Outros posts

Rua japonesa em Brasília homenageia amizade entre brasileiros e japoneses

A quadra CLS 414/415, na Asa Sul, foi oficialmente batizada como “Rua do...

A quadra CLS 414/415, na Asa Sul, foi oficialmente batizada como “Rua do Japão”. O nome simbólico, aprovado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal em 8 de fevereiro de 2024, reconhece o que há décadas já se fazia notar: ali pulsa o coração da comunidade japonesa no DF. No centro dessa história está a família Mikami, cuja trajetória se confunde com a própria construção de Brasília.

Foi em 1971 que os Mikami chegaram à quadra, vindos de um início humilde em Taguatinga. “Meus avós, meus tios e meu pai vieram para cá com o sonho de crescer e oferecer algo novo apara a família. A primeira loja era pequena, uma quitanda no Bloco B, loja 9, do lado de onde a Mikami fica atualmente. Foi ali que nasci e cresci”, relembra Márcia Mikami Shinohara, hoje CEO da Mikami Orientais.

A saga familiar começou com Kyoshi Mikami, patriarca que decidiu se mudar para Brasília em 1968, incentivado pelos cunhados. O objetivo era claro: proporcionar mais oportunidades aos filhos. “Ao chegar aqui, ele ficou decepcionado com o barraco de madeira improvisado que encontrou. Pensou em desistir. Mas o filho Ciro insistiu para que ficassem. E foi ali que tudo começou”, relata Mitsuko Mikami, nora de Kyoshi e esposa de Jorge, o filho mais velho.

Juntos, começaram vendendo frutas, legumes e secos e molhados. Em dois anos, com muito trabalho e união, reuniram capital suficiente para comprar a loja na 414 Sul — que permanece até hoje como sede do empreendimento. Ao longo dos anos, vieram alegrias e perdas. A morte trágica da matriarca, em um acidente de carro, e depois a do senhor Kyoshi exigiram da família resiliência. “Tivemos que redobrar nossas forças. Eu acordava cedo, levava os filhos à escola e corria para abrir a loja. Contratamos empregados, mas nunca faltou trabalho nem coragem”, lembra Mitsuko.

A geração que inovou sem esquecer as raízes

Com os filhos formados e já adultos, coube à caçula, Márcia, assumir o leme do negócio em 2004. Em meio a dificuldades financeiras, ela reorganizou a loja, contratou novos funcionários, reformou o prédio e implantou um novo sistema de gestão. “Estávamos com uma dívida pesada por causa de uma multa. Com coragem e trabalho duro, conseguimos virar o jogo”, conta Mitsuko.

A irmã Luiza, formada em ciência da computação e com experiência no setor bancário, entrou para apoiar a parte financeira e administrativa. O cunhado Takeo, servidor público, passou a ajudar nas compras junto ao CEASA. O trio tornou-se o novo pilar da Mikami.

E não parou por aí. Em 2019, a família abriu a unidade da Daiso Japan ao lado da loja principal, ampliando a presença oriental na quadra. “A Daiso foi um sucesso desde o início. E em 2021, conseguimos comprar o ponto do vizinho e triplicamos o espaço e a quantidade de produtos”, celebra Mitsuko. A quadra se transformou. Hoje, abriga também estabelecimentos como Hanai Variedades, Montaro Sushi, H&H Presentes, o restaurante Umami Deli – Comida Oriental, o novo espaço Takumi de ramen, o salão de beleza Kendy Coiffeur, a confeitaria Amami Sweets e o  The Coffee. “É como um pedacinho do Japão em Brasília, todos devem conhecer”, resume a empresária Márcia Shinohara.

Cultura e comunidade no centro de tudo

Mais do que vender produtos, a Mikami virou um ponto de encontro da cultura japonesa. “A loja é referência. Foi uma das primeiras a oferecer arroz japonês, shoyu, miso e outros produtos típicos que não se encontravam em qualquer lugar. Isso aproximou a comunidade e espalhou a cultura”, explica Erick Ryoiti Akaoka, subgerente da loja Mikami.

Com 25 anos, Eric começou como estagiário de marketing e hoje coordena as feiras culturais promovidas em frente à loja, como a que acontece neste sábado (19), em comemoração ao Tanabata Matsuri, o Festival das Estrelas. “É uma tradição japonesa em que as pessoas escrevem desejos em papéis coloridos e os penduram em bambus. Acredita-se que esses desejos são levados às estrelas quando os papéis são queimados”, conta.

A feira reúne pequenos produtores de doces típicos japoneses — como dorayaki, manju, yakimanju e ichigo daifuku — além de artesãos e empreendedores que trabalham com origami, cosméticos naturais e outros itens. “A ideia é dar visibilidade a esses pequenos negócios e aproximar o público da cultura japonesa”, diz Erick. Neste sábado, os bambus da Rua Japonesa vão se encher de pedidos. Mas para a família Mikami, um deles já foi realizado: manter viva a herança de seus antepassados, reinventando-se com cada nova geração — sem nunca esquecer de onde vieram.

Por Revista Plano B

Fonte Jornal de Brasília

Foto: Daniel Xavier/Jornal de Brasília

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp