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Exercícios combatem sintomas da covid longa, mostra estudo

Cinco anos após o início da pandemia de Sars-CoV-2, seis em cada 100...

Cinco anos após o início da pandemia de Sars-CoV-2, seis em cada 100 sobreviventes da doença ainda convivem com sintomas causados pela síndrome pós-covid, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre os mais relatados, estão fadiga e dores articulares crônicas, problemas associados ao desequilíbrio do sistema imunológico. Agora, um estudo da Universidade de Loughborough, no Reino Unido, constatou que atividades físicas podem ajudar a reverter o quadro. 

De acordo com a pesquisa divulgada, nesta terça-eira (30/9), no Congresso da Sociedade Respiratória da Europa, em Amsterdã, na Holanda, a inflamação causada pela síndrome prejudica severamente o sistema imunológico dos pacientes com a condição, estimados em 7,5 milhões ao redor do globo e 2,32 milhões no Brasil. O novo estudo foi apresentado por Enya Daynes, membro de uma equipe de pesquisadores liderada pela professora Nicolette Bishop, da Universidade de Loughborough. 

Conforme Daynes, estudos sugerem que pessoas com síndrome pós-covid correm um risco maior de desregulação, quando, em vez de proteger o corpo, o sistema imunológico pode se tornar hiperativo ou mal direcionado. “Assim, acaba atacando as células saudáveis do próprio corpo ou reagindo a coisas que não são prejudiciais”, destacou a cientista. “Isso pode levar à inflamação contínua e a sintomas como fadiga, dor nas articulações e mal-estar geral.”

Reabilitação 

O estudo incluiu 31 pacientes diagnosticados com síndrome pós-covid. Alguns voluntários foram selecionados aleatoriamente para um programa de reabilitação de oito semanas voltado à prática de exercícios. O projeto incluía caminhada em esteira, ciclismo e treinamento de força, enquanto outros pacientes receberam cuidados padrão.

A equipe descobriu que os participantes que concluíram o programa de exercícios tiveram melhorias significativas nas células imunológicas ingênuas — aquelas que nunca encontraram seu antígeno específico e que são importantes para reconhecer e agir contra novas infecções —, em comparação ao grupo tratado somente com cuidados tradicionais. “Observamos melhorias nas células T CD4 de memória central. Elas são responsáveis por fornecer uma resposta rápida a quaisquer infecções que o corpo já tenha enfrentado, incluindo a covid”, frisou Daynes. 

Segundo a coautora do artigo, a equipe também constatou que as células T CD8 de memória central e efetoras — que formam memória imunológica — apresentaram melhora em todo o corpo. “Elas podem identificar e combater infecções futuras mais rapidamente, proporcionando uma resposta imunológica sistêmica crucial e imunidade a longo prazo.”

Mecanismos 

Daynes acredita que o exercício físico ajuda a melhorar o fluxo sanguíneo, mobilizando as células imunológicas e aperfeiçoando a comunicação entre essas estruturas. Isso auxilia a coordenação da resposta a agentes prejudiciais e aumenta a produção e a renovação celular, reduzindo a inflamação crônica e criando um ambiente equilibrado, explica. 

No entanto, Martim Elviro, médico da família e professor de Medicina na Faculdade Santa Marcelina, em Itaquera, São Paulo, alerta que, para alguns pacientes, especialmente os com fadiga intensa, disfunção autonômica ou inflamação persistente, o exercício de alta intensidade pode agravar o quadro inflamatório. Por isso, é essencial o acompanhamento profissional. 

“O monitoramento recomendado é a observação clínica de sintomas pós-esforço, como cansaço desproporcional, dor muscular, piora da falta de ar”, ensina. “É recomendado o uso de escalas de esforço percebido, além da de sinais vitais. Em alguns casos, exames laboratoriais como PCR ou contagem de linfócitos podem auxiliar.”

Regularidade

De acordo com o professor, a regularidade e a duração moderada parecem ter maior impacto positivo do que a escolha do tipo de atividade, isoladamente. “Exercícios aeróbicos leves a moderados têm melhor evidência na modulação imunológica, mas os de resistência também são importantes para manter a massa muscular e evitar o descondicionamento.”

Agora, os cientistas planejam estudar se esses benefícios são os mesmos em pacientes que não foram hospitalizados com infecção inicial por covid-19. Guido Vagheggini, membro do grupo de especialistas em cuidados clínicos e fisiologia respiratória da Sociedade Respiratória Europeia, afirmou que a síndrome afeta pessoas de todas as idades e que os sintomas podem durar muitos meses e impedir o retorno às atividades cotidianas. “Pesquisas sugerem que a covid pode fazer com que o sistema imunológico ataque o corpo, e precisamos entender como tratar isso. As descobertas são importantes para pacientes que temem infecções repetidas por coronavírus e fornecem uma solução potencial para essa preocupação.”

Palavra de especialista

Imunomodulador natural

De forma geral, o exercício atua como um imunomodulador natural, potencializando a resistência a infecções futuras e acelerando a recuperação funcional. Na síndrome pós-covid, a reabilitação física vai além da melhora da capacidade física, configurando-se como uma estratégia terapêutica que também modula a imunidade, com potencial impacto positivo a médio e longo prazo na saúde geral do paciente. Pessoas com covid longa que não foram hospitalizadas também se beneficiam da reabilitação física. A prática regular de atividade promove saúde de múltiplos sistemas corporais e bem-estar geral, sendo necessária para a recuperação, tanto de sintomas como fadiga, dispneia e capacidade funcional, quanto da possível disfunção imunológica parcial.

Juliana Carvalhoinfectologista do Hospital Anchieta, em Brasília

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense

Foto: Enya Danyes/ERS

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