Noite de gala para celebrar os 60 anos da mais tradicional e longeva mostra de cinema do país. A 58ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) começou na noite desta sexta-feira (12), com exibição do longa O Agente Secreto, que pode representar o Brasil na disputa do Oscar.
A edição deste ano é a maior da história. Serão nove dias de programação, com um longa a mais na Mostra Competitiva Nacional e outro na Mostra Brasília (confira a programação completa aqui). “Esses 60 anos são marcantes, o Festival de Brasília tem uma influência muito grande no cinema brasileiro, desde o Cinema Novo. Isso não é para qualquer festival, é motivo de muito orgulho, é uma edição especialíssima e que a gente tem não só o otimismo, mas uma certeza de que vai ser um grande festival, dos maiores do país e talvez uma das melhores edições do nosso Festival de Brasília”, destacou o secretário de Cultura e Economia Criativa, Claudio Abrantes.
“A gente tem um Cine Brasília restaurado, extremamente potente, bem estruturado, com um contrato de gestão duradouro que permite a gente ter aqui uma política pública de acesso ao cinema muito bem alicerçada. Ao mesmo tempo, a gente também conseguiu transferir isso para o festival. A gente tem um festival hoje em que não há mais aquelas incógnitas, a gente consegue programá-lo. Então, isso mostra o zelo que se tem e o respeito que se tem por esse ativo cultural tão poderoso que é o cinema brasileiro”, acrescentou o secretário, que já anunciou a data da próxima edição do FBCB: 11 a 19 de setembro de 2026.
Maior da história, a edição de 2025 também aposta na descentralização. Além de ocupar sua tradicional casa, o Cine Brasília, estão marcadas exibições para Planaltina, Gama e Ceilândia. “A gente está com a programação do Festivalzinho, da Mostra Brasil e da Mostra Competitiva Nacional descentralizada, entre os pontos Sesc [Gama e Ceilândia] e o Complexo Cultural de Planaltina. Os pontos também recebem votação de júri popular para todo mundo poder assistir o filme e se envolver nessa dinâmica de premiar a obra mais aclamada pelo público”, enfatizou Sara Rocha, diretora-geral do Cine Brasília e do FBCB.
O público fez fila para acompanhar a sessão de abertura. Uma das espectadoras era a designer Maria Clara Freitas. “É um dos festivais mais antigos do país, tem uma importância muito grande, e eu acho que é muito bonito ver que o Brasil reconhece a importância do Festival de Brasília”, comemorou.
A especialista de relações governamentais Débora Luna foi outra a acompanhar o primeiro filme. E já revelou estar ansiosa para os demais dias de programação do FBCB: “É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Mas é super legal, porque Brasília tem muito espaço para a arte, para o cinema. Então, tem muita coisa para ver, é difícil até se planejar, mas já quero ver algumas coisas nos próximos dias”.
Já o arquiteto João Augusto celebrou o fato de o festival e o Cine Brasília receberem uma das estreias do filme, que tem se destacado no circuito internacional. “Tem um significado especial para mim, porque eu sou daqui. Mas também porque faz parte de uma longa tradição, boa parte da cultura nacional, dos principais filmes, foram lançados aqui, grandes artistas. Então, acho que é mais um componente histórico que contribui para o sucesso de hoje.”
Ao longo da programação, que termina no domingo (21), serão oferecidos ainda debates e oficinas abertos ao público. No Cine Brasília, os espectadores também têm à disposição apresentações musicais, feirinha de artesanato e estandes com lanchonetes.
O Agente Secreto
O novo filme do cineasta Kleber Mendonça Filho vem encantando plateias ao redor do mundo. O longa faturou dois prêmios no Festival de Cannes, na França: Melhor Diretor e Melhor Ator para o protagonista, Wagner Moura. Agora, ele está entre os postulantes a defender o título do Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2026. O selecionado será anunciado na próxima segunda-feira (15).
“O Festival de Brasília faz parte da minha formação como pessoa e como alguém que trabalha com o cinema. Eu comecei a vir aqui como jornalista e crítico, depois eu comecei a exibir meus curtas aqui. Mas eu não deixei de observar que O Agente Secreto vai estar abrindo a edição de 60 anos do festival e, para mim, é uma honra, é incrível estar aqui e a experiência coletiva de ver um filme no Cine Brasília é uma das melhores que existem no mundo. Exibir aqui é sensacional, é um dos meus cinemas preferidos no mundo”, exaltou o diretor, que já venceu um Candango, de Melhor Curta, em 2009, por Recife Frio.
“O cinema brasileiro hoje está em um período muito fértil, todo o mundo está vendo e isso é muito prazeroso, esse reconhecimento é muito bom, mas o principal para mim é o próprio povo brasileiro começar a amar o cinema brasileiro. Tudo isso que vem acontecendo nos últimos anos é algo que tem transformado a autoestima do povo brasileiro em relação à sua produção cinematográfica. E esse florescimento tão bonito é fruto de décadas, de muita gente, de muitos profissionais que vêm aí lutando para pavimentar esse caminho. Então, nós temos que celebrar pensando nessa grande linhagem de profissionais do audiovisual que vêm construindo esse caminho para a gente estar aqui hoje celebrando 60 anos deste festival. São ativos culturais, equipamentos culturais potentes, que a gente tem que lutar para que continuem existindo fortes”, emendou a atriz Maria Fernanda Cândido.
Haverá uma nova exibição do longa no Cine Brasília neste sábado (13), às 10h, seguida de um debate com o diretor e o elenco. Os ingressos, porém, já estão esgotados.
Festival
Criado em 1965, como Semana do Cinema Brasileiro, o FBCB chega aos 60 anos como a mais longeva mostra do país. O fato de esta ser a 58ª edição ao longo de seis décadas se dá em razão de um hiato de dois anos em meio à ditadura militar — na pandemia, o festival foi feito de forma remota.
Neste ano, a mostra homenageia a atriz Fernanda Montenegro, que completa 80 anos de carreira. Mas não faltarão honrarias ao legado do cineasta Vladimir Carvalho. Morto em novembro do ano passado, o ex-professor da Universidade de Brasília (UnB) foi figura marcante na história do FBCB e, hoje, dá nome à sala de exibições do Cine Brasília.
“As homenagens são muito importantes. A Fernanda Montenegro, por exemplo, tem essa característica primeiro de ser uma unanimidade nacional, mas ela foi ganhadora do prêmio de Melhor Atriz da primeira edição, em 1965. E está aí viva, plenamente produzindo, tem filmes e peças novas. Então, é uma pessoa que não só tem uma história consolidada, como está aí viva no seu auge de produtividade, mesmo na idade dela. Essas homenagens todas ajudam a fortalecer o festival, que é um festival com história e com tradição”, apontou o diretor artístico do FBCB, Eduardo Valente.
Cine Brasília
Casa do FBCB, o Cine Brasília foi o primeiro equipamento público cultural da cidade, aberto em 22 de abril de 1960, um dia depois da inauguração de Brasília. Hoje, é o único cinema de rua do Distrito Federal, além de ser a maior sala de cinema do Brasil em atividade, com capacidade para atender 620 pessoas.
Nos últimos anos, ele recebeu reformas que melhoraram o espaço e trouxeram mais tecnologia, acessibilidade e conforto, e ampliou o acesso ao público, com programação ampla, regular e acessível definida por uma gestão compartilhada entre o Governo do Distrito Federal (GDF), por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), e uma organização da sociedade civil (OSC).
Agora, se prepara para ganhar um anexo, que constava no projeto original do arquiteto Oscar Niemeyer. Segundo o secretário de Cultura e Economia Criativa, Claudio Abrantes, estão em andamento os trâmites para a construção do prédio, que poderá, inclusive, abrigar o acervo do cineasta Vladimir Carvalho.
“É um trabalho que está sendo feito, a gente já detectou que o Cine Brasília merece um anexo e na sua originalidade se previa um anexo aqui. O lote já está separado, nós estabelecemos um acordo de cooperação técnica com o IAB [Instituto Arquitetos do Brasil], uma instituição muito respeitada e em breve essa instituição lançará o edital para selecionar o projeto arquitetônico do anexo do Cine Brasília. Isso é algo para já, a gente já vai deixar em breve esse legado também”, contou Abrantes.
Por Revista Plano B
Fonte Agência Brasília
Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília