Um incêndio atingiu, na madrugada desta sexta-feira (27/6), um prédio na 408 Sul, causando a morte de Carlos Bellone Neto, 75 anos. Ele morava com a mulher, Maria Leda dos Santos, de 49 anos, que estava no apartamento, mas conseguiu escapar pela janela e teve apenas ferimentos leves. A fuga foi possível pelo fato de o imóvel ficar no térreo. A causa do incêndio ainda não foi identificada, mas suspeitas apontam para uma vela acesa no apartamento. Segundo vizinhos, Carlos tinha o costume de acendê-las diariamente por motivos religiosos. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga as circunstâncias do incêndio, por meio da 1ª Delegacia de Polícia.
Os bombeiros foram acionados ainda na madrugada e precisaram arrombar a entrada do apartamento, uma vez que a porta estava trancada. Segundo os bombeiros, o incêndio ocorreu por volta de 1h40. Ao Correio, um vizinho relatou que tentou ajudar a resgatar o idoso após a mulher bater em sua porta. “Eu estava em casa assistindo tevê quando ela veio pedir ajuda. Chegamos a ouvi-lo pedindo socorro e fizemos de tudo para ajudar, mas infelizmente, não conseguimos”, contou o vizinho e amigo da vítima, Sérgio Lima Peixoto, 60.
O filho de Sérgio, Jorge Peixoto, 32, chegou a pegar um extintor para tentar conter as chamas, mas não foi possível. “O fogo estava muito alto, não adiantou. No meio de tudo, fiquei preocupado com minha mãe, que estava em estado de choque”, contou. “Por ele ser obeso, a gente o ajudava a abrir a porta, a fazer compras. Tínhamos uma relação boa. Éramos família, meu pai foi padrinho de casamento dele”, completou Jorge.
“Sempre muito bacana com todos os moradores. Procurava ajudar quem precisava. Nós tínhamos planos de viajar juntos para o Rio de Janeiro, mas o fogo venceu a gente”, acrescentou Sérgio. Carlos era portador da síndrome Guillain-Barré, que afeta o sistema nervoso e limita a mobilidade. As condições de saúde impediram que ele escapasse, como a mulher, pela janela do imóvel.
Segundo relatos de vizinhos ao Correio, o fogo chegou a causar o desligamento total de energia no prédio. O apartamento de Carlos tinha cerca de 50m² e muitos móveis de madeira, acumulados pelo casal. O excesso de material contribuiu para que as chamas se espalhassem rapidamente. A sala teria sido o foco das chamas, que chegaram a atingir o corredor do prédio. “Algumas pessoas tinham o alertado de que o lugar era um forno à lenha e que era perigosa a quantidade de coisas que mantinham lá dentro”, lamentou um vizinho que não quis se identificar.
Alerta
Após o ocorrido, a Defesa Civil realizou uma inspeção no prédio para avaliar possíveis danos estruturais. De acordo com o capitão Mauro Sérgio, o apartamento onde o fogo começou está interditado e o síndico do prédio será notificado para contratar um engenheiro responsável para emitir um laudo técnico. “Um engenheiro poderá fazer uma avaliação estrutural e verificar se houve comprometimento da estrutura. Após isso, retornaremos ao local para conferir se a análise foi feita e receber esse laudo oficialmente”, explicou o capitão ao Correio.
De acordo com a Defesa Civil, o condomínio terá o prazo inicial de 30 dias para apresentar o documento. Se necessário, poderá ser prorrogado por mais 30, mediante solicitação formal. Segundo o órgão, não há previsão de interdição do prédio como um todo, mas o apartamento atingido pelas chamas permanecerá isolado. Apesar da tragédia, a Defesa Civil informou que os demais apartamentos do prédio poderão ser reocupados normalmente, pois, até o momento, não há indícios de risco para os demais moradores.
Socorro
Médico especialista em primeiros socorros, Paulo Guimarães explicou as formas mais seguras de agir ao prestar ajuda para vítimas que tenham sido atingidas por incêndio. “A maior ameaça em incêndios não é o fogo, é a fumaça tóxica, que costuma se espalhar rapidamente pelo ambiente. Quando tem muita fumaça, é importante tentar sair do local engatinhando pelo solo, porque a fumaça tende a ficar no teto”, orientou. “Se possível, o ideal é pegar um pano úmido e colocar sobre o nariz e a boca para tentar filtrar ao máximo a fumaça tóxica no momento da evacuação. Essa fumaça pode conter monóxido de carbono e cianeto, substâncias que comprometem a respiração rapidamente”, acrescentou.
Guimarães alertou para os casos de pessoas que não se queimaram e, por isso, não procuram ajuda médica. “Muitas vezes, quando começa com sinais de tosse, falta de ar, tontura, dor de cabeça, estridor (às vezes, é um chiado no peito ou uma respiração com ronco). Nesses casos, pode ter tido queimadura das vias aéreas por conta da inalação de gases superaquecidos. Se a via aérea queimar, você pode ter edema de vias aéreas”, destacou. “Portanto, é muito importante que essa pessoa procure o serviço de emergência médica mais próximo para que ela possa ser examinada com mais detalhes”, concluiu.
Incêndios com morte no DF
Maio de 2024 — Um incêndio em um apartamento localizado no Edifício Monet, em Águas Claras, causou a morte de Zely Curvo, 94 anos. Dois meses depois da tragédia, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) concluiu que o incêndio foi criminoso e teve como foco a maca em que a idosa, morta por causa das chamas, passava o tempo inteiro deitada. Lauro Estevão Vaz, filho de Zely, foi indiciado por feminicídio triplamente qualificado.
Agosto de 2024 — Cinco pessoas da mesma família morreram em um incêndio causado por uma vela em um altar, no Bairro Nossa Senhora de Fátima, às margens da DF230, em Planaltina. As vítimas foram uma mulher de 43 anos, uma adolescente de 14 e três crianças, de cinco, oito e nove anos. Vizinhos afirmaram que a proprietária do imóvel possuía um altar religioso e tinha o hábito de acender velas todas as segundas-feiras.
Fique atento
Instalação e cuidados com o gás de cozinha
» Ao instalar o gás, use redutor de pressão e deixe portas e janelas abertas
» Não faça estoque de gás em casa
» Use conectores certificados
» Redes elétricas não podem estar próximas à rede de gás
» Superfícies quentes devem estar afastadas da mangueira
» Não armazene botijão de gás
» Ao sentir cheiro de gás: Não toque nos interruptores de energia, não acenda a luz, abra portas e janelas, feche o registro de gás. Se o vazamento piorar, afaste-se do local e ligue 193
Ao utilizar velas
» Use castiçal, recipiente de vidro ou cerâmica, com um pouco de água
» Em caso de falta de energia, use lanternas ou luminárias de emergência
» Mantenhas velas longe de cortinas, roupas, papéis ou cabelos
» Evite mover velas quando estiverem acesas
» Nunca deixe velas acesas ao sair de casa
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press