Um sapato arremessado para o alto. Um viajante dando piruetas e cambalhotas pelo portão de embarque. A voz de Céline Dion reverberando pelo terminal.

Não é uma cena que você vê com frequência no aeroporto — ou pelo menos, não costumava ser.

Mas, pelo menos nas redes sociais, dançar no aeroporto se tornou uma nova trend de viagem, com viajantes do mundo todo passando pela área de retirada de bagagem, pelos terminais e pelos portões do aeroporto, conquistando milhões de visualizações online no processo.

“Arrasei neste TikTok, mas perdi meu voo”

Tudo começou no ano passado, quando o dançarino e coreógrafo Blake McGrath estava esperando um voo no Aeroporto Internacional Dallas-Fort Worth, em Dallas, Texas.

McGrath se lembrou de uma vez que um amigo se filmou dançando no aeroporto. De repente, inspirado, McGrath decidiu se levantar e “rolar na mala, tirar o sapato e dar algumas voltas”.

O dançarino tinha a trilha sonora ideal em mente: a faixa “It’s All Coming Back to Me Now”, de Céline Dion. É a escolha perfeita, diz McGrath, porque é “uma música dramática e lírica que todo mundo conhece”.

O vídeo resultante de 21 segundos (filmado pelo assistente de McGrath) mostra o dançarino rolando em sua mala de rodinhas, com um travesseiro de pescoço preso. Ele tira o tênis para fazer piruetas várias vezes, antes de rolar dramaticamente no chão enquanto a poderosa balada de Dion de 1996 atinge o auge.

“O estilo livre tomou conta, e eu meio que comecei a pular, girar e voar”, contou McGrath à CNN.

O coreógrafo pensou em postar o vídeo no TikTok e no Instagram imediatamente, mas, então, seu assistente olhou para a hora e avisou que eles deveriam ir até o portão.

“Corremos para o nosso portão, e disseram: ‘Ah, sim, acabou de fechar. O voo já partiu'”, lembra McGrath.

Este não foi o resultado ideal. Mas quando finalmente postou a dança no TikTok, McGrath apropriadamente colocou no vídeo o título: “Arrasei neste TikTok, mas perdi meu voo”, com a legenda: “Valeu a pena????”

A internet votou um sonoro “sim” — o vídeo de McGrath dançando no aeroporto começou a ganhar força imediatamente.

Hoje, o vídeo já foi visto mais de 6,5 milhões de vezes e continua crescendo. A dança se tornou a marca registrada de McGrath, e ele já reproduziu os movimentos — com algumas mudanças aqui e ali — em outros aeroportos em diversas ocasiões.

McGrath também gerou uma série de vídeos imitadores, com dançarinos do mundo todo tocando Céline Dion enquanto rodopiam pelo terminal.

O dançarino, que também comanda um projeto de mentoria, fica particularmente satisfeito ao ver crianças aderindo à trend. Ele até ajudou uma pequena dançarina a recuperar o sapato perdido em uma coreografia.

McGrath tem uma parceria aérea ainda não anunciada em vista. Aeroportos do mundo todo comentam regularmente os vídeos virais do coreógrafo, incentivando-o a dançar em seus aeroportos — incluindo o Aeroporto Schipol de Amsterdã, onde um funcionário comentou em uma de suas postagens no TikTok: “Quando você vai para Amsterdã?”

Isso apesar do fato de o dançarino não necessariamente seguir a etiqueta do aeroporto durante a dança — ele deixa sua mala desacompanhada para continuar a rotina.

Um porta-voz do Aeroporto Schipol de Amsterdã disse à CNN que os funcionários do aeroporto “apreciaram a positividade e a criatividade” compartilhadas por McGrath.

“Ele é sempre bem-vindo em Schiphol”, disse o porta-voz. “Quanto aos outros viajantes, eles também são sempre bem-vindos para dançar um pouco no nosso aeroporto.”

O hino não oficial da dança do aeroporto continua sendo “It’s All Coming Back to Me Now” (Céline Dion repostou o vídeo original — algo que McGrath achou “muito legal”), embora o dançarino também tenha experimentado outras trilhas sonoras para sua coreografia, incluindo “Run to You“, de Whitney Houston.

McGrath diz que não consegue acreditar em como essa trend cresceu e se espalhou pelas redes. “Isso simplesmente gerou muita alegria no mundo todo, o que é muito legal”, afirma.

E, apesar de muitas pessoas terem seguido os passos de McGrath, o dançarino garante que — até agora — não ouviu falar de mais ninguém que tenha perdido o voo por causa disso.

“Acho que as pessoas são mais atentas ao relógio do que eu”, diz McGrath. “Esse não é um dos meus talentos. Costumo deixar as coisas para a última hora.”

“Despertou tanta alegria”

Então, por que exatamente a trend da dança no aeroporto decolou no TikTok?

Talvez sejam as impressionantes habilidades de dança em exibição. Ou o potencial viral até então inexplorado da balada poderosa de Céline Dion.

Ou simplesmente o contraste entre a banalidade do aeroporto e a teatralidade da dança — enquanto os vídeos acumulam milhões de visualizações online, os viajantes que assistem aos vídeos de McGrath ao fundo geralmente não se importam com suas piruetas. A maioria nem tira os olhos do celular.

Embora o momento do arremesso de sapatos possa parecer um perigo iminente para os frequentadores do aeroporto, McGrath enfatiza que a segurança é fundamental e diz que se mantém consciente dos outros viajantes e do ambiente ao redor durante toda a apresentação.

“Sempre uso minha visão periférica”, afirma o coreógrafo. “Já fiz, até agora, provavelmente 50 vídeos e gravações de aeroportos… e nunca cheguei perto de bater ou chutar ninguém.”

McGrath não pede permissão nem avisa ninguém antes de começar a dançar, mas diz que sempre respeita a privacidade e a perspectiva dos outros. Se alguém pedir para parar, o dançarino garante que interrompe os movimentos imediatamente.

Por outro lado, às vezes, os companheiros de viagem ficam totalmente absorvidos por sua coreografia — e até reservam um tempo para aplaudir depois. Em certa ocasião, no Aeroporto Internacional de Tulsa, em Oklahoma, McGrath foi aplaudido de pé.

Para o coreógrafo e seus colegas dançarinos do aeroporto, parte da alegria da trend está na imprevisibilidade do ambiente do aeroporto.

Um exemplo é o vídeo de dança no aeroporto da usuária do TikTok Taylor Hamm, em que um zelador do local passa direto, perplexo, pelo quadro da gravação. Este momento foi “totalmente inesperado”, revelou Hamm à CNN.

Ela estava no Aeroporto Internacional de San Antonio, no Texas, às 6h da manhã, quando decidiu dar o play em “It’s All Coming Back to Me Now” e começou a girar. Hamm estava viajando com amigos que a incentivaram e registraram o momento.

“Uma aeromoça estava passando e perguntou: ‘São seis da manhã. O que você está fazendo?’”, lembra a usuária do TikTok, rindo.

Hamm sugere que, para os usuários das redes sociais, o apelo da trend reside, em parte, no potencial fator de risco de dançarinos serem tão vulneráveis ​​e expressivos em público.

Ela também descreve os pensamentos que algumas pessoas devem ter: “Meu Deus, não acredito que eles estão fazendo isso na frente de todas essas pessoas”. Mas os dançarinos, ressalta, “gostam de ter uma plateia”. Ser performático em público está “na nossa natureza”, acrescenta.

É o mesmo motivo pelo qual e Hamm não hesitou em rolar no chão do aeroporto. “É só uma coisa de dança”, observa. No TikTok, ela ainda diz: “Todo mundo estava falando dos germes”.

“Sei que os aeroportos são conhecidos por não serem os mais limpos, mas, honestamente, as pistas de dança provavelmente não são muito mais limpas”, completa.

Para uma dançarina profissional como Hamm, o principal apelo da trend é repetir a coreografia de McGrath. “As voltas, os saltos e as cambalhotas… é um desafio divertido para nós, dançarinos, tentar essas voltas e truques”, explica.

Uma trend para todos

Se a dança do aeroporto de McGrath é um “desafio” para dançarinos treinados, você poderia presumir que ela seria proibida para quem não é dançarino.

Mas você estaria errado. A trend foi adotada por pessoas no mundo todo — incluindo aquelas munidas apenas do amor pelo movimento e da ausência de constrangimento.

É o caso da fotógrafa, e não dançarina, Saindy Pyles, que recentemente se levantou no Aeroporto Internacional Hartsfield-Jackson, em Atlanta.

Pyles passou semanas admirando danças de aeroporto em seu feed do TikTok e, quando chegou a sua vez de embarcar em um avião, esperava poder ver uma dançarina em ação.

“Acho que é uma habilidade que eu realmente amo”, contou à CNN. “E no aeroporto, por que não? Quer dizer, todo mundo está tão animado, animado, animado, animado. Então, é muito legal sentar lá e meio que vê-los se divertindo um pouquinho antes do próximo voo.”

O objetivo de Pyles naquele dia, no Hartsfield-Jackson International, era “pegar o sapato de alguém dançando”. Mas, quando chegou ao portão, não havia sinal de tênis voando pelo ar. Nenhum som de Céline Dion. Pyles não se intimidou.

“Como eu realmente não vi nada, pensei: ‘Deixa eu fazer uma'”, lembra. “Então, pedi para meu marido me filmar. Ele não sabia o que eu estava tentando fazer e ficou um pouco envergonhado, para ser sincera.”

Pyles ignorou o desconforto do marido, e adorou cada momento da experiência. “Estava animada por fazer isso”, diz. “Definitivamente, isso me trouxe alegria. Adoro dançar… dançar no aeroporto era novo, definitivamente novo, mas foi divertido. Adorei.”

‘Dance como se ninguém estivesse olhando’

Para Pyles, a trend da dança no aeroporto é um lembrete para “desacelerar e admirar um pouco a cena”, mesmo no ambiente muitas vezes estressante do aeroporto.

“É isso que me diz”, afirma. “Desacelere, aproveite os momentos, divirta-se um pouco e dance como se ninguém estivesse olhando.”

Hamm concorda com essa opinião. Ela tem tendência à ansiedade ao voar e descobriu que dançar no aeroporto ajudou a aliviar o seu nervosismo. “Dançar e se movimentar um pouco no começo do dia sempre melhora”, diz. “Só deixa tudo um pouco menos sério.”

Quanto a McGrath, ele espera que a trend incentive todos a “serem crianças quando tivermos vontade”. O dançarino diz ter ficado feliz que a dança espontânea no aeroporto tenha se tornado sua assinatura improvável.

“Acho que já tem tanta coisa negativa acontecendo no mundo que, se eu puder usar meu talento para lançar uma trend, criar alegria e fazer as pessoas se sentirem leves e amadas, esse é o meu propósito”, afirma o coreógrafo. “Então, vou continuar carregando a mala por mais um tempinho.”

Por Revista Plano B

Fonte CNN Brasil

Foto: Reprodução/Blake McGrath