Cabeças baixas, silêncio entre professores e expressões preocupadas de pais deram o clima da Escola Classe 6 de Ceilândia na manhã desta terça-feira (15/4). Em luto, a instituição exibia, em sua entrada, uma faixa com os dizeres “a Escola Classe 6 se solidariza com a dor da família de nossa aluna Sarah Raíssa”. A menina morreu, aos 8 anos, após inalar o conteúdo de um desodorante em aerosol, durante uma prática conhecida como “desafio do desodorante”, que circula nas redes sociais.
As aulas, suspensas nessa segunda (14), foram retomadas hoje, mas com horário reduzido. A turma de Sarah, no entanto, deve voltar à escola somente na quarta (16). Segundo a orientadora educacional Lilian Tamar Oliveria, a manhã de hoje foi dedicada a ouvir os estudantes, ainda abalados com a perda. “As professoras contaram que alguns alunos, confusos com a situação, comentaram sobre já terem visto o desafio na internet“, diz Lilian.
“Estamos planejando o mais rapidamente possível uma reunião com os pais e com instituições que possam passar orientações acerca do controle ao acesso das crianças às redes sociais. A gente se preocupa com os adolescentes, mas esquecemos que os pequenos muitas vezes também têm livre acesso a conteúdos inadequados e perigosos”, destacou a orientadora.
Algumas crianças, ao notarem a movimentação da imprensa, relataram terem conhecido e convivido com Sarah. “Ela era muito alegre e, sempre que dava, brincávamos juntas”, disse uma colega. Outra, lamentou a morte da amiga e disse que sentirá saudades. “Estão todos tristes e chocados por ser alguém tão próximo”, pontua Lilian.
Entenda o caso
Na última quinta (10), Sarah foi encontrada desacordada pelo pai. Deitada sobre a cama, estava com a boca roxa e, ao seu lado, havia uma embalagem de desodorante. No celular, era reproduzido o vídeo do desafio que circula no TikTok. A prática consiste em incentivar os usuários a inalarem o aerosol pelo máximo de tempo possível, provocando complicações respiratórias e cardíacas fatais.
Desesperada, a família pediu socorro ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A menina foi levada para a emergência do Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde deu entrada com um quadro de parada cardiorrespiratória. Os médicos tentaram reanimá-la por cerca de 60 minutos, mas ela não apresentou reflexos. A morte cerebral foi constatada ainda na quarta-feira. Mas o óbito foi oficialmente declarado no domingo.
A Polícia Civil do Distrito Federal abriu uma investigação para apurar as responsabilidades e identificar se houve crime envolvido na morte da menina. Segundo o delegado-chefe adjunto da 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia), Walber José de Sousa Lima, a prioridade agora é identificar quem criou e quem compartilhou o conteúdo. “Caso sejam identificados, podem responder por homicídio duplamente qualificado, com pena de até 30 anos de reclusão”, afirma.
Por Letícia Mouhamad do Correio Braziliense
Foto Carlos Vieira/CB/DA Press / Reprodução Correio Braziliense