Quando a advogada e ultramaratonista Stephanie Case se inscreveu para uma corrida de 100 quilômetros pelas montanhas do País de Gales, vencer não era seu objetivo principal.
Seis meses após o parto e ainda amamentando a filha Pepper, sua meta era apenas completar o Ultra-Trail Snowdonia, no Parque Nacional Eryri, e garantir que sua bebê fosse alimentada. Com autorização especial dos organizadores, Case pôde parar em ponto extra da prova para amamentar.
A surpresa veio no fim: mesmo com três paradas para alimentar Pepper — todas incluídas no tempo total —, ela foi a vencedora da categoria feminina. Como havia ficado três anos sem competir, largou na terceira onda da prova, atrás das corredoras de elite.
“Foi um choque enorme. Nem imaginava que isso pudesse acontecer”, disse à CNN Esportes.
Amamentando durante a prova
As fotos dela amamentando durante a corrida viralizaram, e a repercussão foi intensa. Segundo Case, a história mostra que “a vida não para quando você se torna mãe” e que mulheres devem se sentir livres para buscar o que as completa, sem culpa.
“Todas nós sentimos a culpa materna, mas é importante entender que está tudo bem priorizar o que nos faz sentir inteiras, porque isso nos torna melhores mães”, disse. “Há partes da nossa identidade que não se perdem.”
Case, que completa 43 anos este mês, começou a correr ultramaratonas há quase duas décadas, após terminar sua primeira maratona. Competiu em vários continentes até interromper a carreira para tentar engravidar. Durante o processo, enfrentou vários abortos espontâneos — e dúvidas sobre se o esporte teria alguma relação com isso.
“Correr deixou de ser fonte de alívio e alegria e virou algo difícil para mim”, contou. Seis semanas após o nascimento de Pepper, voltou a treinar. “Foi estranho, parecia que meus órgãos iam cair, mas me senti eu mesma de novo.”
Durante a ultramaratona, além dos pontos oficiais nos km 20 e 80, pediu para parar no km 50. Com autorização, seu parceiro John pôde entregar a filha para a amamentação, mas sem ajudar em nada mais — nem mochila, nem alimentação, nem equipamentos.
“Foi uma logística completamente nova. Pepper já tinha mamado durante treinos, mas nunca em uma corrida”, explicou.
Repercussão após a vitória
Embora tenha recebido muitas mensagens positivas, também enfrentou comentários machistas: “Diziam que eu devia estar em casa, que não passava tempo com minha filha, críticas sobre minha aparência e idade.”
Case também relatou que outras mães a procuraram preocupadas com a ideia de que seu exemplo criaria um padrão inalcançável. “Muitas estão exaustas e tentando sobreviver ao dia. A sociedade patriarcal nos faz competir umas com as outras, e tudo o que fazemos como mães vira alvo de julgamento”, afirmou.
“Para mim, significa correr 100 km. Para outras, pode ser correr 5 km, entrar em um clube do livro ou fazer algo totalmente diferente. O que importa é a escolha.”
O próximo desafio de Case será o Hardrock 100, nos Estados Unidos — uma prova de 100 milhas (cerca de 160 km) com mais de 10 mil metros de subida acumulada, em julho, no Colorado.
“Mulheres podem fazer tudo isso, se quiserem, se tiverem apoio. Mas a escolha deve ser delas — e tudo bem se decidirem não fazer.”
Por Revista Plano B
Fonte CNN Brasil
Foto: Reprodução/Instagram/@theultrarunnergirl