Outros posts

Salada de Letras: a banca itinerante que só vende autores de Brasília

Por Camila Coimbra Em meio ao burburinho das feiras de Brasília, um vendedor...

Por Camila Coimbra

Em meio ao burburinho das feiras de Brasília, um vendedor chama atenção com seu bordão: “Salada de Letras, só autores de Brasília!”. Nathan Kacowicz, 65 anos, mineiro de nascimento e candango de coração, transformou uma mesa improvisada em um projeto de resistência literária. Desde 2021, sua banca itinerante percorre feiras da capital, atualmente a banca conta com mais de 400 títulos de 180 autores locais. 

De Belo Horizonte para o coração do cerrado

Nascido em Belo Horizonte, Nathan chegou a Brasília em 2010 para trabalhar como representante comercial de material odontológico. A mudança definitiva veio quando sua filha se mudou para estudar artes cênicas. “Ela voltou, mas eu fiquei. Me apaixonei por Brasília. Hoje me considero um brasiliense”*, diz.  

A virada para o mundo literário começou em 2019, quando publicou seu primeiro  livro de contos, “Branco”, com ajuda da Editora Outubro, fundada por Clara Arreguy, ex-colega de Belo Horizonte. A pandemia frustrou os planos iniciais, mas, em 2021, morando na 110 Norte, ele decidiu arriscar: desceu para a feira com uma mesa. A partir da iniciativa de montar a própria banca no meio da feira como uma forma de divulgar seu próprio livro, Nathan pensou além, invés de só expor o seu lançamento decidiu incluir outros autores de Brasília e assim iniciou seu projeto com 18 títulos e cinco autores.”Foi boca a boca. Autores começaram a chegar: ‘Você tem uma banca só de autores de Brasília?’”, lembra.  

Nathan explica que a Salada de Letras funciona no sistema de consignação e reúne desde poetas consagrados, como Nicolas Behr, até autores independentes, como Ana Paula Maia, Dada Escarrise e Iris Borges. “Não considero uma curadoria em si. Se é de Brasília, entra, se for ilustrador de Brasília, autor ou editora, faz parte. Mas leio tudo antes de vender”, afirma.  

Histórias Orgânicas

O nome surgiu de forma espontânea: “Pensei em algo fresco, misturado, como uma salada de frutas — mas com letras”. Já o subtítulo, “Histórias Orgânicas”, é um manifesto: “São livros feitos por pessoas reais, não por inteligência artificial. E a venda aqui também é orgânica: depende do olho no olho”.  

Enquanto o mercado editorial nacional enfrenta crises, Nathan explica que a maior parte das suas vendas vem de livros infantis: “Livros infantis são nossos campeões, 60% das vendas são deles; Muitos pais ainda incentivam os filhos a ler, e isso me emociona”. Entre os preferidos estão obras que usam Brasília como pano de fundo, aqui na banca tenho cerca de uns seis títulos infantis em que a cidade vira personagem.  

O Salada de Letras está presente em quatro feiras por semana, na feira da 110 Norte, 206 Sul, 404 Norte e na feira do Noroeste, sempre das 5h ao meio-dia. Ao ser questionado sobre levar sua banca ao eixão ou Parque da Cidade por conta do grande fluxo de pessoas, ele explica o porquê da escolha apenas pelas feiras. “Quem caminha não quer carregar livro. Feira é lugar de comprar”. O ambiente o cativou: “Os feirantes são parceiros. Um ajuda o outro, e o pregão é essencial”.  

Apesar das dificuldades em 2025, ele segue firme. “Livro não é presente de data comemorativa. É hábito”*, reforça. Para Nathan, mais do que vender livros, o importante é criar conexões. “Aqui tudo é boca a boca. Os autores chegam porque ouviram falar. Os leitores voltam porque se encantaram com uma história. É uma construção coletiva, uma salada mesmo, feita com o que Brasília tem de mais bonito: suas palavras.”

Por Camila Coimbra do Jornal de Brasília

Foto: Camila Coimbra / Reprodução Jornal de Brasília         

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp