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quinta-feira, abril 17, 2025

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Incertezas sobre manobras de Trump mantêm mercados instáveis e dólar sobe

Após um dia de alívio na véspera, as bolsas internacionais voltaram a reagir...

Após um dia de alívio na véspera, as bolsas internacionais voltaram a reagir negativamente aos movimentos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em meio à guerra comercial com a China que se intensifica a cada sessão. A mudança no sinal das bolsas e do dólar, que voltou a subir no Brasil, ocorreu em meio ao fato de a Casa Branca corrigir o aumento das tarifas sobre as importações de produtos chineses, de 125% para 145%, adicionando 20% da taxa aplicada antes das chamadas “tarifas recíprocas”, desde o último dia 2 de abril.

No início do mandato, Trump havia mencionado que aplicaria tarifas de 10% sobre as importações da China, com a alegação de que o governo de Pequim favorecia a imigração ilegal e entrada de fentanil nos EUA. Após o anúncio da nova taxa, a China manteve as tarifas retaliatórias de 84% sobre os produtos norte-americanos, implementadas na quarta-feira, e não dá sinais de recuo, a exemplo dos EUA.

Após a retaliação chinesa, as tarifas implementadas por Trump sobre os produtos chineses são, em termos nominais, as maiores que já entraram em vigor contra o país asiático. E, para o resto do mundo, as taxas recíprocas foram reduzidas para 10% pelo período de 90 dias, enquanto diversas nações devem entrar em processo de negociações com os norte-americanos, para diminuírem suas taxas. Mas, de acordo com Christopher Garman, diretor-gerente para as Américas do Eurasia Group, a tarifa média ponderada de importação aplicada pelos EUA está bem acima desse patamar, entre 25% e 30%, para todos os países, muito acima dos 4,5% antes de o republicano entrar no poder.

“Mesmo com esse recuo, não deixa de ser um aumento brutal nas taxas de importações, entre 25% e 30%, para todos os países. E esse é um nível de tarifa mediana que não vemos nos Estados Unidos desde 1910. Portanto, permanece um choque significativo para a economia norte-americana e não dissipa a possibilidade de os EUA entrarem em recessão”, afirmou Garman. Ele contou que, nesse cálculo, estão incluídos não apenas os impostos sobre os produtos chineses como os 10% de reciprocidade para os demais países, assim como os 25% de tarifas para o Canadá e para o México, e os 25% sobre os produtos automotivos e sobre o aço.

Em meio a esse cenário de incertezas persistentes, as empresas norte-americanas seguem acumulando perdas. Em Nova York, o Índice Dow Jones escorregou 2,5%, e a Nasdaq, bolsa das empresas de tecnologia, desabou 4,31% e foi a mais impactada. O Índice S&P 500 perdeu 3,46% no fim do dia.

Conforme levantamento da consultoria Elos Ayta, apenas no pregão de ontem, o valor de mercado agregado recuou US$ 1,94 trilhão. E, desde 2 de abril, o chamado ‘Dia da libertação’ por Trump, as perdas dessas companhias somaram R$ 4,22 trilhões. Por outro lado, as bolsas da Europa e da Ásia surfaram no movimento de trégua do dia anterior, quando Trump recuou em aplicar as tarifas recíprocas de 20% para a União Europeia e outras que chegavam a quase 50% para países asiáticos. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, aproveitou para saudar o adiamento em 90 dias das tarifas ao bloco e considerou a medida como um “grande passo” para a estabilização da economia global.

No Brasil, as companhias listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) acompanharam o movimento de sobe e desce do mercado acionário de Wall Street, devido ao aumento das incertezas sobre o desfecho da guerra tarifária. O Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, recuou 1,13%, para 126.345 pontos. Desde 2 de abril, as perdas conjuntas somam R$ 141,8 bilhões, segundo dados da Elos Ayta. Apenas a Petrobras perdeu R$ 88,7 bilhões em valor de mercado nesses oito dias de pregão, atingindo R$ 417,6 bilhões — menor patamar desde agosto de 2023. Já o dólar voltou a subir e encerrou o pregão de ontem com alta de 0,88%, cotado a R$ 5,899 para a venda, refletindo o aumento das incertezas depois da nova taxa sobre os importados chineses.

Sem perspectiva

O economista-chefe da Way Investimentos, Alexandre Espírito Santo, disse que não consegue ver uma luz no fim do túnel dessa guerra tarifária. “Os últimos dias foram atípicos para o mercado financeiro e, nesses meus 38 anos de experiência, não me recordo de um nível de volatilidade tão acentuado como o atual”, afirmou. Ele recomendou aos investidores ficarem onde estão, mantendo posições, para evitar maiores perdas no mercado acionário, porque ele está mais parecido com um cassino. “O investidor tem que ficar sossegado e esperar para ver o que vai acontecer adiante, pois esses 90 dias de colher de chá que Trump deu para os outros países ainda podem ser muito tensos”, explicou.

O economista e consultor André Perfeito também não acredita que haverá solução para essa guerra tarifária a curto ou médio prazos, a exemplo da guerra entre Rússia e Ucrânia, deflagrada em 24 de fevereiro de 2022. “O presidente russo, Vladimir Putin, achava que ia resolver a questão a curto prazo. Agora, a China não vai abrir mão da posição dela e, portanto, não sabemos como esse novo conflito vai terminar”, afirmou. Ao ver de Perfeito, Trump tem imposto ao mundo um experimento social como há tempos não se via. “Talvez a última vez que tivemos algo dessa magnitude foi com Paul Volcker, no fim da década de 1970 e começo de 1980, com um choque de juros que jogou o mundo em terreno desconhecido e deu gatilho na dívida externa de diversos países”, destacou. Ele lembrou que a ascensão da China tem incomodado os norte-americanos e Trump está agindo segundo a sua doutrina empresarial, fazendo, pela força, o que os democratas tentaram fazer via emissão monetária (Quantative Easing). “Chegamos ao impasse. Não nos parece que a China vai abrir mão da sua posição e os EUA não têm mais tempo para salvar sua posição de hegemonia. Estamos naqueles momentos da história em que uma nova ordem se instala e é necessário redesenhar a institucionalidade global”, complementou.

Por  Rosana Hessel e Raphael Pati do Correio Braziliense

Foto: Getty Images via AFP / Reprodução Correio Braziliense

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