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Como a gordura do corpo influencia o envelhecimento do coração

Um estudo, publicado na revista da Sociedade Europeia de Cardiologia, com 21.241 pessoas...

Um estudo, publicado na revista da Sociedade Europeia de Cardiologia, com 21.241 pessoas no Reino Unido mostrou que não é apenas a quantidade de gordura no corpo que importa para a saúde do coração, mas também onde ela se acumula — e isso varia entre homens e mulheres.

Pesquisadores utilizaram técnicas de ressonância magnética de corpo inteiro e modelos de aprendizado de máquina para prever a chamada “idade cardiovascular”, uma medida que compara a idade cronológica da pessoa com sinais de envelhecimento do coração e dos vasos sanguíneos. A diferença entre esses valores foi chamada de “age-delta” no estudo: quanto maior, mais envelhecido está o sistema cardiovascular em relação à idade real.

Os resultados indicam que o acúmulo de gordura visceral (aquela localizada entre os órgãos), a infiltração de gordura nos músculos e o excesso de gordura no fígado estão entre os principais fatores que aceleram o envelhecimento cardiovascular tanto em homens quanto em mulheres.

Nos homens, também foi identificado um efeito negativo da gordura abdominal subcutânea e da chamada gordura androide, que se concentra na região do tronco.

Por outro lado, a gordura ginoide — localizada em quadris e coxas — mostrou-se associada a efeitos protetores, especialmente em mulheres antes da menopausa. Nessas mulheres, a presença desse tipo de gordura esteve ligada a um coração biologicamente mais jovem. Além disso, a massa de gordura total do tronco e do corpo inteiro também apresentou relação positiva em mulheres de todas as idades.

A pesquisa confirmou diferenças importantes entre homens e mulheres:

  • Mulheres tendem a acumular mais gordura subcutânea e ginoide;
  • Homens acumulam mais gordura visceral e androide, associadas a maior risco cardiovascular;
  • A gordura visceral cresce mais rápido com a idade nos homens (8,2% por década) do que nas mulheres (5,3%).

Estilo de vida e biomarcadores

Outros fatores também influenciam o envelhecimento do coração. Níveis altos de colesterol LDL e apolipoproteína B foram associados a maior “age-delta”, enquanto o HDL-colesterol (“colesterol bom”) teve efeito protetor.

Entre os hormônios, o estradiol mostrou leve efeito protetor em mulheres pré-menopáusicas, enquanto a testosterona livre esteve ligada a um menor envelhecimento cardiovascular em ambos os sexos.

Mesmo pessoas obesas fisicamente ativas tiveram resultados melhores que obesos sedentários. Ainda assim, o excesso de gordura visceral permaneceu um fator de risco relevante, independentemente da prática de exercícios.

IMC em xeque

O estudo também aponta limitações do Índice de Massa Corporal (IMC). Por ser uma medida global, o IMC pode superestimar ou subestimar a real quantidade de gordura no corpo. Na pesquisa, quase um terço das mulheres classificadas como “com sobrepeso” pelo IMC foram reclassificadas como “normais” quando analisadas pela composição corporal.

Como a distribuição de gordura corporal influencia o envelhecimento cardiovascular?

A distribuição da gordura corporal desempenha um papel crucial no envelhecimento cardiovascular, com padrões específicos de gordura associados a mudanças protetoras ou prejudiciais. A gordura visceral (gordura abdominal profunda em torno dos órgãos), a infiltração de gordura no tecido muscular e a fração de gordura hepática são os preditores mais fortes de um aumento na idade cardiovascular (a diferença entre a idade cardiovascular prevista e a idade cronológica) para ambos os sexos. Isso significa que ter mais desses tipos de gordura está associado a um envelhecimento mais rápido do sistema cardiovascular. Em contraste, a gordura ginoide (gordura na parte inferior do corpo, como quadris e coxas) foi associada a uma diminuição da idade cardiovascular em mulheres, sugerindo um papel protetor.

Existem diferenças sexuais significativas na forma como a gordura corporal afeta o envelhecimento cardiovascular?

Sim, existem diferenças sexuais notáveis. Embora a gordura visceral, a infiltração de gordura no músculo e a gordura hepática sejam prejudiciais para ambos os sexos, certos depósitos de gordura têm efeitos específicos de sexo. Por exemplo, o volume de tecido adiposo subcutâneo abdominal e a massa gorda androide (gordura na área do tronco) foram associados a um aumento da idade apenas em homens. A gordura ginoide, no entanto, foi associada a uma diminuição da idade cardiovascular em mulheres pré-menopáusicas, mas não pós-menopáusicas, e não teve uma associação significativa em homens. Essa diferença pode ser parcialmente mediada por hormônios sexuais como o estradiol, que pode influenciar a distribuição da gordura e ter efeitos cardioprotetores em mulheres até a menopausa.

O que os resultados do estudo indicam sobre o Índice de Massa Corporal (IMC) em comparação com a distribuição da gordura?

O estudo revelou que o IMC é um preditor significativo, mas mais fraco, da idade cardiovascular do que as características da gordura corporal. Isso sugere que a composição corporal geral, conforme medida pelo IMC, é menos informativa para prever o envelhecimento cardiovascular do que a distribuição específica da gordura. Além disso, o IMC demonstrou um viés de sexo, super-representando mulheres com massa gorda normal como “sobrepeso” e, inversamente, homens. Essas observações destacam as limitações do IMC como uma medida agregada e enfatizam o potencial da análise da composição corporal baseada em ressonância magnética para uma previsão de risco clínico mais personalizada.

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense      

Foto:  Reprodução – Bruno/Germany por Pixabay

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