A missão oficial do Senado Federal aos Estados Unidos terminou nesta quarta-feira (30/7) sem qualquer avanço concreto para barrar a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente Donald Trump. Após três dias de reuniões em Washington, os próprios parlamentares admitem que não houve acordo e que o cenário tende a se agravar nos próximos dias.
“O que está ruim pode ficar muito pior”, resumiu o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), que coordenou a comitiva e preside a Comissão de Relações Exteriores (CRE). “Preenchemos uma lacuna, abrimos o diálogo, mas o jogo ainda está começando. Ninguém tinha pretensão de sair daqui com isso resolvido”, afirmou, ao admitir que o esforço diplomático não conseguiu reverter a crise.
Segundo Trad, há forte apoio bipartidário no Senado norte-americano para aprovar novas sanções contra países que mantêm laços comerciais com a Rússia, o que atinge diretamente o Brasil. “Todos os senadores, dos dois lados, já confirmaram que vão aprovar a lei. A política brasileira foi alertada sobre isso para os próximos 20 dias”, disse.
Ainda para o senador, o governo Trump já deixou claro que não está disposto a negociar. “Se uma medida vai vigorar em 20 dias, é porque não querem conversa”, criticou. Ele relatou que muitos congressistas dos EUA demonstraram desinformação sobre o Brasil e que parte das reuniões serviu para corrigir impressões equivocadas. “Alguns sabiam do que estavam falando, muitos não”, disparou.
Sobre os impactos da tarifa, Trad disse que até parlamentares americanos reconheceram que a medida pode ser um tiro no pé. “Ontem ouvimos que sobretaxar o café e outros grãos do Brasil seria um gol contra”, afirmou. Apesar disso, os senadores saíram de Washington sem garantias e sem prazos.
Fator limitador
O grupo de senadores, formado por nomes da base governista e da oposição, teve encontros com nove parlamentares dos EUA, além de empresários e representantes da embaixada brasileira. Mas a ausência de interlocução direta com figuras-chave da Casa Branca — como o próprio Trump ou integrantes do alto escalão — evidenciou a limitação da missão.
“Nós não temos como negociar. Viemos abrir caminhos para quem pode negociar, que é o governo federal”, reiterou Trad. Nos bastidores, parlamentares admitiram que o Brasil ficou em posição reativa, tentando conter danos e sem estratégia clara para enfrentar a retaliação norte-americana.
Trad também respondeu a rumores de que a presença de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) teria atrapalhado os encontros. “A única coisa que aconteceu foi que um senador estava confirmado para uma reunião e não foi. Não havia reunião no Parlamento de Estado. Fomos apenas conversar com senadores, mostrar o impacto em seus estados”, explicou.
Ele ainda comentou o aumento imediato do preço da madeira, já sentido por importadores do Rio Grande do Sul, como efeito antecipado da tensão comercial.
A delegação agora retorna ao Brasil, onde pretende articular novas ações com o Executivo. Segundo Trad, o próximo passo será reunir a comitiva em Brasília para discutir alternativas. “Vamos fazer as interlocuções necessárias e prudentes em função de todo esse amaranhado aí”, concluiu.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Gabinete Nelson Trad Filho/Divulgação