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Longa atuação contra Moraes

A proibição de comunicação entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o...

A proibição de comunicação entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), se deu apenas dois dias depois de o parlamentar publicar um vídeo em frente à Casa Branca, ao lado do influenciador bolsonarista Paulo Figueiredo — neto do ditador João Figueiredo e indiciado por participação na trama golpista de 2022. Na ocasião, a dupla disse ter participado de uma rodada de reuniões com autoridades do governo do presidente Donald Trump e ouvido delas que a possibilidade de impor sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), continua a ser analisada. Uma delas veio ontem à noite, com a retirada do visto de entrada nos Estados Unidos concedido ao magistrado.

No dia seguinte, o jornal norte-americano The Washington Post publicou uma reportagem sobre a atuação direta de Eduardo junto à administração Trump contra Moraes. Segundo a publicação, a informação foi confirmada por quatro fontes do governo norte-americano familiarizadas com o assunto. Naquele mesmo dia, Trump publicou uma carta direcionada a Bolsonaro, classificando como “terrível” o tratamento dispensado pelo que chamou de um “sistema injusto” no Brasil. “Esse julgamento deve acabar imediatamente! (…) É minha sincera esperança que o governo do Brasil mude de rumo, pare de atacar adversários políticos e encerre esse regime ridículo de censura. Estarei observando de perto”, disse Trump.

Bolsonaro respondeu em um vídeo publicado em suas redes sociais com legendas em inglês. “Querem me alijar do processo político, alijar a maior liderança direita da América do Sul e entendo que eleição sem oposição, isso sim é um golpe. (…) Presidente Trump, muito obrigado pela carta. Conte com a minha eterna gratidão”. Esta foi a última postagem do ex-presidente, antes de ser proibido por Moraes de utilizar suas redes sociais.

A atuação de Eduardo Bolsonaro contra autoridades brasileiras, no entanto, é mais antiga. Quando ainda era parlamentar, em janeiro, esteve nos EUA para a posse de Trump acompanhado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ambos ficaram de fora da cerimônia, mas participaram de eventos paralelos com extremistas aliados do presidente recém-empossado. Em um deles, foi saudado publicamente por Steve Bannon, ex-assessor de Trump, que apontou o filho 03 de Bolsonaro como futuro presidente do Brasil.

Nos meses seguintes, Eduardo publicou várias fotos ao lado de deputados e outras autoridades norte-americanas. Enfatizou que atuava para pedir sanções ao Judiciário brasileiro e, mais especificamente, contra Moraes devido a uma suposta perseguição a seu pai e contra o que chamou de “censura” do Judiciário nacional à direita brasileira.

Em abril, quando a bancada do PT acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) para recomendar o confisco do passaporte do deputado federal licenciado e sua prisão por crime de traição à pátria, Eduardo não quis esperar o resultado. Antes que a PGR se manifestasse, anunciou uma licença do cargo e a permanência nos EUA para continuar a tentativa de emplacar a narrativa de perseguição e censura. A PGR, no entanto, não recomendou o confisco do passaporte. O STF acatou a recomendação.

Em maio, o governo norte-americano deu as primeiras sinalizações de que estudava sanções contra o Brasil. No dia 21 daquele mês, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, disse, em uma sessão do Congresso, que existia uma “grande possibilidade” de Washington punir Moraes e que o assunto estava sob análise. Não entrou em detalhes sobre o assunto. A fala foi uma resposta a um questionamento do deputado republicano Cory Mills, que havia se encontrado dias antes com Eduardo e com o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Credn) da Câmara, Filipe Barros (PL-PR). A reunião foi registrada com uma foto e divulgada pelo próprio Eduardo em suas redes sociais.

O anúncio das tarifas de Trump ao Brasil veio só em 9 de julho, dias depois da cúpula dos Brics no Rio de Janeiro, onde os países membros voltaram a discutir a diminuição da dependência do dólar para o comércio internacional. Na ocasião, Trump enfatizou que a taxação aos produtos brasileiros era motivada pelo “tratamento” dado pela Justiça ao ex-presidente. Em um trecho da carta, ao explicar qual seria a motivação econômica para a medida, disse que os EUA têm déficit comercial com o Brasil (compra mais do que vende) — o que não é verdadeiro.

Eduardo veio a público, imediatamente, dizer que a decisão de Trump deu-se por influência de sua atuação nos EUA. Com a repercussão negativa sobre o assunto, no entanto, afirmou que seu objetivo era apenas sancionar o ministro Moraes.

Depois da operação da Polícia Federal (PF) contra Bolsonaro, ontem, Eduardo voltou a criticar o Judiciário e o governo brasileiro pela reação às tarifas de Trump. O deputado licenciado disse que o Brasil é o “único país do mundo que está respondendo a tarifas com prisões”. O parlamentar argumentou que a decisão foi baseada em ações legítimas do governo dos EUA iniciadas depois do anúncio das tarifas impostas por Trump ao Brasil. “Na prática, Alexandre de Moraes está tentando criminalizar Trump e o próprio governo americano”, observou.

A licença de Eduardo na Câmara acaba amanhã. Em tese, o parlamentar teria que voltar ao trabalho na segunda-feira — apesar de o Congresso estar de recesso, os prazos continuam valendo. Mas disse ao jornal Folha de S.Paulo, em 14 de julho, que pretende continuar nos EUA e que, provavelmente, vai abrir mão do mandato. O político pode perder a cadeira de deputado se faltar a um terço das sessões ordinárias da Casa. A bancada do PT, no entanto, prepara um pedido para pedir a suspensão e a perda do mandato de Eduardo assim que o prazo de reapresentação acabar. (IM)

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense       

Foto: Reprodução/Redes sociais

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