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Saúde mental do pai influencia no desenvolvimento dos filhos, diz estudo

As mães carregam grande parte da responsabilidade pelo desenvolvimento saudável de uma criança,...

As mães carregam grande parte da responsabilidade pelo desenvolvimento saudável de uma criança, desde a gestação até a adolescência.

Mas um estudo novo e abrangente se soma ao crescente corpo de evidências que apontam que os pais também são responsáveis pelos tipos de desenvolvimento que ajudam as crianças a crescerem física, emocional e cognitivamente.

A angústia mental dos pais está levemente associada a um desenvolvimento infantil abaixo do ideal, incluindo o desenvolvimento cognitivo, socioemocional, da linguagem e físico, segundo o estudo publicado na segunda-feira (16) na revista JAMA Pediatrics.

Os pesquisadores definiram angústia mental como sintomas ou diagnóstico de depressãoansiedade, uma combinação de ambos ou estresse. As descobertas foram especialmente relevantes no período perinatal, que vai da concepção até dois anos após o parto.

Durante esse período, o feto em desenvolvimento, o bebê e depois o bebê que se torna criança pequena são particularmente sensíveis a qualquer angústia mental vivenciada pelos pais, especialmente pela mãe, de acordo com o estudo. “Os homens estão em risco aumentado de angústia mental durante a transição para a paternidade, com taxas de prevalência no período perinatal de até 8% para depressão clínica, 11% para ansiedade e de 6% a 9% para estresse elevado”, escreveram os autores do estudo.

“Esta é a revisão global mais abrangente até hoje sobre a associação entre a saúde mental perinatal dos pais e o desenvolvimento dos filhos”, afirma Delyse Hutchinson, autora sênior do estudo e professora associada no SEED Lifespan Research Centre da Universidade Deakin, na Austrália, por e-mail.

“O que mais se destacou foi a consistência impressionante das tendências observadas nos resultados”, diz Hutchinson, que é psicóloga clínica. “Isso destaca a importância de apoiar os pais, se quisermos ver melhores resultados para as famílias.”

Embora estudos anteriores já tenham relacionado a má saúde mental dos pais a possíveis prejuízos no desenvolvimento dos filhos, os resultados eram limitados pelo número de formas de desenvolvimento investigadas ou pela força dos achados.

Além de expandir esse tipo de pesquisa para além das relações entre mãe e filho, os autores também quiseram preencher essas lacunas. Eles analisaram os vínculos entre depressão, ansiedade ou estresse paterno e seis tipos de desenvolvimento infantil: socioemocional, adaptativo, cognitivo, da linguagem, físico e motor, do nascimento até os 18 anos.

Os fatores de desenvolvimento socioemocional incluíam a capacidade da criança de formar relacionamentos positivos com colegas, agir de maneiras que beneficiem os outros, ter vínculos afetivos saudáveis, acalmar-se sozinha e ter um temperamento equilibrado. A adaptabilidade se referia à capacidade da criança de responder a mudanças e lidar com as demandas do dia a dia. O desenvolvimento cognitivo incluía a saúde das funções executivas, tomada de decisões, memória, atenção, aprendizagem, QI e desempenho acadêmico.

Os fatores de desenvolvimento físico incluíam parto prematuro, crescimento gestacional e altura, peso, atraso no crescimento, dor abdominal e saúde do sono durante a infância. O desenvolvimento motor referia-se às habilidades motoras finas, que envolvem o uso de pequenos músculos para ações como escrever ou abotoar, e às habilidades motoras grossas, que usam músculos maiores para movimentos como acenar, andar ou mastigar.

Construindo evidências sobre a saúde paterna

As conclusões derivam de 84 estudos anteriores, totalizando milhares de pares pai-filho. Todos os estudos acompanharam os participantes ao longo do tempo, com a angústia mental medida desde a gestação até dois anos após o nascimento, segundo Hutchinson. Os autores excluíram estudos com pais que tinham uma condição médica, tomavam medicamentos ou consumiam álcool ou outras drogas.

Não foram encontradas evidências de vínculos entre angústia mental paterna e desenvolvimento adaptativo ou motor, segundo o estudo. Mas houve associações pequenas ou quase nulas com os demais desfechos do desenvolvimento, incluindo o socioemocional, cognitivo, da linguagem e físico. Os maiores impactos foram observados na primeira infância, depois na fase de bebê e, por fim, na infância intermediária.

As associações também foram geralmente mais fortes para a angústia mental pós-natal do que para a angústia pré-concepção, “sugerindo que o estado mental do pai pode exercer uma influência mais direta sobre o desenvolvimento da criança após o nascimento”, segundo os autores. A angústia mental do pai pode afetar sua sensibilidade e capacidade de resposta nas interações com o filho e prejudicar a segurança do vínculo, explica Hutchinson.

“O momento desta revisão é excelente”, escreveram os especialistas independentes Craig Garfield, Clarissa Simon e John James Parker, do Ann & Robert H. Lurie Children’s Hospital, em um comentário sobre o estudo. “Os pais passam mais tempo do que nunca cuidando dos filhos e são cada vez mais reconhecidos como contribuintes importantes para a saúde e o bem-estar da família.”

Os resultados confirmam evidências já bem estabelecidas sobre a importância da parentalidade de apoio para o bem-estar das crianças, segundo Arwa Nasir, professora de pediatria na Universidade de Nebraska Medical Center, em Omaha, Nebraska, por e-mail. Nasir não esteve envolvida no estudo.

“A pesquisa sobre o papel que os pais desempenham na vida de seus filhos é importante”, acrescenta Nasir. “Espero que estudos futuros também esclareçam todas as formas importantes e maravilhosas pelas quais os pais podem enriquecer e apoiar a saúde e o desenvolvimento de seus filhos.”

O que ainda não se sabe

Embora a ideia de que o bem-estar do pai influencie o filho possa parecer uma conclusão natural, uma limitação do estudo é sua dependência parcial da chamada literatura cinzenta — pesquisas não publicadas que, neste caso, incluíam teses de doutorado e entrevistas com autores de estudos publicados que atendiam aos critérios, mas que não haviam divulgado dados relevantes. Das 674 associações encontradas, 286 vieram de trabalhos não publicados.

No entanto, os autores do novo estudo afirmam que, ao compararem suas descobertas baseadas em pesquisas publicadas com os resultados obtidos a partir de estudos não publicados, as novas associações permaneceram semelhantes para a maioria das categorias de desenvolvimento.

Além disso, embora o estudo seja “bem elaborado”, ele não comprova uma relação causal e carece de um contexto mais amplo, segundo Nasir.

“Pode simplesmente ser que tanto o bem-estar emocional dos pais quanto o dos filhos sejam impactados pelos mesmos fatores psicossociais e pressões socioeconômicas maiores, como pobreza, racismo estrutural e desigualdades em saúde”, explica Nasir. “Apresentar a associação entre a saúde mental dos pais e os desfechos de saúde dos filhos de forma isolada, sem considerar os fatores sociais mais amplos, corre o risco de colocar nos pais a culpa pelos problemas das crianças.”

Essa interpretação também pode ser estigmatizante, acrescenta Nasir. “Se o objetivo é apoiar a saúde e o desenvolvimento ideais das crianças, acredito que nosso foco em pesquisa e ação deve ser explorar maneiras pelas quais a sociedade pode apoiar os pais por meio da segurança econômica, da equidade e da justiça.”

Melhorando o bem-estar dos pais

O estudo enfatiza a importância de avaliar e tratar o bem-estar de ambos os pais durante as visitas de cuidados de saúde no período perinatal, segundo especialistas.

“Com base na estratégia de décadas de triagem perinatal materna para (depressão pós-parto), médicos, pesquisadores e formuladores de políticas podem usar a infraestrutura materna existente para criar programas e políticas voltados para os pais, que busquem melhorar a saúde mental dos pais e das famílias”, escrevem Garfield, Simon e Parker.

Os pais são os guardiões “das gerações futuras da sociedade”, acrescenta Nasir. “Apoiar o bem-estar das famílias deveria ser uma prioridade nacional.”

Mas, para receber ajuda, os pais precisam se manifestar e responder com sinceridade às perguntas sobre saúde mental, acrescentaram.

“É importante que os pais estejam cientes de que tornar-se pai pode ser um período desafiador, e que muitos passam por altos e baixos nesse momento”, diz Hutchinson.

Buscar apoio precocemente pode fazer a diferença e isso é uma força, não uma fraqueza. Os pais podem conversar com clínicos gerais, terapeutas ou profissionais em clínicas especializadas em gravidez ou pós-parto sobre sintomas de saúde mental, segundo Hutchinson. Grupos de apoio entre pais e aplicativos online que utilizam mindfulness e terapia cognitivo-comportamental para ajudar a lidar com o humor também podem ser eficazes.

Mesmo que seus filhos já sejam mais velhos, nunca é tarde para priorizar sua saúde, orienta Hutchinson. Todas as idades e fases do desenvolvimento infantil são importantes, não apenas um único momento no tempo.

Por Revista Plano B

Fonte CNN Brasil       

Foto: Image taken by Mayte Torres/GettyImages

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