A dor de ser alvo de racismo ainda ecoa na memória de Laryssa Shneider, 26 anos, estudante de publicidade e propaganda do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). No início deste ano, ela foi vítima de um ataque racista em um grupo de WhatsApp da faculdade — episódio que ganhou repercussão e levou à expulsão do agressor.
“Eu me senti humilhada, e o pior foi perceber que muitos colegas não entenderam a gravidade do que aconteceu. Achavam que era só uma piada”, contou. O caso de Laryssa, somado a outro episódio recente — a divulgação de um vídeo de teor elitista e discriminatório por um aluno do IDP —, que impulsionou uma resposta institucional.
O IDP firmou, nesta quinta-feira (7), um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus-DF) para promover ações de enfrentamento ao racismo e valorização da diversidade no ambiente universitário.
A principal ação prevista na parceria é a implementação do curso de letramento racial, com capacitações, palestras, formações, ações sociais e eventos temáticos voltados a professores, estudantes e colaboradores da instituição.
“O racismo não depende de intenção, depende de ignorância”, afirmou a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani, durante a assinatura do acordo. “Quando a gente entende o impacto das nossas palavras e atitudes, não pode mais fingir que não sabe. O letramento racial é um caminho para construir espaços mais justos, acolhedores e seguros para todas as pessoas.”
O diretor acadêmico do IDP, Atalá Correia, que assinou o documento em nome da instituição, destacou o papel da educação na construção da equidade: “Estamos unindo esforços com o poder público para enfrentar uma chaga histórica. Essa parceria nos dá instrumentos para avançar no combate ao racismo dentro e fora da sala de aula”.
O subsecretário de Direitos Humanos e Igualdade Racial, Juvenal Araújo, ressaltou o comprometimento da instituição com a prevenção. “O IDP buscou o apoio da Sejus para transformar uma situação negativa em oportunidade de mudança. Agora, vamos oferecer formação contínua, que prepara não só para reagir, mas para prevenir atitudes discriminatórias”, declarou.
Injúria racial
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), os ambientes escolares foram o terceiro local com mais registros de injúria racial em 2024, representando 10,9% dos casos. Já um estudo do Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF) divulgado neste ano apontou que 18% dos estudantes negros afirmaram já ter sofrido racismo nas escolas. Entre professores, 59% relataram que o preconceito mais comum em sala de aula é o relacionado à raça ou etnia.
Criado pela Sejus-DF, o Programa de Letramento Racial oferece oficinas, conversas e palestras voltadas à conscientização sobre o racismo estrutural e à promoção de ambientes mais inclusivos. A iniciativa já passou por diversas escolas públicas do DF desde abril deste ano, alcançando centenas de alunos, professores e servidores. Com o novo acordo, o IDP se torna a primeira instituição privada de ensino a aderir ao programa, que deve continuar se expandindo para outros espaços educativos — públicos e privados.
*Com informações da Sejus-DF
Por Revista Plano B
Fonte Agência Brasília
Foto: Jhonatan Vieira/Sejus-DF