O projeto de concessão dos serviços de apoio à visitação na Floresta Nacional de Brasília (Flona) encerrou sua consulta pública no último dia 11. Segundo a assessoria da Flona, as contribuições da sociedade estão em fase de análise e serão divulgadas conforme o cronograma. A proposta de concessão do espaço para a iniciativa privada prevê cobrança inicial de R$ 10 para a entrada na Floresta. Atualmente, a entrada é gratuita.
Frequentadores que utilizam a Flona reagiram à cobrança, como o comerciante e ciclista Cléber Pereira, 46 anos, que mora na Arniqueira. Ele estava andando de bicicleta com os amigos e contou que usa o parque todos dias. Por isso, não gostou de uma possível concessão. “Eu uso aqui diariamente e acho desnecessário cobrar para utilizar uma área pública. A galera do ciclismo cuida do ambiente, então acho ruim algo público ser privatizado”, disse.
Soraya José Costa, 46, moradora de Águas Lindas (GO), é auxiliar de serviços gerais do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres e disse que a Floresta é um lugar aberto para as pessoas acessarem a natureza, e, com a possível cobrança de entrada, muitas pessoas podem deixar de frequentar. “O pessoal vem passear, mas, e quem não tiver como entrar ou não tiver como pagar? Não é legal para a população que não tem poder aquisitivo”, ressaltou.
Mas, há aqueles que apoiam a nova iniciativa, como o engenheiro Pedro Mendonça, 36, morador do Guará. Ele passeava com a esposa e a filha pela Flona, e é um usuário frequente, fazendo trilhas e caminhadas. Pedro se disse a favor da privatização do espaço, pois acredita que a concessão para a iniciativa privada pode melhorar a segurança e a infraestrutura do lugar. “Acho que as coisas andam um pouco melhor com a privatização. Ter uma ronda de segurança aqui seria interessante para aqueles que frequentam”, disse. O engenheiro contou que teve momento em que ficou preocupado com sua própria segurança dentro da Flona. “Às vezes, eu passo por pessoas estranhas e fico um pouco apreensivo. Aqui vem muita gente com bicicleta que custa milhares de reais. Então, com certeza, elas são alvo fácil de ladrões em emboscadas”, acrescentou.
Alan Paulo, 28, autônomo que mora em Ceilândia, é outro que acredita nas vantagens da concessão. Ele costuma frequentar a Floresta Nacional regularmente e acredita que a iniciativa pode trazer vantagens para o espaço, principalmente no que diz respeito aos cuidados com o lugar. “A gente vê que tem muitas coisas que ficam por fazer aqui. Nas partes mais isoladas, eu vejo lixo com frequência; quando cai árvore no meio das vias, demora para o pessoal da manutenção tirar. Eu acho que a privatização talvez venha para resolver esses problemas que percebemos”, afirmou.
Doutor em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), Christian Della afirmou que a Flona é uma categoria prevista na lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). “Ela existe para a exploração do recurso florestal, com finalidade comercial relacionada à madeira”, explicou. De acordo com o especialista, a concessão é uma boa alternativa para o espaço, uma vez que a iniciativa pode proporcionar conservação e preservação da área. “Os órgãos ambientais, de forma geral, não têm gente suficiente para cuidar dessas áreas. Todo ano pega fogo ou tem invasões das unidades de conservação. Tendo uma iniciativa privada, a gestão tende a ser mais eficiente”, afirmou.
Além disso, Christian chamou atenção para os cuidados que uma empresa privada deve ter, como a fiscalização rigorosa, bem como a ampla participação social. “O contrato tem que ser muito bem fiscalizado e precisa ter participação da sociedade, ela não pode ficar simplesmente fora. Inclusive, a gestão pode arrecadar valores para que sejam investidos na unidade de conservação”, enfatizou.
*Estagiários sob a supervisão de José Carlos Vieira
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Leonardo Rodrigues/CB/DA Press