A comitiva de senadores brasileiros da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) inicia, na próxima segunda-feira (28/7), uma série de compromissos na tentativa de reverter as tarifas de 50% impostas pelo governo dos Estados Unidos a produtos brasileiros como aço e alumínio. Os oito parlamentares embarcam hoje para Washington.
Conforme as diretrizes acordadas com o Itamaraty, a missão terá caráter exclusivamente institucional, voltado ao diálogo e ao fortalecimento das relações bilaterais, sem envolvimento direto em negociações formais com a Casa Branca. A expectativa dos senadores é realizar uma “interlocução sobre as relações econômicas bilaterais com os EUA”.
Na segunda, as atividades terão início pela manhã, com recepção na residência oficial da embaixadora do Brasil em Washington. Jornalistas poderão registrar a chegada dos parlamentares no local. Na parte da tarde, os senadores se reúnem com lideranças empresariais e representantes do Brazil-U.S. Business Council na sede da U.S. Chamber of Commerce, onde será permitido o registro de imagens externas. As discussões internas, no entanto, terão cobertura exclusiva da assessoria oficial, que divulgará posteriormente registros e informações institucionais.
O segundo dia da agenda inclui reuniões estratégicas com autoridades norte-americanas. Todos os compromissos serão fechados à imprensa, com divulgação posterior de fotos, vídeos e conteúdos produzidos pela equipe oficial da missão.
Na manhã de quarta-feira, último dia da missão, os parlamentares visitarão a Americas Society/Council of the Americas. A programação se encerra com uma coletiva de imprensa, na sede da Embaixada do Brasil em Washington, que deve marcar o balanço oficial da missão, com declarações dos parlamentares sobre os avanços e resultados obtidos nas negociações.
A comitiva foi liderada pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Dos oito senadores que integram a comissão temporária criada para dialogar sobre as tarifas, quatro ocupam vagas titulares no grupo.
Além do presidente, estão confirmados como titulares Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado; Tereza Cristina (PP-MS); e Fernando Farias (MDB-AL). Completam a delegação, na condição de suplentes, os senadores Marcos Pontes (PL-SP), Esperidião Amin (PP-SC), Rogério Carvalho (PT-SE) e Carlos Viana (Podemos-MG).
Medidas paliativas
O setor produtivo iniciou conversas com o governo federal para definir medidas paliativas que possam atenuar os impactos da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto. A iniciativa busca proteger a competitividade das exportações nacionais e minimizar prejuízos para a indústria, especialmente nos segmentos mais afetados pela medida.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, afirmou que, neste momento, a alternativa mais realista é concentrar esforços na tentativa de postergar as tarifas.
Uma das alternativas apontadas, de acordo com ele, seria redirecionar os produtos destinados à exportação para o mercado interno.
“Na nossa percepção, o crédito é relevante, mas o que resolve o problema é o mercado e nós temos um importante mercado aqui no Brasil. É mais rápido você agir em cima do mercado brasileiro do que tomar mercado lá fora, que são negociações de longo prazo”, disse, ontem, após reunião com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, no Palácio do Planalto.
“O que efetivamente vai resolver o problema é encontrar mercado para os produtos que sairiam deslocados do mercado americano”, emendou. Roscoe, que reforçou o alerta sobre o risco de desindustrialização e solicitou ações urgentes para conter a entrada crescente e desordenada de produtos estrangeiros no mercado brasileiro.
Ele defendeu a aplicação de medidas como antidumping, que são adotadas por um país para proteger sua indústria nacional contra práticas comerciais desleais, previstas pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Falei e destaquei a relevância da gente proteger o mercado brasileiro da invasão de produtos importados, que está ocorrendo em função da guerra comercial e internacional e da implementação de medidas previstas na OMC, como antidumping, e como avaliação também do fluxo de importações, para que haja ali uma proteção do mercado local”, afirmou.
Um estudo da Fiemg, divulgado nesta semana, apontou que as tarifas podem ter um custo de até R$ 175 bilhões ao Brasil. Mesmo diante do cenário preocupante, Roscoe definiu a reunião como produtiva. “O vice-presidente deixou de maneira muito clara que está atuando de maneira contundente junto ao governo americano, mas de maneira discreta.”
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Saulo Crus/Agência Senado