Considerado um dos jogos mais importantes e valiosos da história recente do Flamengo, o enfrentamento contra o poderoso Bayern de Munique entra em cena para tirar o clube e a torcida rubro-negra da zona de conforto. Hoje, às 17h, no Hard Rock Stadium, em Miami, o time do técnico Filipe Luís luta pela manutenção do sonho na Copa do Mundo de Clubes contra um adversário parecido em várias características, mas oposto em relação aos rivais habituais em âmbito nacional e continental. O objetivo de chegar às quartas de final passará pelo poder de adaptação dos brasileiros em vários quesitos. O principal: não ter tanto apego à posse de bola. Globo, SporTV e CazéTV transmitem.
Por si só, a qualidade técnica dos jogadores do Bayern de Munique, equipe da primeira prateleira do futebol da Europa, dimensiona o tamanho do desafio flamenguista. Mas há diversas nuances envolvidas na partida. Assim como o Flamengo faz no Brasil, a equipe alemã é soberana em termos de posse de bola quando entra em campo. O modelo de jogo elaborado pelo técnico Vincent Kompany transforma o rival rubro-negro em senhor do jogo contra praticamente todos os modelos táticos aplicados pelos oponentes.
Os números exemplificam o apreço de Flamengo e Bayern de Munique pela bola. Hoje, Filipe Luís realiza o 51° jogo à frente do clube carioca. Nos anteriores, de acordo com levantamento do Correio, terminou os 90 minutos com menos posse de bola em relação aos adversários em apenas quatro oportunidades (leia Jogos para se inspirar). A equipe bávara tem dados ainda mais impressionantes no recorte da temporada 2024/2025, a primeira liderada por Kompany. Em 61 partidas, apenas Bayer Leverkusen (duas vezes) e Stuttgart ousaram desafiar o domínio do rival. E, mesmo assim, não levaram a melhor.
Mas qual o caminho para vencer um adversário acostumado a usar a mesma arma do Flamengo para vencer os jogos? Apesar de o futebol não ser uma ciência exata e não existir um modelo incontestável para se chegar à vitória, as oito derrotas do Bayern de Munique ao longo da temporada dão um caminho a ser explorado por Filipe Luís. A estrada do êxito passa por paciência e letalidade. Em todos os tropeços do clube alemão, o adversário ficou menos tempo com a bola, mas soube aproveitar as oportunidades de construir jogadas com objetividade quando surgiam espaços.
Três casos chamam a atenção: Benfica (1 x 0), Bochum (3 x 2) e Feyernoord (3 x 0) ganharam do Bayern de Munique com menos de 30% de posse de bola. Os holandeses protagonizaram o feito com margem de 20% no quesito após o apito final. Aí, entra a precisão. O time acertou três das oito finalizações ao gol, mesmo aproveitamento do rival alemão — na ocasião, o time de Kompany terminou com um jogador expulso. Na Copa do Mundo de Clubes, os portugueses colocaram uma de sete chances na rede. “É uma intensidade sul-americana, um tipo diferente de futebol. Temos que nos adaptar a isso, e ao mesmo tempo fazer o nosso jogo”, avaliou o zagueiro Jonathan Tah.
Adaptação
Ao analisar os números e a imposição territorial do Flamengo, o torcedor pode até desconfiar, mas Filipe Luís esbanja poder de adaptação para ficar sem a bola. Em diversas entrevistas, o treinador ressaltou a preferência por entregar um futebol dominante. Fugir das características não é o conceito, mas o rubro-negro tentará se encaixar ao modelo do Bayern. “Abrir mão da convicção, jamais. Eu tenho uma ideia muito clara do que eu penso no jogo, da forma que eu acredito que escolhemos para o caminho a ser traçado até a vitória. O adversário nos vai causar dificuldades e nos vai colocar em algum terreno onde também estamos preparados para jogar”, discursou, antes de vencer o Chelsea.
Há outra nuance da qual o Flamengo não pode se desapegar. Trata-se da marcação com as linhas altas. Ou seja, a tradicional pressão no campo de ataque. Temido por quem o enfrenta, o Bayern de Munique tradicionalmente duela contra retrancas concentradas no campo defensivo do rival. O time brasileiro é oposto no quesito. Em estudo do Observatório do Futebol (CIES), o rubro-negro começa a lutar pela bola 59 metros à frente do próprio gol. O número é o maior número entre as equipes analisadas em seis ligas, incluindo a alemã. O Bayern é o segundo no quesito (57,16m), mas raramente duela com quem adota o mesmo estilo.
Se os prognósticos se cumprirem, os torcedores das duas equipes devem se preparar para um jogo de paciência. Quem tiver a bola no pé, terá a opção de atuar na zona de conforto. Sem ela, precisará exercitar a tranquilidade. A dimensão do duelo indica emoções em todas as fases do jogo. Para levar a melhor, resta ao Flamengo entender o ritmo da partida e ser letal na hora certa. Mesmo quando precisar abdicar das preferências.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Adriano Fontes / CRF