho para novas gerações. No Plano Piloto, essa turma se junta no Setor Bancário Sul.

O local, principalmente em frente à agência do Banco do Brasil, é ocupado pelos skatistas por ter o piso bom para as rodinhas, além de bancos e plataformas que se transformam em obstáculos ideais para as manobras. O espaço aberto é um dos berços do talento brasiliense nas pranchas de quatro rodas. De lá, saíram nomes grandes como o atleta olímpico Felipe Gustavo, por exemplo.

Com o passar do tempo, a point foi ganhando mais cara de skate parque, com novos corrimões e rampas que os próprios praticantes foram trazendo. “Todo espaço aqui foi feito pelos skatistas. A gente aproveita a área da melhor forma possível”, conta Bruno Lucca, 28, instrutor de skate e frequentador do local desde criança.

A cultura do skate de Brasília foi se desenvolvendo lá, cada um ajudando o outro a se desenvolver no esporte, que também oferece lazer e socialização. O skate é um estilo de vida, e a coletividade é crucial nesta prática. “O skate é uma contracultura, a galera começou e sempre foi muito discriminada. Por isso, os skatistas se ajudam, eles se juntavam para praticar e viver nessa mesma vibe”, avalia Bruno. “O skate é o esporte individual mais coletivo que existe. Não dá para fazer o skate sozinho, ele precisa dessa energia de união”, complementa.

Portanto, antes de ser sobre notas e manobras radicais, o skate é sobre a união entre as pessoas que ali estão praticando juntas. “O esporte traz uma socialização diferenciada. Não existe raça, credo, cor ou classe social dentro do skate, a gente se torna família”, reforça Robson Diego de Menezes Oliveira, 42, skatista que criou e coordena o projeto social gratuito Brasil Skate School.

Robson sempre frequentou o Setor Bancário, mas não conseguia levar os alunos para o local. Dessa forma, dava aulas em Taguatinga Norte. Com o advento da tarifa zero nos finais de semana, o skatista passou a levar os alunos para socializarem com os outros frequentadores do local. “Queria selar a união dos meus alunos com os skatistas raízes, pessoas que fizeram a história e que até hoje praticam nesse icônico lugar”, conta.

O instrutor vê muito potencial em Brasília quando enxerga a cidade pela ótica do skate. “A capital do país tem muitas pessoas que acreditam, poderia ser mais, mas se não fossem as pessoas que apoiam, o meu projeto e este lugar não seriam possíveis”, reflete. “Eu acredito no potencial que as pessoas de Brasília têm para fazer o bem. Fazer bem ao próximo é uma atitude contagiante, e quanto mais gente nisso, melhor fica”, completa.

Ensinamentos 

Robson se diz salvo pelo skate. O projeto de ensinar crianças a praticarem o esporte o reinseriu na sociedade pouco tempo depois dele sair da prisão. O agora instrutor era usuário de drogas e se envolveu com o tráfico, por isso, acabou na cadeia, cumpriu pena e ressocializou-se. “O fato de estar fazendo bem para o próximo me faz ter forças todos os dias e evita que eu volte para as drogas e a criminalidade. Estou sempre atuando pensando no bem coletivo do projeto”, relata.

Para além da bonita história de superação de Robson, o skate também faz a mudança nos pequenos detalhes. O estudante Leonardo Verri, 12, por exemplo, aprende todos os dias, desde que decidiu fazer aulas do esporte há dois anos. “Ele entendeu a importância de esperar a própria vez, que tem pessoas menores que ele e que é bom admirar e se sentir incentivado por pessoas mais avançadas”, comenta Lilian Naddeo, 47, fisioterapeuta e mãe do Leo.

Incentivo

Ela admite ter torcido o nariz quando o filho pediu para praticar o esporte. “Honestamente, tinha um certo preconceito, porque não era do meu mundo”, lembra Lilian, que agora está muito feliz de ter aceitado e incentivando o filho na prática. “Achei que era uma fase, mas não passou. Ele está há dois anos praticando e amando. Aquele preconceito não existe mais, eu vejo o skate de outra forma”, completa.

A forma de ver o mundo é alterada pelo skate. “Uma pessoa passa por um banco e vê algo normal, a gente olha para aquele banco e enxerga uma possibilidade de manobra”, diz André Willian, 28, skatista profissional, instrutor de Leonardo e frequentador do Setor Bancário desde os 10 anos de idade. “Eu gosto de mostrar para os meus alunos os lugares que me empolgaram quando eu era mais novo, sinto que estou continuando o legado”, destaca.

Se todos esses skatistas são uma família, o lugar em que eles criam memórias torna-se uma casa. “Basicamente, todas conexões duradouras da minha vida eu fiz aqui”, afirma Yuri Fonseca, 38, fisioterapeuta e frequentador do local há mais de 25 anos. Ele chegou ao Setor Bancário porque o pai trabalhava no local. Entretanto, ele não se lembra de uma vida antes de fazer manobras naquele local de chão liso. “Eu ando de skate desde novo, não lembro da minha vida sem skate. Para mim, a vida sempre foi skate, trabalhei com skate, fiz minhas escolhas de vida baseadas no nesse esporte, tudo sempre foi skate”, ressalta. “O skate mudou, mas esse lugar não deixa de ser importante para mim”, finaliza.

Por Pedro Ibarra do Correio Braziliense

Foto: Pedro Ibarra/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense

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