Na horta comunitária do Hospital Universitário de Brasília (HUB), L2 Norte, crescem muito mais que frutas e vegetais. As amizades que são semeadas e colhidas mudam a vida corrida de muitos funcionários do hospital que recebe, diariamente, pessoas acometidas pelas mais diversas doenças. O projeto, coordenado pela chefe do Setor de Hotelaria do HUB, Maria Da Conceição Portela, de 56 anos, reúne voluntários do hospital para plantar e colher na área verde, cuidada há mais de um ano para a iniciativa.
“A ideia é interagir com cada funcionário e também com o paciente, principalmente os que vêm da área psiquiátrica, para poder desfrutar desse espaço verde. Pegar no solo, plantar as sementes e mudas e, depois, colher os frutos. É como uma terapia”, ressalta Conceição. Segundo ela, a horta reúne mais de 100 tipos de ervas aromáticas, verduras e frutas. Segundo a coordenadora, a quantidade de pessoas no grupo é bastante variada. “Tem dias que aparecem mais de 100 pessoas aqui para colher. Para plantar é um pouco menos, mas sempre ficamos felizes quando mais gente vem. Recebemos uma quantidade boa de funcionários, que realmente metem a mão na massa, ou melhor, na terra!”, conta Conceição.
Quando a horta começou, contou com o apoio da equipe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que ajudou a estudar e preparar o solo para que as primeiras mudas fossem plantadas. Hoje, as pequenas árvores cresceram e, de seus frutos, os funcionários fazem sucos, compotas e lanchinhos. Nos dias de colher, os voluntários levam para casa um kit de grande variedade de produtos. Entre eles, milho, mandioca, melancia, mamão, acerola e hortaliças. Além disso, durante o dia a dia no hospital, também passam na horta para buscar capim-santo, hortelã, entre várias outras ervas aromáticas para fazer chás que acalmam um pouco o cansaço do trabalho em um grande hospital.
Viviane Torres, 45, é ouvidora do hospital e, desde o início do projeto, consegue ver em sua rotina a diferença que o espaço e o convívio com os outros voluntários faz. “É um local de paz. Desde o princípio, eu falei que aqui, como a gente trabalha em ambiente hospitalar, é um ambiente de muito adoecimento mental e psicológico. Para mim, aqui (na horta) é um espaço realmente de terapia. A gente vem, fica aqui no silêncio, em contato com a natureza. É muito gostoso, faz toda a diferença”, diz Viviane. A ouvidora não abre mão de passar na horta. “Acabo vindo todo dia, ver as plantas crescendo, o cheiro das ervas aromáticas e, também, ver amigos. Essa iniciativa acabou aproximando nós funcionários”, completa.
Plantando cura
Aos 81 anos, todo dia Ikuyo Nakamura acorda, toma seu café da manhã e vai até a Horta Comunitária do Parque do Sudoeste para cuidar de suas plantas. Enfermeira aposentada, ela diz que cuidar é sua missão no mundo e, por isso, planta com todo cuidado cada mudinha do seu jardim. Além de flores e ervas medicinais, ela também rega, de carinho, as pessoas, que passam a participar do projeto, muitas vezes, como uma forma de cura.
“A gente conhece pessoas incríveis. Há muitas pessoas procurando ajuda psicológica e, por intermédio da planta, a pessoa vai melhorando, fica menos estressada, menos apreensiva. Tem dias que acabo nem trabalhando, fico mais ouvindo as histórias dos outros e acolhendo”, conta Ikuyo. “Brasília é a cidade do concurso. Muitas pessoas passam nas provas, largam suas cidades e vêm sozinhas para trabalhar ou trazem os pais que vêm acompanhar os filhos. Eles não conhecem ninguém, muitas vezes se sentem sozinhos. É uma forma de criar laços”, completa.
A horta, que hoje é gerenciada por Ikuyo, começou com a ideia de outro morador do Sudoeste, que não mora mais no bairro. “Aqui era uma esquina para jogar entulhos. Um morador que teve a ideia de iniciar a horta e começou a limpar o terreno. Acho ele um visionário. No ano seguinte, eu estava aposentada e comecei a cuidar do espaço”, relata a idosa, que conta como o projeto foi crescendo com a passagem de várias pessoas. “Hoje em dia temos cerca de 10 voluntários, mas há outras 60 pessoas que atualmente demonstram interesse em participar. Sempre convido para vir conhecer e ver como é. Quem decide ficar, fazemos um batismo, que é uma foto segurando uma enxada”, brinca Ikuyo.
Nas escolas
O Projeto Germinar traz a horta comunitária para o Centro de Ensino Especial 2, na 612 Sul. Criada pelo professor de geografia,Georlando Alves Menezes, em 2005, a horta visa à conscientização ecológica para as escolas da rede pública e passar a mensagem de preservação e sustentabilidade do meio ambiente para gerações futuras. O professor é natural do Ceará e tem uma família de agricultores, o que aumentou seu interesse pelo projeto.
A horta conta com a plantação de hortaliças, frutas e ervas medicinais e é utilizada para atender às necessidades da escola. “O projeto também contribui para a complementação alimentar da merenda escolar. A merendeira pode utilizar os produtos cultivados na horta, garantindo uma alimentação mais fresca e saudável para os alunos. Aqui, não usamos agrotóxicos, apenas métodos naturais de controle de pragas”, relata Georlando.
Os alunos podem participar do cultivo da horta e, segundo o professor, eles se interessam pelo meio ambiente e demonstram interesse em participar das atividades. “Os alunos têm a oportunidade de ver coisas bonitas crescendo e usufruir do espaço rural, o que é um privilégio para eles, especialmente para aqueles com limitações. Aqui, eles podem transitar com segurança e se beneficiar de uma saúde mental positiva, observando a natureza e aprendendo sobre a importância da preservação”, finaliza o professor.
Por Bruna Pauxis, Arthur Monteiro e Mariana Reginato do Correio Braziliense
Foto: Ed Alves/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense