O Museu Nacional de Brasília recebe, desde a última terça-feira (5), a exposição Sob os pés do mundo, uma experiência sensorial que apresenta 17 quadros táteis criados a partir das calçadas e espaços públicos do Distrito Federal. As obras são relacionadas às vivências de pessoas cegas e com baixa visão.
Desenvolvido com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF), o projeto conta com o apoio institucional do Museu Nacional da República, do Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV) e da Biblioteca Braille Dorina Nowill. A mostra, que está em cartaz na Galeria 2 do museu, é resultado do projeto artístico-sociocultural “Arte no Espaço Público x Arte como Espaço Público: Arte e Inclusão Social”. A exposição faz parte também do Festival Mês da Fotografia (FMF).
Para a diretora do Museu Nacional, Fran Favero, há uma fruição da obra por meio do toque, além de uma experiência da cidade. “Nessa exposição, especificamente, as pessoas vão experimentar a relação com as calçadas da cidade, com esse lugar urbano”, explica. Fran afirma que essa não é a primeira exposição com esse tipo de proposta no museu: “Notamos uma identificação imediata, um senso de pertencimento e de representação, que é muito especial”.
O projeto, idealizado pelo artista visual e sociólogo Flavio Marzadro, adotou técnicas como os decalques táteis em base siliconada, para transformar superfícies urbanas em obras sensoriais. Além de uma forma de levar as artes visuais às pessoas com deficiência visual por meio de experiências táteis, a mostra tem o objetivo de provocar reflexões sobre acessibilidade, pertencimento e direito à cidade. Os quadros são compostos por superfícies comuns ao cotidiano urbano, como pedras portuguesas, azulejos e pisos táteis.
Marzadro conta que as obras nasceram de uma dinâmica de duas partes, na qual o deficiente visual tem a possibilidade de tocar as obras para interpretá-las. “A gente faz o descarte do chão, que é um objeto urbano, uma memória histórica, mas também uma memória poética, porque faz parte da atividade da pessoa”, comenta. “Trabalho por aquilo que percebo como arte pública, no sentido de promover espaço público e política pública”.
Coautoria e inclusão
A iniciativa surgiu de diálogos com pessoas cegas e de baixa visão do DF que atuam como coautoras das obras ao partilhar memórias e escolher os caminhos a serem moldados. As obras retratam os lugares percorridos e sentidos durante o projeto. Os trabalhos contam com títulos em Braille, letras ampliadas, audiodescrição e paisagens sonoras de 20 minutos, com os ruídos originais de cada local.
Com turmas de cinco a 20 pessoas, as oficinas foram promovidas em Brasília, sendo quatro no Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV) e uma na Biblioteca Braille Dorina Nowill. Todos os participantes moram no Distrito Federal e assinam, com suas escolhas, memórias, impressões e mãos, a autoria das obras.
Entre as pessoas com deficiência visual que participaram da produção das obras, está Gilfrank Pimentel Nunes. Para ele, a iniciativa trouxe a oportunidade de afirmar a cidadania. “Perante a sociedade, nós perdemos a visão, mas somos nós que nos tornamos invisíveis”, pontua. “E esses momentos nos dão a oportunidade de mostrar para a sociedade que nós existimos, somos cidadãos, somos capazes e merecemos fazer parte do cotidiano. Podemos ser produtivos, podemos colaborar com o desenvolvimento socioeconômico do nosso país, da nossa cidade. A gente só precisa de oportunidade. A gente só precisa ter os espaços”.
Outra participante, Aparecida Moreira Machado, afirma que a exposição serve também para mostrar ao público as dificuldades diárias de um deficiente visual: “Gostaria de dizer às pessoas que nunca se esqueçam de nós, que a gente é capaz de muitas outras coisas. Basta ter interesse em trabalhar com nosso potencial”.
Serviço
Exposição Sob os pés do mundo: uma experiência sensorial em Brasília
► Data: até 7 de setembro
► Horário de visitação: de terça-feira a domingo, das 9h às 17h
► Local: Museu Nacional da República. Classificação indicativa livre. Entrada franca.
Por Revista Plano B
Fonte Agência Brasília
Foto: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília