A morte de Sarah Raíssa, 8 anos, trouxe à tona os riscos e toxicidade que a internet e as redes sociais podem trazer para crianças e adolescentes. Ao Correio, a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão, informou que o GDF tem atuado, por meio das secretarias de Educação e de Justiça, para monitorar e combater os malefícios da internet na vida de crianças e adolescentes.
De acordo com Celina, a Secretaria de Educação realiza rodas de conversa, palestras, oficinas educativas e capacitações permanentes com professores sobre bullying, cyberbullying e segurança digital. Cerca de 10 mil profissionais da rede passaram por formações voltadas à cultura de paz, e mais de cinco mil foram capacitados especificamente para lidar com os riscos digitais. A Secretaria de Justiça, em parceria com a SaferNet Brasil, também leva educação digital às escolas por meio do programa Juntos por uma Internet Segura, ensinando alunos, professores e conselheiros tutelares a lidarem com os desafios e perigos do ambiente on-line.
“Educação, prevenção e ação direta. Esse é o nosso caminho. Estamos mobilizados, alertas e determinados. A infância precisa ser protegida com prioridade absoluta. O combate à violência digital começa com informação e nós temos executado ações firmes e constantes”, destaca Celina Leão. “A morte da pequena Sarah Raíssa nos comove profundamente e traz uma realidade urgente. É dever de todos nós, pais, educadores, poder público e sociedade, estarmos vigilantes. As famílias não podem ser deixadas sozinhas diante desse desafio. O poder público tem a obrigação de criar políticas que ofereçam informação, apoio e ferramentas para proteger nossas crianças”, reforça.
Dados alarmantes
A SaferNet, mencionada por Celina Leão, atua no foco e na promoção de direitos humanos na internet, com projetos para promover uso seguro e responsável das tecnologias e combater crimes cibernéticos, principalmente contra crianças e adolescentes. Psicóloga e doutora em estudos da criança, Bianca Orrico é uma das profissionais que atuam com a SaferNet e analisa o caso da menina Sarah Raíssa.
Segundo ela, o objetivo dos desafios perigosos disseminados na internet é estimular práticas de comportamento de risco como forma de atividade inofensiva em busca de engajamento na internet. “As maiores plataformas de redes sociais utilizam os algoritmos para promover conteúdos que engajam. Os desafios viralizam, gerando engajamento. A competitividade é incentivada nas redes sociais”, observa.
“Com isso, a participação em desafios se torna uma forma de as crianças se conectarem, ganharem status, popularidade e visualização. Uma vez que as crianças e adolescentes não desenvolveram competências socioemocionais em sua plenitude, eles acabam se tornando mais influenciáveis e alvo fácil para este tipo de conteúdo, pois são impulsivos e veem nestes desafios uma forma de se sentirem pertencentes, uma forma de ter status”, completa.
A especialista explica que o fato de muitos criadores de conteúdo e influenciadores digitais venderem vidas glamourosas faz com que crianças e adolescentes acreditem que também podem conquistar essa vida, o que os leva a aderir a comportamentos perigosos. “O fenômeno que chamamos de onipotência pubertária ajuda eles a se sentirem invencíveis e poderosos, pode levá-los facilmente a situações de risco”, especifica. “Por isso, é extremamente importante a educação digital nas escolas e a regulação das plataformas. E o dever de fazer com que os ambientes digitais se tornem espaços seguros para crianças e adolescentes não é somente dos pais, é também da sociedade, do Estado e das próprias plataformas”, opina.
A psicóloga e docente do UniCeub Izabella Melo destaca que as crianças e os adolescentes estão em um momento de formação da identidade, da moralidade e da visão de mundo e, por isso, os contatos sociais são importantes. No entanto, devem ser monitorados. “É nesse período que construímos quem somos e o que entendemos como certo ou errado. A internet facilita o contato com os pares, ou seja, com pessoas da mesma faixa etária ou interesses parecidos. Existe uma ânsia grande de crianças e adolescentes em se conectarem com esses grupos”, observa.
“Mas isso pode gerar riscos, tanto físicos, como nos casos de desafios perigosos, quanto psicológicos e morais. Também há riscos políticos, quando essas interações são atravessadas por discursos de ódio ou desinformação. A internet reproduz e, muitas vezes, amplifica dinâmicas de opressão que já existem fora dela, como racismo, misoginia, LGBTfobia e intolerância religiosa. Para crianças e adolescentes que pertencem a grupos marginalizados, esses ambientes digitais se tornam ainda mais violentos”, alerta.
Por Mila Ferreira do Correio Braziliense
Foto: Reprodução/Redes sociais / Reprodução Correio Braziliense