O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou, ontem, que os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), poderiam ser sancionados pelo governo dos Estados Unidos. A declaração provocou reações no Palácio do Planalto. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, acusou o filho do ex-presidente de “crime intolerável contra a soberania e a democracia no Brasil”.
“A cabeça do Trump é completamente imprevisível. A gente vai ver o que vai acontecer. Mas tenham uma certeza: não estou ameaçando os agentes ou os delegados da Polícia Federal. Estou trazendo a exata dimensão da realidade: os senhores serão sancionados. E sanção não é só não poder entrar nos Estados Unidos. É não ter contas bancárias, são coisas mais severas. Vocês serão impedidos de abrir uma conta no Gmail, uma conta na Uber”, afirmou Eduardo em entrevista à Revista Oeste.
Brasil e Estados Unidos vivem um impasse diplomático por causa da decisão do presidente Donald Trump de sobretaxar em 50% os produtos brasileiros. A medida deve entrar em vigor em 1º de agosto. Morando nos EUA, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que encaminhou relatórios ao norte-americano e ao senador Marco Rubio, secretário de Estado, pedindo novas medidas contra autoridades brasileiras.
Eduardo também comemorou a suspensão do visto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O próximo passo, segundo o deputado licenciado, é convencer o governo de Trump de adotar sanções contra o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos, além das ofensivas contra Motta e Alcolumbre.
Na mesma entrevista, Eduardo afirmou que o Brasil pode estar “mais perto do que nunca” de ver a Lei Magnitsky ser aplicada contra o ministro Alexandre de Moraes. A legislação impõe uma série de sanções econômicas quando aplicada. A declaração ocorre em um momento de mobilização da oposição no Congresso pelo impeachment de Moraes.
“O Davi Alcolumbre está no foco do governo americano e tem a possibilidade de não ser sancionado se não der respaldo a esse regime. E também o Hugo Motta, porque na Câmara dos Deputados tem a novidade da lei da anistia”, disse o deputado. “Tenho certeza de que Alcolumbre e Hugo Motta não são pessoas iguais a Alexandre de Moraes. Eles têm que prestar atenção ao que está acontecendo aqui”, concluiu.
PT reage
Após a entrevista, a ministra Gleisi Hoffmann classificou a fala de Eduardo Bolsonaro como “crime de lesa-pátria”. Para a chefe das Relações Institucionais, ele está conspirando contra o Brasil, com o apoio de agentes estrangeiros. “A conspiração desse traidor da pátria com os agentes de Donald Trump descamba para uma chantagem cada vez mais indecente, exigindo a anistia de Jair Bolsonaro e o impeachment de Alexandre Moraes para suspender sanções dos EUA ao Brasil”, escreveu nas redes sociais.
Gleisi afirmou que as ações de Eduardo são intoleráveis. “A ameaça de Eduardo Bolsonaro aos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, é um crime intolerável contra a soberania e a democracia no Brasil”, declarou.
Eduardo Bolsonaro afirmou estar “trabalhando” para pressionar autoridades estrangeiras a adotarem medidas contra o ministro do STF, que é relator de ações contra seu pai, Jair Bolsonaro, e seus aliados. Nos bastidores, ele tem celebrado movimentos de Trump, como o anúncio de um tarifaço de 50% sobre exportações brasileiras a partir de 1º de agosto e o suposto cancelamento do visto americano de Alexandre de Moraes.
Eduardo Bolsonaro é alvo de um inquérito que apura se sua atuação internacional é possível articulação para pressionar instituições brasileiras por vias externas. O contexto é especialmente delicado, já que Jair Bolsonaro é réu no Supremo sob a acusação de ter participado de uma trama para tentar reverter o resultado eleitoral de 2022.
O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) também criticou o filho do ex-presidente. O parlamentar disse que a “chantagem” terá efeito contrário.
“O efeito será o contrário. Alguém realmente acha que, depois dessa ameaça pública e absurda, Alcolumbre e Motta vão pautar esse projeto? Seria uma desmoralização completa do Congresso, uma rendição vergonhosa à pressão externa articulada por um deputado submisso a interesses estrangeiros”, afirmou o petista.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
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