Em vídeo publicado nas redes sociais nesta segunda-feira (30/6), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), reagiu às críticas da base governista sobre a votação que derrubou o decreto de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) classificando-as como “polarização social”.
Segundo ele, o governo foi avisado com antecedência e que a dificuldade de aprovação da medida já era evidente. “O capitão que vê o barco indo em direção ao iceberg e não avisa, não é leal, é cúmplice. E nós avisamos ao governo que essa matéria do IOF teria muita dificuldade de ser aprovada no Parlamento”, afirmou o deputado.
A declaração foi uma resposta direta à fala do líder do PT na Casa, deputado Lindbergh Farias (RJ), que classificou como “estranha” a forma como a pauta foi conduzida por Motta. Segundo o petista, os líderes governistas só tomaram conhecimento da inclusão do projeto na pauta por volta das 23h35 do dia anterior à votação, por meio de uma publicação feita por Motta no X, antigo Twitter.
“Fomos pegos de surpresa por um tweet. Um tema dessa gravidade precisava ter sido discutido no Colégio de Líderes. A maior parte dos deputados sequer está em Brasília”, reclamou Lindbergh horas antes da votação em coletiva de imprensa.
Motta também fez um aceno ao discurso de independência institucional, ao dizer que “o presidente de qualquer poder não pode servir a um partido. Ele tem que servir ao seu país”. A fala reforça as críticas recorrentes que recebe por sua postura de centro, frequentemente interpretada como “ficar em cima do muro” ou “morde e assopra”.
Sem fugir do rótulo, ele respondeu com uma metáfora: “Se uma ideia for ruim para o Brasil, eu vou morder. Mas se essa ideia for boa, eu vou assoprar para que ela possa se espalhar por todo o país”.
Na avaliação do presidente da Câmara, ser de centro não significa ausência de posicionamento, mas sim ausência de preconceito — uma forma de reafirmar seu compromisso com o diálogo e com pautas que, segundo ele, beneficiem o país como um todo, independentemente da origem ideológica.
Relembre
A tensão entre o Legislativo e o Executivo, que culminou na aprovação do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 314/2025 — de autoria da oposição — que anulou o Decreto Federal nº 12.466/2025, responsável por aumentar o IOF.
A votação foi simbólica não apenas pelo mérito, mas pelo placar: 383 votos a favor da anulação do decreto contra apenas 98 da base do governo. A derrota foi classificada por como o mais contundente recado do Congresso ao Palácio do Planalto desde o início do terceiro mandato do presidente Lula.
A última vez que o Legislativo havia derrubado um decreto presidencial foi em 1992, durante o governo Collor, meses antes da abertura do processo de impeachment.
A decisão de pautar e votar o PDL no mesmo dia, em ambas as Casas Legislativas, também marcou uma rara sintonia entre Hugo Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). O gesto é interpretado como um esforço conjunto de demonstrar os limites da articulação política do governo no Congresso.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados