Moradores , frequentadores e comerciantes de Taguatinga reclamam que a área central da região administrativa enfrenta um aparente crescimento da quantidade de pessoas em situação de rua. Esse aumento os preocupa porque, segundo eles, os faz conviver, diariamente, com a sensação de insegurança. O Correio esteve nesse ponto do Distrito Federal e ouviu relatos de problemas e pedidos de providências. Autoridades afirmam que têm agido e que o respeito à ordem está mantido.
Dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apontam que o DF tinha, no final do ano passado, cerca de 8.621 homens e mulheres integrando esse grupo com dificuldades financeiras. No caso específico de Taguatinga, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social do DF (Sedes), há 173 indivíduos com esse perfil.
Com 68 anos de idade e há mais de quatro décadas trabalhando como taxista, Modesto do Carmo de Assis relata que a situação tem piorado, com assaltos até em plena luz do dia. “A insegurança é total. Roubaram meu celular enquanto eu cochilava no carro, aqui no ponto de táxi, depois do almoço. Nunca vi tantos comércios fecharem como agora. Os comerciantes têm medo de assaltos”, desabafa.
Viviane Monteiro, 47, proprietária de uma clínica de estética em Taguatinga Norte, conta que os lojistas vivem em constante preocupação. “Estamos inseguros devido à falta de policiamento e à presença de moradores de rua dormindo na porta dos estabelecimentos. Ficamos 24 horas com o celular ligado, monitorando câmeras (de vigilância) a noite inteira, com medo de invasões”, relata.
Providências
Divergindo das reclamações, a Administração Regional de Taguatinga afirma que mantém fiscalização constante com apoio das forças de segurança. E ressalta a instalação de sistemas de vídeo no centro da cidade para fortalecer a proteção dos cidadãos.
Sobre a população em situação de rua, o órgão informa que atua em conjunto à Sedes. E que, nos últimos meses, operações de acolhimento foram realizadas, em parceria com demais entidades do GDF para favorecer aos mais necessitados.
Por sua vez, a secretaria reconhece o aumento desse segmento desfavorecido da sociedade e esclarece que, entre outras medidas, faz o atendimento e encaminhamento desses indivíduos para projetos sociais, voltados, especialmente, para qualificação profissional, saúde e habitação.
Expectativa e realidade
O Túnel Rei Pelé, inaugurado em 2023, foi anunciado como uma obra que, entre outros benefícios, contribuiria para revitalizar o espaço urbano local. No entanto, muitos frequentadores da região afirmam que as mudanças ainda não foram sentidas e que o sentimento com a falta de proteção se agravou.
Nascido e criado em Taguatinga, Ricardo Castro, 30, que atua como líder comunitário, ressalta que esperava-se que fosse ocorrer uma renovação daquela área, após a obra. Mas, em sua opinião, isso não aconteceu. “Ninguém quer prejudicar os moradores de rua, mas a presença deles aumenta a sensação de insegurança, principalmente à noite. O problema é a falta de acolhimento. Essas pessoas não deveriam estar na rua, mas em abrigos, longe de áreas residenciais. Eu e outros estamos lutando para que o albergue Centro POP seja realocado para outro ponto. O comércio está sendo afetado, e isso prejudica a economia”, afirma.
Um comerciante, que há mais de 15 anos tem um estabelecimento no centro de Taguatinga e que pediu não ser identificado por medo de represálias, disse ao Correio: “Nunca vi a situação tão ruim quanto agora, depois da inauguração do túnel. Há muitos usuários de drogas, assaltos constantes, lojas sendo roubadas quase todos os dias. A sensação é de abandono. Os clientes estão sumindo, têm medo de vir até aqui, onde está minha loja, e isso está prejudicando os negócios”.
José Rodrigues Silva, 65 anos, motorista de ônibus há 44 anos e que, por vários períodos do dia, passa com seu veículo pelo boulevard sobre o túnel, conta que não são raros os momento de tensão naquela área: “Esta semana, um morador de rua tentou se jogar na frente do ônibus. Consegui desviar, mas por pouco não o atingi”.
Temor constante
Eliene Gomes Vieira da Silva, 54, diz que sempre vai ao centro de Taguatinga com o marido, Antônio Donizete, 68, para resolver burocracias, e que sempre redobra a atenção, por medo, quando está por lá. “Minha filha foi assaltada aqui. Um morador de rua colocou uma faca no pescoço dela quando ela desceu do ônibus. Roubaram o celular dela e a machucaram. Fizemos boletim de ocorrência, mas só recuperamos o telefone porque estava no seguro. Aqui, é muito perigoso, andamos sempre com medo”, relata.
A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) afirma que realiza patrulhamento contínuo na região. Para isso, destina policiais a pé, assim com em carros e motos da corporação. Esses militares agem, principalmente, de acordo com a corporação, nos horários de maior movimentação comercial. Também há reforço de militares inscritos no Serviço Voluntário Gratificado.
A Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) afirma que promove ações integradas para garantir a proteção da população, assim como a preservação dos direitos das pessoas em situação de rua. Ainda de acordo com a pasta, a PMDF intensifica as rondas nos Centros POP e a secretaria investe na capacitação das forças de segurança, com a aquisição equipamentos modernos e a adoção de tecnologias para aprimorar o combate à criminalidade. Relatórios semanais também são preparados para identificar áreas de maior incidência criminal, permitindo um policiamento mais estratégico, segundo o órgão.
A SSP-DF acrescenta que mantém o programa “Segurança Integral”, que incentiva a participação da sociedade na segurança pública. Nesse sentido, incentiva-se a criação e participação da comunidade nos Conselhos Comunitários de Segurança que, de de acordo com a secretaria, aproximar governo e população, garantindo políticas públicas eficazes para um eficiente combate à delinquência.
Por Mariana Saraiva do Correio Braziliense
Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press / Reprodução Correio Braziliense