Nikolas Ferreira (PL-MG) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) restabeleceram o contato. A decisão foi tomada após semanas de instabilidade pública e conflitos de bastidor. O movimento atende a uma necessidade objetiva: preservar a imagem de unidade no campo político onde ambos operam como possíveis sucessores de Jair Bolsonaro (PL).
Sem o ex-presidente no centro do tabuleiro, os deslocamentos se intensificam. Eduardo concentra capital de origem. Nikolas acumula base digital e alianças emergentes. Ambos disputam o espólio de uma liderança ainda ativa, mas juridicamente ameaçada. O acordo entre os dois é leitura de cenário, não afinidade.
A tensão mais recente ganhou forma com a aplicação das taxações contra o Brasil. A ação, articulada por Eduardo junto a autoridades dos Estados Unidos, exigia repercussão entre os aliados. Nikolas respondeu de forma considerada insuficiente.
Eduardo cobrou, em público. Disse que esperava mais. Endossou críticas feitas pelo blogueiro Allan dos Santos. O episódio foi interpretado por parlamentares como gesto de contenção. A expansão de Nikolas no ambiente conservador passou a gerar desconforto interno.
A leitura recorrente entre deputados do PL é de que Minas Gerais se tornou ponto de atrito. Nikolas atua com protagonismo no estado. Vem sendo escalado para encontros, articulações e negociações eleitorais em todo o Brasil. A movimentação avança sobre o espaço tradicional da família Bolsonaro. A interlocução com lideranças religiosas e juvenis ampliou seu alcance. O crescimento foi lido como dissidência.
O episódio mais recente foi apenas parte de um processo mais amplo. Nikolas tem se posicionado como voz pública do bolsonarismo fora do clã. Já Eduardo busca preservar sua centralidade. A sobreposição de funções gerou ruído. Um parlamentar, ouvido pela coluna, disse que a disputa não é por conteúdo, é por quem conduz a fala.
Na quarta-feira, Nikolas publicou nota em apoio à aplicação da Lei Magnitsky com sanções a Alexandre de Moraes. Apresentou um segundo pedido de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal Federal. Fez menção a Olavo de Carvalho, Paulo Figueiredo e Eduardo. A publicação foi lida como gesto de alinhamento. A trégua havia sido construída dias antes.
Os dois conversaram por telefone no início da semana. A chamada foi intermediada por Paulo Figueiredo, ex-Jovem Pan. A informação foi dada pela Folha e confirmada pelo Estado de Minas. O acerto envolveu dois compromissos: Eduardo não voltaria a criticá-lo em público. Nikolas vocalizaria com mais nitidez as pautas que circulam no entorno do ex-presidente.
Não houve comunicado conjunto. Nenhum dos dois apagou publicações anteriores. A reconciliação foi feita com cálculo, não com arrependimento. O movimento interrompe, por ora, uma disputa de narrativas, mas não encerra a sucessão. Ao contrário: sinaliza que ela começou.
Silêncio que fala
Pouco comentado publicamente, mas notado nos bastidores: entre as alfinetadas de Eduardo Bolsonaro nos últimos dias, uma foi direcionada ao governador Romeu Zema (Novo). O ataque não passou despercebido por quem acompanha a relação entre o bolsonarismo e a direita liberal mineira e acendeu o alerta sobre os movimentos de Nikolas Ferreira. Apesar da reconciliação recente com Eduardo, o deputado mineiro vem dando sinais de aproximação com Zema, especialmente nas costuras políticas para 2026.
Brumadinho
A deputada estadual Andreia de Jesus (PT) encaminhou à presidência da Assembleia Legislativa de Minas, nesta quinta (31), um pedido de audiência pública para discutir a remoção de moradores em Brumadinho, após alerta da Defesa Civil sobre a ausência de laudo de estabilidade da barragem operada pela Emicon Mineração. No requerimento, Andreia solicita a convocação de representantes das comunidades atingidas, órgãos ambientais, Defensoria Pública, Ministério Público e a própria mineradora. À coluna, a deputada afirmou que as famílias estão sendo coagidas a deixar suas casas sem garantias adequadas e defendeu urgência no debate: “Estamos falando de vidas”.
Governo Zema
O governo de Minas Gerais deixou de arrecadar R$ 111 bilhões em impostos de grandes empresas desde 2019, segundo levantamento do Sinfazfisco, sindicato que representa os fiscais da Receita estadual. Os dados têm sido usados por servidores da área para questionar a política tributária da gestão Romeu Zema (Novo), que, segundo eles, privilegia isenções e benefícios a setores empresariais sem a
devida transparência sobre contrapartidas ou impacto fiscal.
Escolas de BH
Está pronto para votação em primeiro turno, no plenário da Câmara Municipal de Belo Horizonte, o projeto de lei que autoriza a presença de vigilância armada nas escolas da rede municipal. A proposta é assinada por quatro vereadores do PL — Pablo Almeida, Sargento Jalyson, Uner Augusto e Vile — e pretende alterar a legislação que criou o Sistema Integrado sobre Violência nas escolas, permitindo o uso de agentes armados como medida ostensiva de prevenção.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Sauel Loeb/AFP / Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press