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“Distrito Federal é laboratório vivo da inovação”, diz CEO da Cielo

Em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense, o CEO da Cielo, Estanislau Bassols, revela como...

Em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense, o CEO da Cielo, Estanislau Bassols, revela como o comportamento de consumo no Distrito Federal tem se transformado — e o que esses movimentos dizem sobre o futuro do varejo no país. Com base em dados do Índice Cielo de Varejo Ampliado (ICVA), ele mostra que, mesmo diante da cautela econômica, o comércio brasiliense cresceu 3,8% nominalmente em 2025. O avanço foi impulsionado por setores como drogarias, postos de gasolina e pet shops, que, hoje, se destacam no consumo local. “Brasília é um laboratório vivo da inovação”, define Bassols.

Com 50 anos recém-completados na semana que passou, o executivo tem uma carreira marcada por passagens em grandes empresas como Telefônica, VR, SKY, Boticário, Wine e GPTW. Sua última posição antes de assumir a Cielo foi como presidente da Mastercard no Brasil. Quando trocou os cartões pelas maquininhas, encontrou a companhia num momento novo, com novos competidores no mercado. 

Uma das estratégias passou a ser a de mirar em novos mercados. Imediatamente, Brasília entrou no radar. Um dos alvos foi colocar pagamento por aproximação no metrô. A capital é um mercado importante para a empresa. Com renda média mais alta do país e um dos níveis mais elevados de bancarização, o DF se consolida como vitrine da digitalização financeira no Brasil. O uso do Pix dobrou de participação nas vendas em apenas um ano, e o pagamento por aproximação já faz parte da rotina da população — especialmente no transporte público, onde o número de acessos via cartão saltou quase 700% desde 2023. “É o cotidiano sendo transformado pela tecnologia”, afirma Bassols, que na sexta-feira divulgou pesquisa sobre hábitos de compras entre as gerações e intenção de compras na Black Friday.

Bassols também revela como a inteligência artificial tem se tornado o motor das decisões estratégicas da companhia, permitindo mapear hábitos de consumo em tempo real e oferecer previsões cada vez mais precisas aos varejistas. “O futuro está na personalização e na simplicidade”, diz. Para ele, Brasília antecipa o comportamento do Brasil que vem aí: um mercado mais digital, inclusivo e humano, ampliado pela tecnologia.

A Cielo tem uma ampla base de dados, pois atua em todo o país. Qual a análise que o senhor faz do momento da economia do DF?

O Distrito Federal é uma vitrine para nós. Brasília é hoje um laboratório vivo da inovação. A economia é resiliente e os dados mostram isso. Desde o início de 2025, o faturamento do varejo no DF cresceu 3,8% nominalmente, acima da média da Região Centro-Oeste, de acordo com o nosso ICVA, o Índice Cielo de Varejo Ampliado. E a gente vê setores bem aquecidos, com altas de faturamento superiores a 11% no ano, como o de drogarias e postos de gasolina. Mas o dado que acho que mais impressiona é que, descontada a inflação, o setor que mais cresceu neste ano foi o de veterinárias e pet shops. É um dado curioso, né? Ele é seguido pelas drogarias e cosméticos. O varejo de beleza é forte na região, impulsionado pela alta renda média da população. É um setor no qual vemos uma grande expansão, mesmo no cenário econômico de cautela que o Brasil vive hoje. O brasiliense continua consumindo, mas de forma mais racional e digital.

E o que diferencia Brasília de outras capitais do país nesse comportamento?

Brasília tem um perfil de consumo sofisticado e muito conectado. É uma das regiões com maior bancarização e penetração de meios de pagamento eletrônicos. Os nossos dados revelam que o brasiliense valoriza conveniência e tecnologia. O Pix, por exemplo, dobrou a participação no faturamento local em pouco mais de um ano. Isso mostra uma população que adota rápido o novo. É uma economia que acompanha essa transformação.

A inteligência artificial influencia as análises?

Totalmente. Hoje, a Cielo usa modelos de IA e aprendizado de máquina para identificar padrões, prever comportamentos de consumo e evoluir continuamente. Conseguimos perceber, por exemplo, que o horário de pico de transações é o almoço, mas o maior faturamento se concentra entre 10h e 18h. A IA permite cruzar esses dados com variáveis sazonais e de renda, oferecendo ao varejista previsões muito mais assertivas sobre o comportamento do consumidor local. Tudo isso só é possível graças a uma sólida governança de dados e a uma cultura organizacional cuidadosamente construída. Cada processo, produto ou decisão é analisado sob a perspectiva de como a inteligência artificial pode agregar valor. Esse olhar estratégico promove consistência, acelera a transformação digital e reflete uma cultura de experimentação responsável.

O DF tem a maior renda média do país. O que isso reflete nos dados?

Brasília tem uma característica marcante: o público de altíssima renda representa apenas 10,8% das transações, mas responde por 24,2% do faturamento total. É um público de alto ticket médio, que consome com intensidade e com forte adesão a meios digitais. Essa combinação de renda elevada e familiaridade tecnológica torna o DF um excelente laboratório para testar novas soluções financeiras e modelos de pagamento com IA.

Um desses laboratórios seria o setor de mobilidade urbana local? Brasília também vem se destacando na digitalização do transporte público. Qual o papel da Cielo nisso?

Foi um projeto-piloto essencial. Em 2023, apenas o Metrô de Brasília aceitava pagamento por aproximação. Hoje, todas as empresas de transporte da capital já operam com cartões contactless. O brasiliense pode pagar aproximando o cartão com chip na catraca, com o celular ou até com smartwatch, e ele gostou dessa conveniência. O número de acessos via cartão saltou quase 700% em 2025. Isso é o cotidiano sendo transformado pela tecnologia. A Cielo processa essas transações com um nível altíssimo de segurança. É uma revolução silenciosa: menos filas, mais agilidade e uma experiência digital mais humana.

O que mais chama atenção nos hábitos de consumo da cidade?

O sábado é o dia preferido dos brasilienses para comprar nas lojas físicas. É quando o faturamento atinge 17,5% da semana, puxado por um ticket médio de R$ 98,40, acima da média. Além disso, os dados mostram que os homens do DF compram mais que as mulheres. Eles são responsáveis por 52,1% do faturamento do varejo.

E como essas informações ajudam o pequeno empresário? Que tipo de insight a empresa consegue gerar a partir dos dados?

Temos um produto por aqui, o Cielo Farol, que pode mostrar a um comerciante em Taguatinga ou no Sudoeste, por exemplo, qual dia vale mais a pena lançar uma promoção, qual é o perfil de quem compra na região ou quando o cliente está mais propenso a pagar com Pix. É um salto de competitividade. A Cielo está comprometida em democratizar o acesso a essa inteligência e oferece, inclusive, esse produto de forma gratuita aos seus clientes. Tudo isso para fortalecer o pequeno negócio, que é a espinha dorsal do varejo brasileiro.

Brasília também tem se mostrado um polo de talentos em tecnologia. Isso se reflete na Cielo?

Sem dúvida. O próprio Correio Braziliense noticiou a criação do nosso novo departamento de IA, e isso fez a gente ver que o DF é um celeiro de talentos. Para 10 vagas, recebemos quase 90 inscrições de Brasília. Isso mostra que há um ecossistema tecnológico vibrante na região. A capital concentra universidades e centros de pesquisa de ponta, e estamos atentos a essa nova geração de talentos que quer aplicar IA para resolver problemas reais da economia.

A partir dessa leitura, o que o senhor diria que Brasília representa para a Cielo hoje?

Brasília é um espelho do futuro do consumo brasileiro. Aqui, a tecnologia chega rápido, é testada e ganha escala. Seja no transporte, no varejo ou nos meios de pagamento, o DF nos mostra como a inteligência artificial e a digitalização estão simplificando o dia a dia das pessoas. Por isso, costumo dizer que Brasília é um laboratório vivo da inovação financeira. E a Cielo é a plataforma que ajuda a traduzir esses dados em valor para todas as pessoas.

E o futuro? O que vem pela frente na relação entre IA e consumo?

É um assunto fascinante. Acredito que o futuro está na personalização em tempo real. Mas nada disso é possível se uma tríade não estiver completa nessa relação de consumo: simplicidade, ubiquidade e segurança. Cada transação conta uma história, e a IA nos ajuda a entender essas histórias de forma ética e segura. O varejo do futuro será preditivo. A boa notícia é que a tecnologia está se tornando cada vez mais acessível. Quando o conhecimento chega ao pequeno empresário, o país inteiro avança.

Como o senhor resume o propósito da Cielo nessa nova economia digital?

Simplificar e impulsionar negócios de forma acessível para todas as pessoas. A tecnologia, especialmente a inteligência artificial, é uma aliada poderosa, mas o verdadeiro valor está em como ela serve ao humano: ao empreendedor que quer crescer, ao consumidor que busca facilidade e a cada região, de Norte a Sul do Brasil, que se transforma com isso. Quando a Cielo inova, não é só a empresa que avança, mas todo o ecossistema. Porque o futuro não é apenas digital. É humano, ampliado pela tecnologia, com propósito e inclusão no centro de tudo.

Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Divulgação

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