BRASÍLIA – A um ano das eleições de 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou que será candidato a um quarto mandato, aos 80 anos de idade. Esta deverá ser a sétima candidatura do petista ao Palácio do Planalto.
Desde que despontou como principal líder da esquerda brasileira, nas eleições de 1989, Lula jamais deixou esse posto, nem mesmo durante o governo Dilma Rousseff (2011-2016) ou enquanto esteve preso e inelegível, durante o pleito de 2018.
Especialistas apontam uma “dependência” da esquerda da figura do atual presidente, visto por apoiadores como uma espécie de “mito fundador da esquerda moderna no Brasil”, avalia Rócio Barreto, analista de risco político.
“Todos os partidos de esquerda falharam na construção de lideranças e continuam a falhar. Sem Lula, a esquerda continua órfã de um articulador capaz de unir suas alas internas e dialogar com o centro, o que Lula tem uma certa facilidade”, diz Barreto.
Para o professor de ciência política da Universidade de Brasília (UNB), Ricardo Caldas, é difícil disputar com um “caso de sucesso” como Lula. Segundo ele, desde que o PT ascendeu ao poder, em 2003, houve um desinteresse em formar novas lideranças.
“O PT nunca teve interesse nisso. A cúpula do partido hoje não é diferente do que era há 20 anos. São as mesmas pessoas, o mesmo grupo político, com as mesmas interlocuções. […] Como você tem esse sucesso, dificilmente vai ter alguém dentro do partido dizendo que precisa mudar”.
Além disso, mesmo com quadros de alguma relevância nacional na esquerda, como Ciro Gomes, nenhum soube aglutinar como Lula. Mas Ciro, que acabou de se transferir do PDT para o PSDB, pode trazer um novo fator caso decida ser candidato ao Planalto pela quinta vez, na visão de Caldas.
“Ele está vindo com um discurso bem conservador e ao mesmo tempo, esteve ao lado de Lula em alguns momentos. Então virá como um candidato à direita, mas com experiência de esquerda”.
Impasse na direita
Ao contrário da esquerda, o campo da direita vive um cenário fragmentado, com os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); do Paraná, Ratinho Júnior (PSD); de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); e de Goiás, Ronaldo Caiado (União).
Por ter inicialmente uma maior projeção nacional, Tarcísio é apontado como um candidato “natural” à presidência, apesar de ainda não admitir publicamente que pretende concorrer.
“O problema dos outros é a falta de visibilidade nacional. Não que seja impossível conseguirem, mas o trabalho é maior, porque não são nomes nacionais. Tarcísio tem a vantagem de que não precisa se apresentar ao eleitorado, por ser de São Paulo. É quase um candidato automático”, comenta Caldas.
Há, ainda, os nomes do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). Eduardo, que já discutiu publicamente com Tarcísio, vem frisando que, com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro, tem planos de concorrer ao Planalto. Especialistas avaliam que esse fator desagrada boa parte da oposição e pode fortalecer a reeleição de Lula.
“A posição do Eduardo é de que tem que ser um Bolsonaro a liderar a chapa no ano que vem. Se você coloca isso como condição, já vai para a negociação com uma mão comprometida. […] Quanto mais tempo demorar para sair o candidato, menos vai ter para fazer campanha. Você empaca as negociações”, conclui.
O cientista político pelo Insper, Carlos Melo, aponta que o processo que condenou Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, assim como sua inelegibilidade, “desorganizou” os planos da direita.
“Falta uma liderança que dê coesão para a direita, uma liderança acima dos interesses fragmentados individuais. Olha como falta liderança na direita, também. Então, está longe do ideal porque não tem uma liderança aglutinadora”.
Soma-se a isso o momento de alta vivido por Lula nas pesquisas de intenção de voto e de popularidade. Após um primeiro semestre gerindo crises, o presidente conseguiu, em outubro, que sua aprovação voltasse a empatar com a desaprovação.
“O Lula tem melhorado nas pesquisas exatamente devido a não ter essa unidade de um nome [na direita]. Isso tem atrapalhado bastante e ajudado o Lula a crescer. Essa fragmentação do campo oposicionista favorece o Lula de todos os modos, porque ele já entra com uma base consolidada e um palanque nacional”, diz Rócio Barreto.
Por Revista Plano B
Fonte O Tempo
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil