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Ordem no governo federal é negociar mais e proteger produtores

Apesar de o tarifaço de Donald Trump ter incluído quase 700 produtos brasileiros numa lista...

Apesar de o tarifaço de Donald Trump ter incluído quase 700 produtos brasileiros numa lista de exceções, e de o governo brasileiro ter mais alguns dias para negociar, a ordem no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é não baixar a guarda e intensificar os contatos para, eventualmente, obter novas isenções para itens sobre os quais incidirão pesadas taxas. Ao mesmo tempo, a equipe econômica elabora um plano com medidas capazes de auxiliar os setores da produção brasileira que mais severamente serão afetados.

Segundo o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, o tarifaço norte-americano veio “menos pior” do que se esperava, mas, ainda assim, as tentativas de diálogo entre os dois países prosseguirão. Conforme enfatizou em entrevista ao programa Mais Você, da Rede Globo, na manhã de ontem, “a negociação não terminou hoje, ela começa hoje” — acrescentando que “ninguém vai ficar desamparado”.

“É um perde-perde. Nos atrapalha em mercado, emprego e crescimento, e encarece os produtos americanos”, afirmou. Segundo cálculos da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), 43% das exportações brasileiras para os Estados Unidos em 2024 não serão afetadas pelas novas tarifas, devido à lista de 694 produtos que ficaram de fora do tarifaço. Já cerca de 35,9% das vendas externas do país serão impactadas — entre os quais, produtos impostantes como café, carne bovina, frutas e pescado. 

Alckmin ressaltou que o café brasileiro, essencial para o consumo norte-americano, será peça-chave nas negociações que prosseguirão mais intensamente. O vice-presidente afirmou que tem mantido contatos permanentes com o secretário de Comércio norte-americano, Howard Lutnick, e que buscará ampliar as exceções para as frutas.

“O Brasil é o maior exportador (de café) do mundo, maior produtor do mundo. Vai ter de buscar outros mercados, ou vamos trabalhar com os EUA, pois é um grande consumidor de café. E eles tomam aquele café grandão, eles precisam do nosso café arábica para o blend. Primeiro (vamos) trabalhar para baixar a tarifa. Eles não produzem café”, explicou Alckmin.

O vice-presidente detalhou que 45% dos produtos foram retirados da lista de aumento pelos EUA. Além disso, aço e alumínio, já taxados em 50%, permaneceram na mesma alíquota e automóveis e autopeças seguem com tarifa de 25% aplicada pelos EUA ao resto do mundo.

Indagado sobre uma possível conversa entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Trump, Alckmin afirmou que um contatos desses é precedido de uma ampla preparação, mas que o brasileiro está disposto a dialogar “ontem”. Também perguntado se poderia ir aos EUA para tratar diretamente com os integrantes do governo norte-americano, Alckmin foi enfático: “Iria ontem”, garantiu, reafirmando a disposição brasileira para a conversa.

Na frente interna, que discute o amparo a setores que pode continuar na lista da taxação de 50% imposta pelos norte-americanos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi explícito ao afirmar que o tarifaço pode ter efeitos mais negativos para os EUA do que para o Brasil. “Quem vai sofrer não é só o trabalhador brasileiro, mas, também, o consumidor americano”, afirmou, reafirmando que o Brasil manteve sua disposição ao diálogo e “nunca saiu da mesa de negociação”, mesmo diante das provocações. “O café da manhã dos americanos vai ficar mais caro”, acrescentou, referindo-se à inclusão do café na lista do tarifaço.

Ainda de acordo com Haddad, o Departamento do Tesouro dos EUA procurou o Ministério da Fazenda para marcar uma agenda a fim de discutir as tarifas. Ainda não há data definida, mas o governo brasileiro considera positiva a abertura do canal de diálogo. O último encontro entre as pastas havia ocorrido em maio, na Califórnia, antes do anúncio das medidas tarifárias.

“A assessoria do secretário [Scott] Bessent fez contato conosco, ontem [quarta-feira, 30], e, finalmente, vai agendar uma segunda conversa. A primeira, como eu havia adiantado, foi em maio. Haverá, agora, uma rodada de negociações, e vamos levar às autoridades americanas nosso ponto de vista”, observou Haddad. O ministro ressaltou, no entanto, que as conversas entre as duas pastas estão apenas no início. “Estamos em um ponto de partida mais favorável do que se imaginava. Mas longe do ponto de chegada. Há muita injustiça nas medidas que foram anunciadas ontem [quarta-feira]”, lamentou.

Já o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan classificou como “ataque unilateral sem nenhum fundamento econômico” as tarifas. Ele as considera políticas, intervencionistas ed desrespeitosas com o Brasil e os processos democráticos.

“Embora os nossos produtos, os nossos serviços estejam sempre passíveis de ser negociados, nossos valores e a nossa soberania não estão”, afirmou, ontem, ao participar do seminário internacional “Inteligência Artificial em Perspectiva: fomento, regulação e soberania digital”, promovido pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). A manifestação de Durigan reforça a resposta indireta de Lula ao aumento de tarifas às sanções impostas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pelo governo Trump.

*Alícia Bernardes é estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense      

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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