A Polícia Federal afirmou, no relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que o atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, foi o responsável por um núcleo criminoso que atuou para atrapalhar as investigações sobre o uso ilegal do órgão.
“O embaraçamento sistemático exigiu esforço redobrado da equipe de investigação policial para superar os obstáculos criados, retardando o descobrimento dos fatos delituosos ocorridos na Abin e na consequente preda do acervo probatório”, diz o PF no relatório. “A Direção-Geral agiu para controlar as oitivas e garantir que os servidores não colaborassem com a apuração. A promessa de que a investigação seria ‘acomodada politicamente’ no STF e que tudo se resolveria numa sindicância interna funcionou como um salvo-conduto para o silêncio e para o ‘esquecimento coletivo’ como, por exemplo, qual seria a estratégia para ‘melar as eleições’.”
Outros membros da cúpula também aparecem no relatório. Eles são delegados de carreira da Polícia Federal e foram nomeados no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas alguns deles já atuaram na gestão de Jair Bolsonaro. Entre os citados do núcleo, estão Luiz Carlos Nóbrega, chefe de gabinete de Corrêa, e José Fernando Chuy, corregedor-geral do órgão. Além deles, constam Alessandro Moretti, ex-diretor-adjunto da Abin, e Paulo Maurício Fortunato, ex-secretário de Planejamento da instituição. Todos foram indiciados pela PF.
“Este núcleo atuou para dificultar as investigações sobre a organização criminosa da gestão anterior, por meio de estratégias conjuntas com investigados, recalcitrância na entrega de provas, ações para assediar e desacreditar a ex-corregedora, omissão sobre operações ilegais e potencial manipulação de informações e procedimentos internos”, aponta a PF.
Luiz Fernando Corrêa foi nomeado pelo presidente Lula em maio de 2023 para assumir o comando da Abin. Ele é delegado aposentado e foi diretor-geral da Polícia Federal entre 2007 e 2011. Também ocupou o cargo de secretário nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, no período de 2003 a 2007.
Em um comunicado público, a União dos Profissionais de Inteligência de Estado (Intelis) pediu a demissão de Corrêa. Eles alegam que é “inadmissível” o diretor permanecer no cargo após o indiciamento e os desdobramentos sobre a possível participação dele no caso. O presidente Lula não se pronunciou sobre o eventual afastamento do delegado. A defesa de Corrêa não se manifestou.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Leonor Calasans/IEA-USP