O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou, ontem, que vai comprar não apenas um novo avião presidencial, mas também outras aeronaves para uso dos ministros de Estado. O petista argumentou que as autoridades do país não podem passar por sustos como o ocorrido há poucos dias, quando uma das turbinas do VC-1A — a principal aeronave da Presidência da República — sofreu uma pane pouco depois da decolagem, quando deixava o México de volta ao Brasil. Com os tanques cheios, a aeronave teve de sobrevoar o território mexicano por aproximadamente cinco horas até que pudesse pousar em segurança. A comitiva presidencial retornou no VC-2 ao país.
“Desse problema tiramos uma lição: vamos comprar não apenas um avião, mas é preciso comprar alguns aviões. Não dá para a gente ser pego de surpresa. Então, vamos nos preparar”, afirmou Lula, em entrevista à rádio O Povo/CBN, de Fortaleza.
Lula chamou o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, para uma reunião assim que voltou ao Brasil, e pediu que apresentasse um plano para a compra das aeronaves. Além de um novo jato presidencial, ele quer comprar outras aeronaves para transportar os ministros. “A gente não governa o Brasil com os ministros ‘coçando’ lá em Brasília”, frisou. O alto escalão dos Três Poderes tem acesso a uma frota de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), com cerca de 20 jatos de pequeno porte, que só podem ser usados a serviço, para emergências médicas ou em caso de risco à segurança.
O primeiro estudo para a troca da aeronave presidencial foi feito em 2023. Há tempos Lula reclama do espaço interno do VC-1A, da autonomia de voo e do estado de conservação da aeronave, que já tem 18 anos de uso. Outra opção além da compra da nova aeronave é a adaptação de um Airbus A-330 da FAB para uso do presidente, porém os militares resistem a ideia de ceder à Presidência um dos KC-30 que estão trazendo brasileiros do Líbano, em função dos ataques das forças de Israel.
Assim que foi ventilada a hipótese da compra de uma nova aeronave, no ano passado, a oposição no Congresso acionou a Justiça para que a Presidência explicasse o levantamento. Lula abandonou então a ideia, mas a discussão foi retomada após a falha no motor do VC-1A. O preço mínimo estimado para a obtenção de um novo jato gira em torno dos R$ 400 milhões.
O presidente afirmou, na entrevista, que quando comprou a aeronave atual, escolheu a menor e mais barata, mas não fará isso desta vez. “Um presidente da República tem que se respeitar, a instituição tem que ser respeitada. E o Brasil é muito grande. Então, a gente não precisa que o presidente corra risco. Um avião para o presidente da República não é para o Lula, para o Fernando Henrique Cardoso, para o (Jair) Bolsonaro ou para quem for o presidente. O avião é para a instituição Presidência da República, quem quer que seja eleito”, argumentou.
Brincadeira
Na entrevista, Lula explicou como foi o incidente com o VC-1A. Disse que havia um barulho diferente na aeronave no momento da decolagem, mas houve um estrondo e um tremor quando o avião já estava no ar. Os pilotos contornaram a situação, mas a aeronave teve de voar em círculos para queimar combustível.
O presidente comentou que, ainda no ar, mandou servir comida aos seus convidados. E reconheceu que fez uma brincadeira de mau-gosto. “Todo mundo teve tempo de repensar a vida. Fiz uma brincadeira estúpida dizendo que era preciso comer, porque a gente não sabia se ia ter comida no céu. ‘Vamos comer agora enquanto tem aqui’. Graças a Deus, o avião pousou normalmente”, disse.
O VC-1A é uma aeronave modelo Airbus A319CJ, montada em Hamburgo (Alemanha) e cujo nome oficial é Santos-Dumont. O primeiro voo do jato foi em 15 de janeiro de 2005 e foi adquirido em 2004 e substituiu o chamado “Sucatão”, um Boeing 707-320c comprado no governo de José Sarney. O VC-1A tem projeto interno personalizado. A cabine é divida em três seções, tem 80m² e abriga uma suíte presidencial dotada de vários confortos — inclusive um pequeno boxe com chuveiro. Comporta 55 passageiros e foi apelidado de Aerolula, pois foi comprado no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. A Presidência da República tem um segundo jato, o VC-2, que é um Embraer 190, cujo nome de batismo é Bartolomeu de Gusmão. Foi incorporado em 2010.
Por Victor Correia do Correio Braziliense
Foto: Cláudio Kbene/PR / Reprodução Correio Braziliense