segunda-feira, 16 de setembro de 2024
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Eletrificação: saúde para a cidade

Ônibus elétricos fazem parte da solução para a qualidade de vida urbana

Os impactos das emissões de CO² na atmosfera são perceptíveis de diferentes maneiras. Em grande escala, o aquecimento global já interferiu no aumento da temperatura do planeta Terra em cerca de 1,45ºC desde o início da era pré-industrial (1850-1900), gerando o derretimento de geleiras e o consequente aumento do nível do mar, que subiu aproximadamente 10 centímetros desde 1993.

Conforme mostrado pelo Jornal de Brasília, 74,5% das emissões de carbono na atmosfera vêm de atividades terrestres, incluindo o transporte de passageiros e fretes. Aproximadamente 45,1% do total de emissões do planeta abarcam o que é expelido por carros, motos e ônibus, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).

Em menor escala, individual, a poluição atmosférica está associada a doenças e problemas de saúde como acidentes vasculares cerebrais, doenças cardíacas, câncer de pulmão e doenças respiratórias crônicas e agudas, incluindo a asma. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima ainda que cerca de 90% das pessoas em todo o mundo respiram ar poluído.

O efeito estufa é o grande responsável pelo aquecimento global. O nome como em uma estufa, que retém o calor dentro de uma determinada área, o efeito global deste fenômeno é causado pela união de quatro moléculas gasosas: o dióxido de carbono (CO²) – responsável por 60% do efeito – o gás metano (CH4), o óxido nitroso (N²O) e o ozônio (O³).

O gás carbônico atua como uma tela e impede que os raios solares retornem para o espaço, criando uma espécie de véu ou cortina. Essa retenção faz com que toda espécie de calor produzido não saia da atmosfera e se cria, portanto, um espaço abafado. Quando o raio não volta para o espaço e permanece no ar terrestre, aquece o planeta pouco a pouco.

“Por isso que sentimos que o ambiente fica abafado. Em São Paulo há uma nuvem cinzenta, por exemplo. Em cidades com algum tipo de variação topográfica, [essa sensação] é mais forte ainda. E quando acontece esse sistema, o tempo é crítico porque não se consegue respirar bem. Começa a aparecer fuligem, o nariz começa a ter problemas, as pessoas começam a ter asma”, destacou o professor Pastor Willy Gonzales, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (ENC) da Universidade de Brasília (UnB).

O efeito da poluição traz uma série de problemas em castata, conforme argumenta. Mais problemas de saúde geram maiores demandas para o sistema de saúde pública e causam parte da superlotação dos hospitais. “É por isso que é importante trabalhar para que as fontes não sejam poluidoras”, destacou.

Solução urbana

De acordo com Erica Marcos, gerente executiva ambiental da Confederação Nacional do Transporte (CNT), a eletromobilidade é parte da solução para a descarbonização e a garantia de um meio ambiente com mais saúde para a cidade e para a população, uma vez que diminui o ruído e a poluição sonora das cidades, além de entregar uma emissão zero de CO² durante a atividade transportadora.

“Nós entendemos que é uma solução de emissão nula de escapamento, então vai de encontro aos objetivos do setor de transporte, que é buscar a descarbonização, indo de encontro às metas nacionalmente determinadas pelo Brasil no acordo de Paris“, destacou.

Conduta sustentável

O uso dos ônibus, ainda que movidos à combustão, configura um maior benefício para a cidade do que a grande quantidade de carros que trafegam diariamente. De acordo com Pastor Willy, trata-se, em primeira instância, de uma questão física de otimização de espaço e de fluxo do trânsito. É o princípio da impenetrabilidade da matéria, formulada em grande parte por Isaac Newton, que determina que dois corpos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo.

Nesse sentido, a via pública tem uma capacidade limitada de espaço para que os veículos transitem de uma maneira geral. “Em um ônibus, é possível transportar 50 pessoas em um espaço menor, mas 50 pessoas em carros ocupam um espaço muito maior na via”, disse, causando mais tráfego. “A eficiência operacional é definida pela velocidade [em que se percorre um trajeto]”, continuou.

Em outra medida, 50 carros na via urbana significam também 50 veículos emitindo poluentes na atmosfera. O ônibus é quase oito vezes menos poluente que um carro, produzindo um índice de 4,6 kg de CO² por passageiro a cada quilômetro, enquanto o automóvel leve comum produz aproximadamente 36,1 kg de CO² por passageiro/quilômetro.

Os dados são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a partir do estudo “Emissões Relativas de Poluentes do Transporte Motorizado de Passageiros nos Grandes Centros Urbanos Brasileiros”, de 2011. “No caso do transporte de passageiros, um ônibus que transporta 70 pessoas equivale a 50 automóveis nas ruas se deslocando com uma média de 1,5 pessoas por veículo, o que gera uma poluição por passageiro transportado muito menor no caso do transporte coletivo”, afirma o levantamento.

Os ônibus elétricos, além de oferecerem benefícios para a descarbonização, também configuram maior conforto não apenas para o condutor, conforme o JBr mostrou na primeira edição desta série especial de reportagens, mas também para os passageiros, por serem mais silenciosos e possuírem ar condicionado.

Por Vítor Mendonça do Jornal de Brasília

Foto: Alex Silva/AE / Reprodução Jornal de Brasília

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