O Instituto Escolhas, uma organização brasileira que desenvolve estudos e análises sobre temas fundamentais para o desenvolvimento sustentável, divulgou uma pesquisa que discute a liderança do Brasil na produção global de soja e a ineficiência e insustentabilidade econômica e ambiental do meio de produção do grão. O estudo Brasil como líder mundial em produção de soja: até quando e a que custo? aponta as incongruências entre a produtividade e a sustentabilidade.
O Brasil é líder na produção global de soja desde 2019, ultrapassando os Estados Unidos e, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a projeção é de que, este ano, alcance novo o recorde.
De acordo com a estimativa mais recente da Conab, divulgada em julho, a soja deve produzir, em 2025, 169,5 milhões de toneladas, um avanço de 14,7% em relação à safra passada. A produtividade média também é recorde, estimada em 3.560 kg/ha, com destaque para Goiás, onde atingiu 4.122 kg/ha.
Apesar do número e ranking da produção do grão ser algo positivo, o modelo de produção, segundo o estudo, é ineficiente e insustentável, ambientalmente e economicamente. A liderança brasileira não foi alcançada pela produtividade, ela foi impulsionada pelo aumento de área plantada e aumento de insumos químicos utilizados.
Enquanto a produção de soja por hectare cresceu, em média, 2% ao ano entre 1993 e 2023, o crescimento médio de área plantada foi de 5% ao ano durante o mesmo período. Este é um indicativo que o modelo brasileiro expandiu horizontalmente (mais terra) do que verticalmente (maior rendimento por terra), o que o torna dependente do uso e da qualidade de insumos químicos.
Liderança Tóxica
O Brasil é, também, líder no uso de insumos químicos por hectares — agrotóxicos e fertilizantes. A pesquisa mostra que, além dos problemas ambientais que esses produtos trazem, como a perda de nutrientes e microrganismos do solo, contaminação da água e riscos à saúde humana, eles estão sendo um problema econômico para os agricultores.
A Diretora de Pesquisas do Instituto Escolhas, Jaqueline Ferreira, comenta que há uma grande ineficiência dos insumos químicos na atualidade. “Se em 1993, com 1 kg de agrotóxico se produzia 23 sacas de soja, em 2023 só foi possível produzir 7 sacas de soja. Da mesma forma, em 1993, 1 tonelada de fertilizantes produziu 517 sacas de soja, em 2022, apenas 333 sacas”, destaca.
Além da ineficiência dos produtos, o aumento do preço deles não condiz com o aumento de preço da soja. O preço do agrotóxico aumentou em 99% de 2013 para 2023, enquanto neste mesmo período, a saca de 60kg cresceu somente 2%. “Em 2013, o produtor precisou vender 11 sacas de soja para pagar as despesas com sementes, agrotóxicos e fertilizantes por hectare, em 2023 saltou para 23 sacas”, comenta Ferreira.
Outro importante insumo são as sementes e suas cultivares — sementes geneticamente melhoradas — que prometiam promover controle de pragas e a redução de agrotóxicos. A promessa não foi cumprida. O estudo mostra que o volume de agrotóxicos usado foi maior que a produção de sementes e da própria soja.
A pesquisa feita pelo Instituto Escolhas indica a necessidade de uma mudança no meio de produção no maior produto agrícola do Brasil, a soja. O Correio promoverá, em parceria com o Instituto Escolhas, um evento, no dia 2 de setembro, para que ocorra o debate sobre os caminhos possíveis para um modelo que respeite o solo, o produtor e o planeta – sem abrir mão da produtividade.
*Estagiário sob a supervisão de Edla Lula
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Imagem de CJ por Pixabay