Dados do Boletim de Conjuntura Imobiliária do Sindicato de Habitação do Distrito Federal (SECOVI-DF) apontaram uma alta expressiva de 26,19% nos aluguéis em 2024. Essa porcentagem é o dobro da média nacional, cujo a alta foi 13,5%. O levantamento feito pela SECOVI demonstrou que, um dos fatores principais que levaram a esse aumento, foi o crescimento da demanda e a valorização de áreas mais disputadas no Plano Piloto.
O piauiense João Pedro Santos de Oliveira, 25 anos, passou em um concurso público recentemente e agora está procurando um imóvel para alugar em Brasília. “Ainda não encontrei um imovel, porque estou achando os valores bem altos e a maioria deles não é mobiliado”, afirmou. Para ele, o fato da maioria das casas e apartamentos em oferta não serem mobiliadas é uma despesa a mais a se considerar na hora de fechar um contrato de aluguel.
Seria ideal para João alugar um apartamento na Asa Norte ou no Sudoeste, principalmente ao levar em conta o acesso aos meios de transporte público para ir e vir ao trabalho. “Também estou olhando opções no Lago Norte, pela tranquilidade e segurança”, acrescentou. A irmã dele mora de aluguel na região, onde ele atualmente está residindo, enquanto não encontra um imovel para locação.
A engenheira mecatrônica Ada Carine, 28 anos, irmã de João, contou que o aluguel do apartamento em que ela mora, tem duração de três anos com um ajuste previsto pelo Índice Geral de Preços de Mercado (IGPM) a cada ano. “Então tinha um valor prefixado e passou de R$900 para R$961. Eu dei sorte em termos de valor de aluguel, porque esse apartamento foi um achado”, comentou.
Alta no aluguel na região central
Para o Jornal de Brasília, o presidente da SECOVI, Ovídio Maia, ressaltou que a alta de 26,19% teve maior impacto na região central de Brasília. Ele explicou que localidades como Asa Sul, Asa Norte, Lago Sul, Sudoeste, Noroeste e Lago Norte, têm aluguéis tão altos, por se tratar de áreas tombadas. “Nós estamos falando de imóveis de alto valor, além de existir uma procura maior do que a oferta nessa região central”.
Ovídio destacou que na área central de Brasília, existem mais de 100 embaixadas, organismos internacionais e escritórios de empresas nacionais que têm representação na capital. “Essas empresas de outros estados, que alugam imóveis para seus funcionários e representantes. Então, existe essa demanda que é muito forte no centro da capital. Com isso, temos a lei da oferta e da procura que impacta o preço”.
Segundo o levantamento feito pela SECOVI, os apartamentos mais caros para se alugar estão no Setor Noroeste, que lidera o ranking com um valor registrado em cerca de R$ 69,75/m². Em seguida, estão a Asa Sul e Sudoeste com a média de preço de R$56,25/m². Em terceiro lugar no ranking, está a Asa Norte, com R$52.38/m². O Lago Norte aparece em quarto lugar com R$46.00/m². Já Taguatinga tem a menor média de preço, com R$24,12/m². O levantamento considerou o preço médio de aluguel por metro quadrado de todas as tipologias de imóveis disponíveis em dezembro de 2024.
Já no segmento de casas para locação, os valores mais altos foram registrados no Lago Sul, seguido pelo Lago Norte e pela Asa Sul. O preço médio de aluguel de casas por unidade no Lago Sul em dezembro do ano passado foi de aproximadamente R$ 17 mil reais. Já no Lago Norte, a média registrada foi de R$ 11 mil reais. Na Asa Sul, o valor médio de locação foi de R$ 7 mil. A região com a menor média registrada é Ceilandia, cujo valor aproximadamente é de R$ 2 mil.
Renovação de contratos pós pandemia
Um outro ponto a ser levado em consideração, quando se trata da alta no aluguel, de acordo com Ovídio, é que os contratos de locação residencial costumam ser feitos por 30 meses. A questão é que muitos contratos que foram assinados na época da pandemia ou que não foram renovados no mesmo período, estão vencendo agora. “A medida que esses contratos vão vencendo, surge um realinhamento de preço”.
Além disso, outro fator que impulsionou a alta do aluguel foi a redução do índice de desemprego no país, que por si só, fez aumentar a massa salarial com carteira assinada. “O que quer dizer que as pessoas estavam desempregadas e sem condições, mas agora estão com a carteira assinada e vão querer morar em um lugar melhor. O que nos leva de novo, à lei da oferta e da procura”.
Movimentação do mercado
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Distrito Federal tem 1.172.588 domicílios, sejam eles casas ou apartamentos. Mas Ovídio destaca que, desse número, 29% se trata de imóveis alugados. “Nós temos um dos índices de imóveis alugados mais altos do país”. No Brasil, a média nacional é de 90 milhões de domicílios, sendo que 21% são contratos de aluguel. Ovídio salientou que existe uma rotatividade muito grande de aluguéis de imóveis na capital.
O presidente do sindicato ressaltou ainda que, segundo os dados da Secovi, o mercado de imóveis de revenda no DF registrou um volume de vendas de 20,70 bilhões de reais em 2024, o que gerou um crescimento expressivo de 14,5% em relação a 2023. Para Ovídio, essa porcentagem representa a força do mercado imobiliário da capital.
Ovídio considera que a movimentação desse setor pode oxigenar o segmento de serviços de modo geral. Isso porque atualmente, o mundo todo está retornando para o presencial, portanto ele tem observado um número maior de aluguel de imóveis comerciais. “Nós temos sentido um aumento nessa procura, tanto na locação de imóveis para escritórios, quanto para lojas”, completou. Segundo Ovídio, isso gera um impacto positivo na economia, porque à medida que as pessoas voltam a trabalhar nos escritórios e lojas, elas precisam se alimentar e comprar roupas novas para trabalhar no modo presencial, o que vai movimentando todo o comércio local.
Por Amanda Karolyne da Jornal de Brasília
Foto: Agência Brasília / Reprodução Jornal de Brasília