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Por que cuidar da saúde mental é mais urgente do que nunca no Brasil

Celebrado em 10 de outubro, o Dia Mundial da Saúde Mental é um lembrete global...

Celebrado em 10 de outubro, o Dia Mundial da Saúde Mental é um lembrete global sobre a necessidade de cuidar da mente tanto quanto do corpo. Criada pela Federação Mundial da Saúde Mental (WFMH, na sigla em inglês) em 1992, a data busca promover a conscientização sobre os transtornos mentais, combater o estigma e incentivar o acesso a tratamentos adequados.

No Brasil, os desafios na área da saúde mental persistem. Segundo relatório da Ipsos de 2024, o país ocupa o 4º lugar no ranking mundial de estresse, com 42% da população relatando sentir-se frequentemente estressada. Além disso, 54% dos brasileiros consideram a saúde mental o maior problema de saúde do país. 68% dos brasileiros relatam ansiedade, mas mais da metade nunca procurou ajuda profissional.Play Video

Conforme dados das Nações Unidas, no ano passado, o Brasil ainda registrou mais de 472 mil afastamentos do trabalho devido a transtornos mentais e comportamentais, representando um aumento de 134% em relação a 2022. Os principais motivos foram transtornos de ansiedade (27,4%), episódios depressivos (25,1%) e reações ao estresse (28,6%).

O uso de medicamentos antidepressivos também revela tendências importantes. Segundo a PNAUM, os usuários predominantes são mulheres de 20 a 59 anos, da classe econômica D/E, com alto nível educacional, sem plano de saúde e que avaliam sua saúde como regular.

Cuidar da mente deve ser um hábito tão cotidiano quanto a escovação dos dentes. É o que defende o psicólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB) Fabrício Lemos Guimarães, doutor em psicologia e pós-graduado em Impactos da Violência na Saúde. Segundo ele, o cuidado com a saúde mental sempre foi fundamental, e hoje há uma consciência crescente de que esse cuidado precisa ser diário e preventivo, e não apenas procurado em momentos de crise.

Guimarães destaca que pesquisas recentes mostram que 52% da população brasileira consideram a saúde mental até mais importante que a física, e que os benefícios psicológicos influenciam diretamente todas as áreas da vida — pessoal, profissional e afetiva. “As pessoas que cuidam melhor da mente vivem mais, têm melhores relações familiares e profissionais e menos chances de desenvolver dependência de álcool e outras drogas”, explica.

O especialista reforça que o corpo envia alerta quando algo não vai bem, e que é preciso reconhecê-los antes que evoluam para quadros graves. Entre os primeiros sinais estão alterações no sono, no apetite e no humor. “Dormir mal, acordar várias vezes à noite ou ter dificuldade de pegar no sono são indícios importantes”, diz.

A falta de atenção à saúde mental também pode se manifestar fisicamente, como tensão muscular, problemas de pele e intestinais, além do isolamento social e da perda de interesse em atividades prazerosas. Guimarães reforça: “O organismo sinaliza de forma sutil no início, mas, se ignorado, vai intensificando esses alertas.”

Por isso, a prevenção é primordial — e mais simples do que tratar quadros avançados. “Prevenir é mais fácil, mais rápido e menos custoso do que lidar com um surto maníaco, depressivo ou psicótico”, justifica o psicólogo. Pequenos hábitos diários já fazem diferença: “Dormir bem, praticar atividade física, manter uma boa alimentação e reservar momentos de descanso e lazer são os quatro pilares principais da saúde mental.”

Saúde física e mental ainda são dimensões inseparáveis. O especialista destaca que transtornos como ansiedade e depressão aumentam significativamente o risco de doenças cardíacas. “Quando o quadro é leve, o risco sobe cerca de 20%. Em casos mais graves, pode chegar a 90%”, aponta.

Além disso, cuidar da mente melhora a qualidade e a duração da vida, bem como o desempenho profissional. “Pesquisas mostram que quem cuida da saúde mental vive até 11 anos a mais”, afirma Guimarães. O equilíbrio emocional também favorece os relacionamentos: “Estar em um bom relacionamento conjugal pode acrescentar até oito anos de vida.”

Durante muito tempo, procurar um psicólogo era visto como fraqueza ou “coisa de louco”, no entanto. Guimarães ressalta que esse paradigma vem mudando rapidamente. “Hoje, pessoas bem-sucedidas, empresários e artistas falam abertamente que fazem terapia. Buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de força e de autoconhecimento”, disserta.

Para o especialista, a pandemia foi um marco na conscientização coletiva sobre o tema: “As pessoas começaram a reconhecer a importância de cuidar das emoções, e o número de pessoas que fazem terapia aumentou muito desde então.”

Vale lembrar que existem opções gratuitas e on-line de cuidado psicológico e prevenção emocional, como a Terapia Comunitária Integrativa, conduzida pelo professor Adalberto Barreto, da Universidade Federal do Ceará, e presente em Unidades Básicas de Saúde do DF. Guimarães também menciona o programa de Mindfulness da Unifesp, coordenado pelo professor Marcelo Della Marchi, e a técnica de redução de estresse do médico Marcelo Amaral, disponível de forma gratuita e sem fila de espera.

O especialista conclui com um alerta: “Se você não dedicar tempo para se cuidar agora, em breve vai precisar dedicar tempo ao hospital.” Segundo ele, o segredo está na disciplina diária, e não apenas na motivação. “Mesmo sem vontade, é importante fazer uma caminhada, praticar relaxamento, dançar, ouvir música. Esses são os verdadeiros remédios emocionais do dia a dia.”

A médica psiquiatra Daniele Oliveira, doutora em ciências genômicas e professora da Universidade Católica de Brasília (UCB), explica que os transtornos mentais mais frequentes atualmente são os de ansiedade e humor, com destaque para a depressão. Segundo ela, identificar precocemente os sintomas é essencial para uma melhor evolução. “É importante observar mudanças bruscas de humor, nos padrões de sono e a tendência para preocupação excessiva, entre outros sinais”, afirma.

Ao falar sobre como diferenciar a tristeza comum de um transtorno mental, Daniele esclarece que a tristeza é um sentimento natural e fisiológico, congruente com algum acontecimento recente e transitório. Já a depressão se caracteriza por uma tristeza sem causa aparente e constante, acompanhada de sintomas como perda de prazer, apetite e insônia. Ela ainda alerta que o estresse cotidiano não deve ser visto como algo normal: “O estresse já é um indicativo de desequilíbrio emocional e pode contribuir para o início de ansiedade e depressão.”

A especialista destaca que a prevenção é a melhor estratégia para manter o equilíbrio da saúde mental. “Uma alimentação saudável, associada à atividade física e sono de qualidade, são verdadeiros pilares de sustentação emocional”, pontua. Quando o transtorno já está instalado, Daniele ressalta que apenas um médico pode indicar o tratamento mais adequado, incluindo a combinação entre terapias e medicamentos.

Os hábitos diários também desempenham um papel fundamental nesse processo. “Através deles mantemos nosso organismo trabalhando plenamente e promovendo a liberação de substâncias químicas na corrente sanguínea que protegem contra a doença mental”, explica.

Daniele lembra que a prevenção e o cuidado contínuo com a saúde mental não beneficiam apenas o indivíduo, mas todo o seu entorno. “A prevenção em saúde mental protege a qualidade de vida e sobrevida do indivíduo e da sociedade. Basta um indivíduo adoecido para que um sistema — família, grupo de trabalho, vizinhos — seja afetado direta ou indiretamente”, conclui.

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense

Foto: Freepik

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